Capítulo 28: Encontro

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Acordei sorrindo mais ou menos pelas quatro da tarde. Acho que não me sentia feliz assim desde que, bem, morri. Por pelo menos um dia desde que toda essa confusão começou eu podia sentir que tudo estava normal, na medida do possível. Eu estava morto, é claro, mas já tinha me acostumado com a ideia. Até mesmo podia dizer que estava vivo. Eu sentia, sim, a falta de Elena, mas do mesmo jeito que ela estava seguindo em frente, eu também deveria pelo menos tentar. Uma nova chance de ser feliz. Eu devia ser a alma mais triste do Paraíso, que deveria ser apenas sobre ser feliz.

Lana. Pensar nela fazia sentir-me... Qual a palavra para isso? Completo? Não, não era exatamente isso, era outra coisa. Era como o calor de uma fogueira em dias frios de inverno, era algo necessário, algo que deveria estar ali. E a falta daquilo estava errado. Por que estou pensando tudo isso de uma garota que eu nem conheço? Mas ainda assim, eu sentia como se deveríamos nos conhecer, e não saber quem ela é estava incorreto. Por quê?

Levantei um pouco relutante e tomei um banho. Vesti um par de calças jeans novas que pegara numa loja de frente ao hotel, uma camiseta azul. Eu não sabia se levava minha espada e casaco, mas decidi que era melhor não. Estávamos em uma cidade imensa cercada e protegida por centenas de anjos, estávamos seguros.

Enquanto descia, passei por Thais, que não cruzou olhares comigo de raiva. O que tem de errado com essa garota? Dei de ombros e saí em direção à estação rodoviária, onde o trem em que viemos estava estacionado. Eu queria pegar minha moto para impressionar a garota. Týr estava comigo, pois mesmo que eu não quisesse, ela tinha que ficar perto de mim devido à magia que nos ligava.

Subimos no único vagão sem dificuldade, a moto estava entre as fileiras de bancos. Nós preferimos não pegar nenhum vagão de carga para diminuir o peso, e como não utilizaríamos mais de três bancos, colocamos o que levaríamos no próprio vagão.

Usando a magia de Týr, a moto foi colocada na plataforma. Dali, guiei-a desligada até a rua. O tanque estava um pouco mais pela metade, então resolvi não abastecer. Acelerei em direção ao restaurante, onde cheguei quase meia hora adiantado.

Eu não notei as quatro almas de olhos negros e laranja me observando fora do meu campo de visão.

O sino de uma igreja próxima – naquela cidade havia milhares delas – soou indicando seis horas, meu coração foi até a lua, e resolveu ficar por lá mesmo. Então os minutos começaram a passar devagar. O relógio bateu seis e dez, depois seis e quinze. Ela não saia. Ela havia mentido para mim, não saía as seis. Contudo, as pessoas não mentem no Paraíso. Então porque ela não saía? Seis e vinte. Seis e meia. Ela me deu o bolo, eu sabia. Nunca que alguém como ela se interessaria por alguém como eu. Subi na moto e dei partida no motor.

– Aonde você vai sem mim? – Ouvi sua voz de mel vindo da porta.

Virei imediatamente em sua direção, quase que desengonçadamente. Meu coração voltou tão rápido para o meu peito, que quase fui jogado para trás. Ela estava muito mais linda e eu achando que isso era impossível. Ela estava com os cabelos soltos, que caiam ondulados até o meio das costas. Ela usava uma maquiagem que destacava absurdamente seus olhos e lábios. Lana não estava usando uma roupa fora do comum, usava uma calça jeans e uma camiseta baby-look preta com a capa do último CD do Oficina G3. Banda essa que eu conhecia apenas por que um dos meus amigos na Terra adorava e sempre estava ouvindo suas músicas.

– Achei que você tinha se esquecido de mim. – Respondi meio constrangido.

– Não esqueci não, gatinho, só estava me arrumando aqui. Afinal, não se pode ir de qualquer jeito para um encontro, né? – Ela sorriu – Espere um pouquinho, já estou quase acabando.

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