Elena via e sentia seu corpo andar normalmente, como se ela o controlasse, mas seus movimentos não eram voluntários. O professor Collor a estava dominando. Ela estava presa dentro de sua própria mente, dentro de uma gaiola, vendo tudo em terceira pessoa, mas ao mesmo tempo em primeira pessoa. Era ela, mas não era ela. Parecia com ela, andava como ela, falava como ela, mas não era ela.
Benedict Collor, o professor que possuía as respostas que ela precisava sobre a estátua de Anúbis, andava ao seu lado. Eles entraram pela porta da frente do prédio, a recepcionista não disse nada, apenas cumprimentou o professor e Elena com a cabeça. Os dois seguiram direto para o elevador, onde entraram sozinhos. Collor apertou o botão de fechar a porta duas vezes seguidas, esperou dois segundos, apertou novamente. Os botões de todos os andares acenderam, ele apertou uma sequência de seis dígitos e o elevador desceu o equivalente a seis andares.
O salão era praticamente uma caverna intocada, um buraco imenso de ar a alguns metros abaixo do chão. No centro havia uma mesa redonda que caberia o corpo de uma pessoa deitada, e em volta havia quinze homens de pé. Todos vestiam túnicas, que iam até o chão, com capuzes.
Um deles tirou o capuz. Era um homem muito jovem, com olhos cor de âmbar.
– Lorde Collor, nós ficamos muito gratos por seu retorno como líd...
– Poupe-me de seu veneno, Baldessin. – Ele disse várias palavras em árabe antigo, provavelmente a língua falada nos tempos de glória do Egito.
Num movimento completamente sincronizado, todos retiraram os capuzes ao mesmo tempo. Elena também fez o movimento. Todos eles estavam presos dentro de suas mentes, como Elena estava, mas ele não podia controlá-los individualmente, ou seja, o que um fazia, o outro fazia. Collor foi até ela e estendeu-lhe a mão, pedindo a estátua, ela colocou a mão no bolso e entregou-a, sem qualquer resistência de sua parte. Todos a imitaram.
Collor, então, desenhou centenas de hieróglifos diferentes na mesa com gizes que trouxe da faculdade. Quando terminou, tirou a roupa, ficando apenas de cuecas. Elena poderia ter ido dormir sem essa visão. Então, deitou na mesa.
– Iniciem o ritual.
Então, as dezesseis pessoas dominadas pela mente dele começaram a recitar um poema em árabe antigo. Até mesmo Elena falou, mas não fazia a mínima ideia do que dizia.
Depois da primeira hora, um deles começou a, literalmente, rachar. Das rachaduras e dos olhos saiu um brilho roxo. Ele urrou, provavelmente de dor. Ele caiu no chão, sem vida. Uma bola roxa, parecida com um cometa, saiu do corpo dele e entrou pela boca de Collor. Elena pode jurar que as rugas do corpo dele diminuíram, ele estava ficando mais novo.
Mais uma hora, e o mesmo aconteceu com outro. Collor agora estava uns vinte anos mais novo, ele estava roubando a vitalidade daquelas pessoas. Elena seria uma das vítimas dele.
Um a um, de hora em hora, eles foram morrendo e caindo até sobrar apenas três e ela. Collor, agora com a aparência de pouco mais de vinte anos, pegou a estátua e colocou-a sobre o coração, então as palavras que eles diziam mudaram, mas dessa vez ela não falava nada, finalmente controlava o próprio corpo. Andou por toda a sala, mas não encontrou a saída. Nem mesmo a porta do elevador estava ali, tudo era apenas pedra bruta.
Collor começou a gritar. Algo estava acontecendo, algo dentro dele. A pele dele escureceu, ficando num tom escuro de cinza, quase preto. Algumas tatuagens em forma de hieróglifos brancas surgiram no ombro, no peito, nas costas e nas coxas.
Ela estava com medo. O que estava acontecendo ali? Sentou no chão e fechou os olhos. Não queria saber, queria estar em casa. Desejou nunca ter ido para o Egito. Desejou estar na sua casa, no seu sofá vendo televisão com Leonard. Queria ouvir sua mãe chamando para almoçar e sua irmãzinha contando-lhe as coisas da escolinha. Implorou para Deus, se é que ele existia, para tudo voltar ao normal.
Ouviu um "crec" e preferiu não olhar, mas sabia que eram os ossos dele quebrando. Pensou em Leonard, pensou que ele estava ali a abraçando. Imaginou o que ele diria, imaginou seu sorriso, seu toque. Como ela queria que ele estivesse ali, ou melhor, como queria estar com ele em qualquer outro lugar menos ali.
Então o som parou completamente.
Silêncio.
Então o som de mar.
Ela abriu os olhos, estava flutuando sobre água e ondas. As ondas quebravam na lateral de um barco a motor de médio porte. Leonard estava caído no chão, a menina loira e um rapaz que ela não conhecia estavam ao lado dele, a fada voava diante do rosto dele.
– Marcella! – Ele gritou e sentou de repente.
Marcella? Quem era Marcella com quem ele estava sonhando?
Os três começaram a falar com ele, perguntando se estava bem. Então o rapaz disse:
– Vai ter que descobrir mais tarde. Nós chegamos.
Onde eles tinham chegado?
Ela piscou involuntariamente, e a realidade desfigurou-se virando um borrão azul e então preto com luzes roxas. Estava de volta a caverna. Como eu fui capaz de vê-lo?, pensou. Não estou com a estátua na mão.
– Esse é meu presente de agradecimento a você. – Ela ouviu uma voz muito grave, rouca e antiga. – Você sabe, por ter-me tirado do Duat. Agora você pode vê-lo quando quiser.
Ali estava ele, Anúbis, o deus egípcio da morte. Estava usando o corpo de Collor, agora muito mais jovem, mas que, ao mesmo tempo, não se parecia com o velho professor. A pele cinza, os músculos definidos, o rosto jovem, porém experiente, mais experiente do que qualquer outro no planeta. Ela levantou e o encarou. Por alguma razão, não estava com medo dele.
– Anúbis.
– Ao seu dispor.
– Agora, você pretende libertar os outros deuses e dominar o mundo?
Ele gargalhou alto.
– Você acha que eu me importo com esse mundo? Ou com os outros deuses?
– Então por que saiu do Duat?
– Por que a Morte em pessoa me ordenou que te ajudasse.
– Me ajudasse? Em que? E por que você recebe ordens da Morte?
–Oras, eu recebo ordens da Morte porque sou um deus da morte. Todos nós, deusesda morte, respondemos a Morte em pessoa. – Ele respondeu como se isso fosse acoisa mais óbvia do mundo. – Ele me mandou ajudar você a ter o que mais quer:seu namorado de volta.
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Afterlife
FantasyPágina oficial: https://www.facebook.com/afterlifesagaoficial/ Curta para não perder as novidades! *** Morte não é fim. De fato, para mim, a morte foi apenas o começo. As circunstâncias nada convencionais do dia em que morri me permitiram chegar a C...