Capítulo 36: Golem

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Elena abriu os olhos e não reconheceu o teto sob o qual estava. Não era o teto do barco, ela saberia se fosse, pois não era feito de madeira podre. Estava deitada num banco macio e gelado, feito de couro falso. Estava em movimento. Mas de onde e para onde? Sentou. Estava dentro de uma carruagem puxada por cavalos – uma daquelas antigas que vemos em filmes de época. Anúbis não estava com ela.

A cidade do lado parecia com o Cairo, no Egito, onde conhecera o Professor Collor, que acabou possuído por Anúbis. Onde, também, começara sua aventura.

– Você finalmente acordou! – Anúbis gritou do lado de fora.

Ela olhou pela janela apenas para ver o deus conduzindo a carruagem puxada por dois esqueletos de cavalos.

– Eu não me dei bem com aquelas carruagens de metal sem cavalos, então resolvi ir do mesmo modo como nos locomovíamos no meu tempo.

– Onde estamos?

– Na cidade principal dos hebreus: Jerusalém.

– Há quanto tempo estou dormindo?

– Quase três dias.

– O que? – Ela quase gritou. – Três dias!

– Usar magia egípcia requer uma quantidade acima da média de energia, pois são feitiços para os deuses. Por isso, se um humano pode usar nossa magia significa que, no mínimo, ele descende diretamente de nós, o que nunca aconteceu, ou esta possuído por um de nós, como o Professor Collor aqui. – Anúbis explicou. – Você não ter morrido é um verdadeiro milagre.

– Pra onde estamos indo?

– Para o principal templo de Jerusalém. O sacerdote deve saber tudo sobre os dragões. – A carruagem parou de repente. – Chegamos.

Eles entraram no templo onde não havia nenhuma cadeira. No altar havia algo que parecia um baú de ouro. Na tampa do baú havia dois anjos ajoelhados e com as asas esticadas um para o outro, como se protegendo o conteúdo do baú. Se ela não estava enganada, aquela era uma réplica da Arca da Aliança – a original estava perdida há muito tempo. Havia algumas pessoas ajoelhadas de testa no chão, orando. Clamando com todas as forças ao Deus de Israel.

Elena, incrédula como era, sentiu pena deles.

Anúbis sussurrou uma frase, que ela deduziu ser em hebraico, mas não sabia o que podia significar. Ele repetiu a frase sete vezes.

Um homem saiu de um dos corredores atrás do altar. Ele usava uma túnica longa e colorida que arrastava até o chão. Tinha a barba longa e branca, como a neve, e seus cabelos ondulados eram no mesmo tom. Rugas espalhavam-se por todo seu rosto e mãos – as únicas porções de pele a mostra.

– Quem chama o sacerdote do Senhor?

– Eu. – Anúbis respondeu de prontidão. Ninguém levantou a cabeça de suas orações.

– Siga-me. – Eles seguiram o velho pelo corredor lateral. – Como você conhece os métodos antigos? – Ele disse quando estávamos sozinhos.

– Por que eu sou antigo. Não se confunda por minha aparência, pois sou mais velho do que o senhor.

Eles entraram em um escritório. Havia ali uma mesa de madeira nobre com uma cadeira de cada lado. Atrás da cadeira havia uma janela imensa que tinha uma vista linda da cidade. Encostadas nas paredes em volta da mesa havia estantes imensas com incontáveis livros e pergaminhos de aparência antiga.

O velho parou de frente a estante da direita e disse algo em hebraico. A estante afundou na parede e deslocou-se para a direita, revelando uma passagem de pedra escura. Elena estava com um mau pressentimento quanto aquilo. O sacerdote entrou, Anúbis o seguiu e ela não teve outra escolha a não ser acompanhá-los. Assim que pisaram dentro do túnel, dezenas de tochas iluminaram o caminho, que descia vários metros para o subterrâneo.

Eles chegaram a uma biblioteca ainda maior que a anterior. Porém nessa havia apenas estantes com pergaminhos. Na extremidade de cada estante havia uma estátua de homem feita de pedra. Cada uma tinha pelo menos dois metros de altura. Eles lembravam o Coisa do Quarteto Fantástico da Marvel.

– Aqui poderemos conversar com mais tranquilidade. – Disse o velho. – Então, o que buscas, deus? – Anúbis notou o tom sarcástico na voz dele.

Como ele soube?, Elena pensou.

– Nós buscamos os dragões.

– Qual seu interesse nessas criaturas?

– Conhecimento.

– Como vês, estamos dentro do local que possui os conhecimentos mais antigos da humanidade. Então, porque queres chegar aos dragões?

– Precisamos de informações sobre a Sr̥ṣṭi.

– Entendo. – O velho andou pelas estantes e pegou um pergaminho. – Aqui está o conhecimento que buscas, porém não posso dá-lo a uma criatura que não venha do Senhor.

Ele andou até uma das estátuas. Com um movimento de braço, o peito dela se abriu, onde ele depositou o pergaminho, então a abertura fechou. Depois ele disse algo que eles não entenderam. A estátua piscou duas vezes.

Ela estava viva. Olharam em volta. Todas as estátuas estavam se movendo. Elas eram doze no total.

– Golens. – Anúbis disse antes que ela pudesse perguntar. – Foram criados para proteger os Judeus nos tempos antigos. Nós, os deuses do Egito, lutamos com vários deles quando os escravizamos.

– Como nós os matamos?

Anúbisnão respondeu. Elena não achou isso bom.

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