Capítulo 30: A Palavra "Mundo"

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Elena Treagus fitava incrédula o teto da barraca sustentada por ossos e feita com panos que pareciam peles – ela esperava que apenas parecessem. Estava incrédula por que o livro que lhe fora dado por Novaselik, Aquele Que Sabe de Todas as Coisas, não podia ser aberto. Estava magicamente selado, e Anúbis, apesar de ser um deus e magia ser parte dele, não conhecia nenhum feitiço capaz de abri-lo. Agora eles estavam em algum lugar da África Central, Anúbis estava caçando algo para comer – algo que Elena ainda não se acostumara – e ela estava deitada ali apenas pensando em Leonard.

Fazia um tempo que não tentava vê-lo, desde que Anúbis fora liberto. Talvez estivesse com medo, pois agora esse era um poder que vinha dela e não algo que viria de uma estátua; ou, talvez, simplesmente esquecera-se. Muitas coisas estranhas estavam acontecendo ao mesmo tempo. Havia Anúbis – um deus egípcio - o livro selado, Novaselik, aquelas viagens de um país ao outro em menos de um dia, os anjos. Era muita coisa fora do normal ocupando sua mente. Só agora se lembrara da falta que sentia dele.

Fechou os olhos e pensou nele.

Quando reabriu ela estava em um lugar que sempre sonhou em visitar: Roma. Eles estavam comendo uma pizza. A fada, por incrível que pareça, comeu dois pedaços, assim como a garota de cabelos castanhos claros. Leonard, como sempre, comeu meia pizza. Era sempre o que ele costumava comer quando eles compravam pizza em casa. A sensação nostálgica trouxe lágrimas aos seus olhos. Vê-lo feliz como estava deixou-a feliz, mas ao mesmo tempo triste porque suas felicidades não estavam conectadas.

Mas para você, sua felicidade é ele, e para ele, é você. E é isso que vai uni-los de novo. Novaselik disse a ela há alguns dias atrás. Será que o velho sábio podia ver o futuro? Ou será que apenas estava tentando dar esperança a ela? Ela desejou com todas as forças que fosse a primeira opção.

Elena notou que Leonard acompanhava com os olhos o movimento da garçonete, que ela até agora não havia reparado. A garçonete estava de costas para Elena. Ela tinha o cabelo preto preso numa cestinha a fim de evitar que caísse na comida e estava anotando os pedidos das outras mesas.

Elena então soube por que ele não tirava os olhos da garçonete. Ela era hollywoodianamente linda, parecia uma atriz de cinema, mas havia algo a mais. Não era só por isso. Aqueles olhos castanhos brilhantes, o sorriso, o cabelo preto... Então ela lembrou-se. Aquela garota fora a primeira namorada de Leonard. Lana, se não estivesse errada, era seu nome. Mas ela tinha morrido. Agora havia encontrado com ele. Era muita coincidência.

As lágrimas se formaram atrás de seus olhos quando o viu conversando com ela, vendo o sorriso dele. Elena sempre soube que ele nunca deixara de amar Lana, que ela sempre fora parte de seu coração. Ela aceitava esse fato, afinal a outra estava morta e a história dos dois não teve um fim, foi interrompida. Contudo, também sabia que Leonard amava Elena. Agora, depois da morte, os dois se reencontraram e pelos olhos dele, ela soube que todos aqueles sentimentos dele por Lana haviam voltado, mas conhecendo Leonard tão bem quanto ela conhecia sabia que ele ainda não percebera que aquela era a Lana.

Elena pôde adivinhar o que ele estava pensando. Sabia que ele estava pensando que Elena estava com outro, achando que ela estava seguindo em frente. Ele não tinha como saber todas as coisas que estavam acontecendo com ela, e que ela estava tentando trazê-lo de volta. Devia pensar que todas as vezes que ele achou tê-la visto ou ouvido foram apenas alucinações da sua mente. Ela deixou as lágrimas escorrerem em seu rosto.

Voltou à realidade e fitou o teto em um silêncio tão grande que pode ouvir seu próprio coração batendo rápido como as asas de um beija-flor. Ainda sentia as lágrimas correndo, mas de certa forma não o culpava. Ele estava tentando ser feliz, assim como ela.

– Qualquer coisa que ele esteja fazendo lá que esteja te magoando, ele não sabe, pois não se lembra de você. – Anúbis disse da porta da tenda, mas ele estava do lado de fora.

– Ele não se lembra? – Ela perguntou saindo da barraca.

– Pelo que eu sei, não.

Essa nova informação confundiu Elena, Leonard dera alguns sinais de que pôde vê-la ou ouvi-la, ou seja, no mínimo reconhecer seu rosto ou sua voz. Será mesmo que não podia lembrar? Se realmente não podia, então não era sua culpa.

– Temos que sair daqui, o anjo e um homem passaram voando por aqui. – Anúbis afirmou.

Então já estava na forma de chacal.

A noite estava começando e as estrelas estavam surgindo no céu meio laranja e meio azul escuro.

Onde nós temos que ir agora? Elena perguntou em sua mente enquanto cavalgavam para o norte e depois nordeste.

Para onde, anos atrás, vivia o povo de Israel. O deus respondeu.

Por quê?

Lembra quando tentei usar magia para abrir o livro?

Claro.

Lembra-se dos símbolos estranhos que estavam naquela espécie de escudo em volta do livro?

Sim.

Eu reconheci um deles, é a palavra original para "mundo". Bem, o importante não é a palavra em si, mas a língua na qual está escrita.

E que língua é?

A língua da criação, a língua falada por Deus.

****

Sephiroth guiava Melanie Craymer pelo deserto. Ela estava lutando para se manter firme, mas ele pôde perceber pelo suor, olhar e andar dela que ela estava sofrendo bastante com a desidratação e a fome de dias andando pelo deserto. Se não fossem as mágicas usadas para que ela não perdesse água ou nutrientes do corpo numa velocidade normal, ela com certeza estaria morta.

Eles finalmente chegaram ao oásis, um lugar pequeno com duas ou três palmeiras e uma cabana de três cômodos. Era ali que Sephiroth se escondia com mais frequência, onde ele costumava criar seus planos e feitiços.

Sephiroth sentou Melanie numa cadeira num canto da cabana. Deu água e pão para ela, pois sabia que ela não aguentaria muito tempo, e ainda não podia matá-la. Ela se recusou a princípio, mas depois cedeu e consumiu-os.

– Por que não me deixa morrer? – A ruiva perguntou.

– Não sei. Só não quero matá-la ainda. Então, vai me dizer por que quer ir para o Paraíso?

Ela não respondeu.

– Você sabe que posso fazê-la falar de qualquer forma, não é?

– Não, você não pode. Se pudesse, já teria me feito falar. – Ela disse sarcasticamente. – E você não pode me matar, ou me mandar pra outro mundo. Sabe que nada disso pode me parar. Você não consegue descobrir o que fazer comigo. Sabe que sou mais fraca, mas ainda assim não pode me derrotar.

– Você está certa. Ainda não sei como. Por isso te trouxe aqui.

Usandotelecinese, Sephiroth deitou-a em uma mesa de alumínio que acabara de conjurar– para conjurar tal feitiço, algumas palavras em seus braços brilharam. Tiroudo bolso uma pequena faca de lâmina perfeitamente reta e sem ponta, o punho erareto e a proteção também, formando uma cruz.

Notou que Melanie olhava com olhos surpresos para a faca.

– Gosta da minha faca?

– Você teve alguma coisa a ver com os rituais que Aaron sofreu, não teve?

– É claro que tive. Tudo faz parte do plano, menos você. Você é a única que está fora do que planejei. E hoje, vou descobrir o porquê. – Ele respondeu. – Existe muitas formas de fazer uma pessoa falar, não apenas magia. – Usando aquela faca estranha, ele cortou a roupa dela. – Vamos começar?

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