Capítulo 44: Paris, a Cidade da Dor

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– A sua espada pode matar os Filhos? – Thais perguntou ao homem de cabelos castanho-claros enquanto passavam pelo hall da casa.

– Não. – Ele respondeu de forma simples. – Mas qualquer ser, mesmo que imortal, demora a se recuperar quando tem sua cabeça cortada.

Thais confirmou uma vez com a cabeça. Era assim que ele sobrevivera naquele lugar infestado, cortando cabeças. Usando um casacão de inverno – que ela achava que não existiam no Paraíso –, daqueles que são como cobertores que vão sobre toda sua roupa e tem apenas um buraco para , os dois saíram da casa.

A primeira coisa que Thais notou quando saiu foi a Harley Davidson parada em frente ao imóvel. Estranhou. Paris estava um pouco longe da posição deles, será que Leonard tinha ido a pé? Não, pouco provável. Mas como ele pode ter ido?

– Ele levou minha scooter! – David reclamou. – Sabe como é difícil encontrar uma daquelas!? Eu juro que se encontrarmos seu amigo, eu mesmo vou mandá-lo direto ao Éden!

– Cala a boca. – Thais mandou. – Qual é o plano?

– E você está perguntando pra mim? Você que quer salvá-lo.

– Ok. Meu plano é ir a Paris, achá-lo e trazê-lo de volta. Nesse ínterim, cortar quantas cabeças sua espada permitir. – Ela retrucou.

– Deixe os planos para mim. – Ele subiu na moto. – Anda, suba.

Thais subiu sem hesitar e juntos seguiram para Paris.

– Você precisa mesmo salvar seu amigo? – David perguntou, inseguro.

– Sim, preciso.

– Mas por quê?

– Acho que você sabe. – Retrucou.

– Você o ama.

Thais não respondeu, mas era exatamente isso. Havia muitos mistérios nas leis de memória e proteção do Paraíso. Apesar de estar lá há setenta anos, ainda não entendia direito como as coisas funcionavam. Sabia que o amava, afinal o amor é uma das partes mais importante no pós vida. Mas era a primeira vez que amava outra alma, mesmo sabendo que isso era possível, pois as pessoas também se casavam no céu – talvez até mesmo com as mesmas pessoas com quem foram casados em suas vidas na Terra, quem sabe? Mas sabia que Leonard e ela não se conheceram no mundo dos vivos. Era matematicamente impossível. Se ele aparentava ter dezoito anos e estava morto há alguns dias apenas, significava que morrera com dezoito.

– Ele me salvou. – Ela contou, lembrando o dia que o conhecera. – Ele matou dois Filhos que com certeza fariam coisas horríveis comigo.

– Deus não permitiria que uma alma sua sofresse assim.

– Não? – Argumentou. – Se Ele não quer que as almas sofram, por que não desceu do Trono e veio nos ajudar? Olhe ao seu redor. Várias cidades estão dominadas, está nevando, fazendo frio e estamos em Guerra. Este lugar deveria ser perfeito.

Thais percebeu que ele ficou chocado e abalado pelas palavras dela. No Paraíso todos adoravam a Deus e não falavam mal do Rei Supremo. E ali estava ela, dizendo que Ele os havia abandonado. Ela queria apenas saber o porquê do desdém dEle.

– Eu não sei dizer por que Ele não veio nos ajudar. Talvez ainda haja uma esperança. Talvez seu amigo seja essa esperança. Se ele realmente é capaz de matar os Filhos, então ele possui algo que nem mesmo os anjos possuem. – Ele disse cabisbaixo enquanto passavam por sob o Arco do Triunfo.

Thais não gostava da ideia de um Deus que, mesmo sendo a existência mais poderosa do universo, não saía de seu Trono para salvar seu povo. Milhares de anjos já haviam deixado de existir e o menor dano foi causado às almas, que voltavam ao Éden após serem destruídas.

O ponto vermelho brilhante no meio de algumas árvores quase passou despercebido aos olhos dela devido aos devaneios.

– Pare! – Gritou; David assustou-se e quase bateu a moto.

– O que foi, mulher? – Disse, irritado.

– Lá! – Ela apontou.

– O que? Não há nada ali.

Thais desceu e correu até o ponto vermelho.

– Onde você está indo!? Volte aqui! É perigoso! Os Filhos podem... – Ele olhava freneticamente para os lados a procura de olhos laranja.

– Não está vendo o ponto vermelho?

– Não tem nada ali.

– Claro que tem!

Thais ajoelhou-se sem quase parar, sujando a calça na grama com neve e lama. Ali estava uma sacola de plástico em que dentro havia dois objetos que ela conhecia muito bem. O sobretudo de Leonard e a espada.

Ele deve ter percebido que a cidade estava infestada e, antes de ser levado, escondeu a espada e envolveu-a com o casaco para protegê-la do frio. Týr fez um feitiço para que Thais e apenas ela, localiza-se os objetos. Havia um pequeno bilhete dizendo que os feitiços que faziam Leonard lutar tão bem também funcionariam com ela, em outras palavras, era um pedido de socorro.

Thais fitou com tristeza o casaco, mas ao mesmo tempo a raiva em seu coração lhe deu coragem e determinação para levantar e vesti-lo sob o casacão de inverno. Leonard tinha razão, usar um sobretudo realmente lhe dava uma sensação incrível, como se você fosse capaz de fazer qualquer coisa.

Um peso extra no bolso do casaco chamou-lhe a atenção. Tirou de dentro dele uma pequena bolsa de pano amarrada por uma corda. Abriu-a e tirou de lá uma maçã faltando um sétimo de pedaço. Estranhou. Por que ele tinha uma maçã?

– De onde você tirou isso? – David perguntou se aproximando.

– Do casaco. Estava com Leonard.

– Você sabe o que é isso?

– Não... – Ela disse confusa.

– Essa é o Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal, também chamado de Fruto Proibido.

Thaisarregalou os olhos de surpresa. Por que ele tinha algo assim? Não faziasentido; todavia, talvez fizesse. Se ele era capaz de lembrar-se de sua vida naTerra, era por causa daquele Fruto. Então, se ela comesse... Parou de pensar e,antes que David pudesse reagir, abocanhou o equivalente a um sétimo do Fruto.

***

Hey there o/

Mais um capítulo por aqui! Espero que tenham gostado! Agora, as coisas vão ser um pouquinho diferentes, já que estamos tendo um momento de Thais. 

Sexta-feira vou começar uma surpresa para vocês! Espero que gostem *u*

Boa leitura! Até sexta!!

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