Quinze dias haviam-se passado desde a chegada do seu primo. Dias estes que Thais e John gastaram brincando, estudando, mas, principalmente, contando histórias. Os dois amavam histórias e, como poucas pessoas no mundo, qualquer história que eles ouviam, eles se lembravam. Não se lembravam de exatamente todos os detalhes, mas lembravam-se de boa parte.
Por isso, os livros eram inseparáveis.
Os três, John, Thais e seu pai, esperavam à porta do correio da cidade. As duas crianças estavam ansiosíssimas pelo que estava para chegar. Os dois foram obrigados a esperar do lado de fora, perto do automóvel, enquanto o pai ia lá dentro pegar a encomenda.
– Você não vai mesmo me dizer o que é? – Thais perguntou ao primo.
– Não! – Ele disse em tom brincalhão enquanto limpava os óculos na camisa; sua mãe os havia mandado e eles chegaram ao segundo dia de viagem do menino. – Daqui a pouco você vai saber.
Emburrada, Thais afundou no banco do carro.
– Como você é chato! – Resmungou.
O garoto apenas sorriu em resposta. Naquele segundo que durou o sorriso, o coração dela acelerou. No entanto, ela não sabia o porquê.
– Ai vem ele! – John anunciou.
Thais olhou pela janela para ver seu pai vindo em direção ao carro sendo seguido por dois funcionários do correio carregando uma imensa caixa, que parecia extremamente pesada. O conteúdo daquela caixa era totalmente impensável para ela.
O automóvel afundou alguns centímetros em seus eixos quando o pacote foi colocado na mala. A menina estava intrigada.
– Vamos indo então, meus jovens? – O pai disse enquanto sentava no banco do motorista.
– Tio, podemos tomar um sorvete?
– Claro! Eu mesmo estava querendo um.
– Você está fazendo isso só para demorar mais para eu ver o pacote, não é?
Mais uma vez o menino sorriu. Thais se controlou para não bater nele.
A menina não conseguia parar de pensar na caixa que acabara de chegar enquanto tomavam o sorvete. John falava sem parar com o pai dela, contando coisas da cidade e como estava gostando da viagem.
– Cof! Cof! – Thais engasgara com o sorvete, tão imersa que estava em sua curiosidade.
– Está bem, filha? – O pai perguntou com um tom de zombaria.
– Estou. Perfeita. – Disse entre tosses enquanto John dava tapas de leve em suas costas.
Com um movimento de braço, ela tirou a mão de John de sobre ela. Estava com raiva dele. Ela então, quase instintivamente, voltou os olhos para o carro. Foi quando reparou na estranha figura parada do outro lado da rua. Um homem alto trajando um terno negro com riscas verticais brancas, com uma camisa preta e gravata também preta. Ele não usava sapatos, deixando pés cadavéricos brancos a mostra. Thais achou-o corajoso, pois, no Texas, o chão sempre estava a mais de quarenta graus célsius, principalmente na cidade. Notou, então, que ele usava óculos escuros. A descrição batia, era o homem que seu primo vira no trem.
Ele levou a mão aos óculos, e com um movimento lento, retirou-os, revelando orbitas vazias. Dois abismos de morte profundos. Thais pulou da cadeira para o colo do pai com um grito. Confusos, os dois procuraram a razão do susto.
– O que foi? – Seu pai perguntou.
– Aquele homem do outro lado da rua! Ele não tem olhos.
– Que homem? Do que está falando?
– Daquele homem! – Ela apontou.
– Não há ninguém ali.
Apenas quando o pai falou, ela se deu conta que não havia ninguém ali.
– Ele estava ali! – Ela afirmou com veemência e olhos cheios de lágrimas, fitando o rosto do pai. – Eu juro que estava!
– Eu acredito, meu amor. Eu acredito. – Ele respondeu fazendo carinho na cabeça dela, murmurando que tudo estava bem.
Naquele dia nenhuma outra palavra foi trocada. Os três voltaram em silêncio para a fazenda. Thais não quis sair do seu quarto ou falar com John, que apenas fazia-lhe companhia silenciosamente.
À noitinha, quando o céu acabara de deixar de ser laranja, ela estava no quarto, fitando o vazio. John estava sentado ao pé da cama, fitando a prima com olhos preocupados. Decidiu então fazer algo. Levantou e andou até a caixa que chegara pelo correio, abriu-a e tirou de lá um livro das centenas que sua mãe mandara de Nova York. Vinte Mil Léguas Submarinas. Sorriu. Júlio Verne era seu escritor favorito. Sem dúvida aquele livro animaria sua prima.
Sentou de novo onde estava, abriu o livro e passou a ler. Ele percebeu que captou a atenção da garota quando estava na página dez.
Thais acordou com o sol já alto no céu. Seu primo ainda estava ao pé de sua cama. Ele estava sentado, meio encurvado para frente sobre o livro que lia antes de acabar dormindo. Ela não lembrava em qual parte ela havia conseguido dormir, muito menos quando ele dormira. Sentiu seu coração confortado, aquecido, ao pensamento de que havia alguém que cuidava dela.
Ela levantou devagar, retirou o livro das mãos dele o mais carinhosa e cuidadosamente possível, pois não queria acordá-lo. Então, com o mesmo amor, deitou-o na sua cama. Saiu do quarto para ocupar um pouco seu dia e tentar esquecer aquele homem horrível, que aparecera em seu pesadelo na noite anterior.
O que ela não sabia naquele momento era que aquele homem apareceria em seus sonhos durante anos e que ele a observava naquele exato momento.
Sua mãe aguardava-a com o café da manhã pronto: torradas, leite, ovos e outras coisas típicas de um café da manhã americano. Thais sentou e comeu, seu pensamento não saia do estranho e de John. Sua mãe notou seu devaneio e perguntou:
– Está tudo bem filha?
– Sim.
– Seu pai me contou sobre o que aconteceu ontem na cidade.
– Eu sei. Foi estranho! Mas eu juro que havia um homem lá!
– Eu acredito em você. Não se preocupe. Agora coma, e descanse. Onde está John?
– Dormindo.
– Ele estava lendo para você a noite, não estava?
– Sim. – Ela sentiu o rosto esquentar; sabia que estava corada.
Elanão disse mais nada enquanto sua mãe fitava-a com um olhar brincalhão, como seela soubesse de algo que estava acontecendo.
***
Hey there, readers!
Mais um capítulo de Afterlife! O plano da Morte, ou pelo menos parte dele, começa a se revelar! Mistérios, mistérios e mistério! Qual o interesse da Morte em John e Thais?
Espero que tenham gostado e até semana que vem!
Boa leitura!
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Afterlife
FantasyPágina oficial: https://www.facebook.com/afterlifesagaoficial/ Curta para não perder as novidades! *** Morte não é fim. De fato, para mim, a morte foi apenas o começo. As circunstâncias nada convencionais do dia em que morri me permitiram chegar a C...