Capítulo 16: Egito

4.4K 323 61
                                    

O voo até aquele momento estava sendo tranquilo. O céu estava azul e com poucas nuvens. Elena podia ver o Oceano Atlântico lá em baixo. Era sua primeira viagem de avião, que não achava que faria sozinha e ainda mais numa condição tão triste assim. Achava que Leonard estaria com ela. Não esperava que sua mãe fosse viajar de avião um dia, pois ela tem um medo absurdo de altura; uma fobia.

Pensar nele lhe deu um aperto no coração. Ainda sentia saudade do namorado. Esperava que seu celular tocasse a qualquer momento com uma mensagem dele.

Pegou a estátua do bolso, olhou-a por alguns segundos. Pensou nele e fechou os olhos, quando reabriu estava em uma estrada quilométrica entre dois desertos. Leonard estava pilotando uma moto, ele usava uma roupa estranha: um sobretudo cinza exatamente igual aos desenhos que ele fazia nos tempos de colégio – ela sorriu –, que voava com o vento da moto. Presa na cintura ele tinha uma espada – exatamente, uma espada. Por que diabos ele tinha uma espada?

Havia uma garota na garupa. Ela parecia ter a mesma altura dele, tinha os cabelos castanhos bem claros, quase loiros, cortados na altura dos ombros. Seus olhos eram de um tom de verde claro, muito bonitos. Ela sentiu ciúmes. Quem era ela? Por que estava com ele? Por que estava abraçada a ele daquela forma? Teve vontade de morrer, apenas para dar uma surra naquela garota.

A fada que sempre o acompanhava estava fora de vista.

Foi então que ela notou do outro lado da estrada o chacal acinzentado correndo na mesma velocidade da moto e dela, que acompanhava flutuando ao lado direito de Leonard. O chacal olhava diretamente para ela, não se importava com a estrada.

– Anúbis! – Ela gritou. – Eu sei que é você!

Leonard parou a moto de repente. Olhou para os lados desesperadamente, como se a tivesse ouvido.. Será que ele me ouviu mesmo?, pensou. Mas aparentemente não encontrou ninguém.

– O que foi? – A moça na garupa perguntou.

– Eu jurava que... Que... – Ele olhou triste para o chão, decepcionado. – Podia jurar que eu ouvi a voz de E...

– Ouviu quem? – Ela perguntou.

– Ninguém. Vamos.

Anúbis veio andando na direção de Elena, passando na frente de Leonard, que não o notou. Leonard e a moça seguiram viagem, mas nem ela nem Anúbis os seguiram.

– Pode me dizer o que está acontecendo aqui? – Ela disse ao chacal.

Ela sabia que os animais não possuíam expressões faciais complexas, mas podia jurar que o chacal tinha um sorriso sarcástico no rosto. De repente ele saltou nela, com ambas as patas em seus ombros, empurrando-a.

Tudo então se tornou um turbilhão de borrões, como se fossem pinturas abstratas, na cor de areia. De repente as cores dos borrões mudaram para cinza claro, azul escuro e um vermelho escuro. Ela estava de volta ao avião. Pôde jurar que viu o chacal se desfazer em fumaça cinzenta antes da realidade estar completamente reformada.

Abriu os olhos subitamente. Lembrava daquilo como se tivesse sido um sonho, mas ainda assim se lembrava.

O céu lá fora estava escuro. Quanto tempo havia passado? O sinal para que apertassem os cintos estava aceso. O avião estava pousando.

Ela fez check-in num hotel barato próximo ao campus da Universidade de Al-Azhar, onde o professor Collor lecionava. Iria visitá-lo logo pela manhã.

Seu quarto não era lá essas coisas. Uma cama simples no meio dele, forrada com um cobertor vermelho e surrado sob um travesseiro que aparentava ser macio. Num canto havia uma TV analógica pequena, provavelmente a cabo – ela esperava que fosse, pelo menos. Havia um banheiro e um armário embutido.

AfterlifeOnde histórias criam vida. Descubra agora