Capítulo 34: Um Poder que Não Lhe Pertence

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Não importava quantas vezes Elena tentasse usar o feitiço Bán kính o máximo que conseguia fazer era soltar algumas faíscas a uns quinze centímetros de sua mão. Mais uma vez Anúbis teria que lutar sozinho contra o anjo e aquele homem com superpoderes – não conhecia um jeito melhor de explicar as habilidades do homem. Ela sabia que, no mínimo, ele voava.

Antes que Anúbis pudesse fazer qualquer movimento mágico, o homem voador passou rápido pelo barco, agarrando o deus pela cintura e levando-o de volta à praia. Deixando Elena e Nathanael sozinhos.

– Então, eu realmente conheço você. – Ela afirmou.

– Sim. Conheci seu pai. Lamento muito a morte dele.

– Não lamente. Ele era um pai horrível. – Ela soou um pouco fria demais.

– Eu também estive no Colégio algumas vezes. Fui zelador. Estava lá sob o comando do Conselho a fim de guardar a Chave junto com Aaron.

– Aaron Van Helsing? – Ela indagou. – Você conheceu Aaron Van Helsing? – Aaron fora um de seus colegas de classe; era um dos poucos com quem Leonard conversava com mais frequência.

– Sim. – O anjo respondeu de forma simples.

– Sob as ordens de qual Conselho?

– O Conselho de Prata. Eles são a conexão entre Deus e os anjos. Esse mesmo conselho ordenou o banimento do deus da morte Anúbis de volta ao Duat. Além da captura da alma Leonard Ross.

– O que? – Ela vociferou. – O que os anjos querem com Leonard?

– Eu não sei. Isso não foi dito a mim. – Ele respondeu; parecia sincero, ela julgou. – Eu deveria ter retornado ao Paraíso, porém seu poder me intrigou, mas não funcionou alguns minutos atrás. Isso é curioso. De onde veio aquele poder?

– E eu vou lá saber! Foi a primeira vez que fui bem-sucedida em magia.

Esse é o meu poder, filho do Senhor. Esse poder não pertence à garota. Uma voz disse dentro da mente de Elena, e pela cara de Nathanael, também falou na dele.

Nathanael arregalou os olhos, incrédulo. Ninguém, nunca, nunca, conseguira invadir a mente de um anjo. Apenas o Senhor tinha esse poder, e ainda assim Ele pedia permissão ao anjo. Nem mesmo a Morte, que era quase tão poderoso quanto o Criador podia fazer isso. Era impossível.

Mas ainda, a voz estava ali. Falando diretamente na mente do anjo. Era alguém poderoso, muito, muito poderoso e velhíssimo. Só restava apenas uma opção.

Se os livros antigos que contam a história da Primeira Guerra Celestial estiverem certos, aquele só poderia ser o Mal.

****

Sephiroth viu sua refém ser levada pelo homem de mais de dois metros de altura. Ele se sentiu fraco, inútil, impotente. Ele se sentiu humano. O pensamento enjoou-o de uma forma que ele nunca havia sentido antes. Ver sua magia neutralizada tão facilmente. Sim, fora pego de surpresa, mas ele nunca era pego de surpresa. Ele era a surpresa. Ele era aquele que viera para destruir tudo. Era ele.

E um simples lobisomem, uma das criaturas mais impuras e sem sentido da história da humanidade, incapacitou-o facilmente. Ele nem precisou usar magia, apenas ciência. Havia alguns elementos químicos capazes de neutralizar a magia em alguém, pois a própria mágica em si era parte dos genes. Alguns como Sephiroth eram feitos de pura magia, sem magia ele não existiria, outros tinham menos magia nos genes, como os humanos, ou melhor, apenas os humanos e os animais terrestres não dependiam de magia para existir.

O lobisomem carregou Melanie pela porta, Sephiroth levantou devagar e cambaleou até a porta. Do lado de fora havia treze lobisomens, contando com o que a carregava. Uma alcateia inteira contra apenas Sephiroth. Não seria um problema se ele pudesse usar sua magia, mas agora, seria morto em segundos. Não que isso o mataria, afinal, era imortal, no sentido mais completo da palavra. Nada podia matá-lo, nem mesmo a Morte em pessoa. Não era como Andersen, cuja imortalidade dependia da alma de outras pessoas.

– O jogo virou, Sephiroth, agora você tem que me dizer como chegar ao Paraíso sem ser notado. – Melanie gritou; havia um tom óbvio de sarcasmo em sua voz.

– Sangue de dragão.

Melanie arregalou os olhos de surpresa.

– Como você deve saber, sangue é a fonte da vida. Por que acha que os vampiros bebiam sangue para viver? Sangue de dragão é... – Ele se interrompeu e contou nos dedos. – ...o quinto mais poderoso. E os sete sangues mais poderosos são capazes de criar portais entre os mundos. Mas apenas o sangue de dragão torna você imperceptível, pois essa é a característica mais marcante de um dragão.

Sephiroth sentiu um pouco de sua magia voltar, não era o suficiente para enfrentar treze lobisomens, mas era o suficiente para um Vivei tāval, ou Pulo Espacial em Tâmil, uma língua falada no sul da Índia que pode ser usada também em magia, é uma das línguas que estava escrita em seu braço. Usando essa magia ele podia ir desse para o outro de seus esconderijos, mas para isso ele tinha que juntar as mãos e chegar a um círculo de poder que estava desenhado na outra sala.

Então ele correu.

Ele se sentiu tão patético que mal reconheceu a si mesmo. Correr de lobisomens! Criaturas que só sabiam uivar e comer carne! Eles nem mesmo eram criaturas mágicas completas. Eram mestiços nascidos da misericórdia da lua! Pelo menos era assim que a história deles era contada, Sephiroth nunca se importou com eles para saber mais. Eles não eram mais importantes para o Plano.

Quando entrou na outra sala, ouviu os passos de pelo menos dois deles do hall. Ele juntou as duas mãos, fazendo com que surgisse nas costas da mão os símbolos em Tâmil para Vivei tāval, e colocou-as no chão. Ele não precisou dizer o feitiço para que este fizesse efeito.

Sephiroth já não estava mais ali.

****

Isso é impossível, Nathanel pensava, o Mal estava preso para sempre! Estava selado!

Elena olhava o anjo com curiosidade. Ele parecia paralisado pela voz que acabara de ouvir em suas mentes. Ela não. Por alguma razão aquela voz era familiar. Era como se ela ouvisse um velho amigo.

Chega de conversar, a Voz disse. Use meu poder, criança.

Aquele era o momento, ela sabia, para usar magia. A palavra surgiu em sua mente, mas, antes que sua boca dissesse, tudo assumiu um estranho tom de lilás. Ela estranhou no começo, mas aquilo também era familiar. Não precisava olhar, mas sabia que em seu corpo havia palavras de várias línguas diferentes que ele não saberia ler, assim como Anúbis tinha descrito que eles ficaram dias atrás quando cruzaram com os anjos.

Bán kính. – Ela precisou apenas sussurrar.

A descarga elétrica atingiu o anjo, que em poucos segundos estava inconsciente.

Ela olhou para a praia, que estava longe, mas ainda assim ela podia ver. Sua visão estava mais aguçada que o normal, podia ver muito além do alcance de olhos normais. Na praia Anúbis lutava com o homem encapuzado. Sua memória também estava diferente, podia lembrar-se de coisas que nem sabia que sabia, como por exemplo, a palavra egípcia que Anúbis usou para invocar os braços de ossos na outra vez em que lutaram.

Elena disse a palavra e de seus braços nasceram dois braços de ossos. Ela esticou esses braços até a praia. Um deles bateu com força no encapuzado, o outro agarrou Anúbis pelo braço e puxou-o para o barco.

De repente a visão voltou ao normal. E ela se sentiu tão cansada que deitou ali mesmo, naquela madeira podre e musgosa, e dormiu.

Anúbis fitou-a incrédulo,mas carregou-a até um quarto improvisado com sua magia. Jogou o anjo ao mar eseguiu viagem. Ele precisava de respostas tanto quanto Elena, mas as deleviriam apenas quando ele se encontrasse com a Morte. Enquanto isso, ele deveriaajudá-la sem perguntar qualquer coisa.

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