Capítulo 4: Sepultamento

9.7K 723 143
                                    

Ver o caixão com o corpo dele sendo descido para dentro daquele buraco quebrou o coração de Elena mais uma vez. As lágrimas escorriam pelo seu rosto incansavelmente, mas ela prometeu que seria a última vez. Ela sabia que Leonard não gostaria que ela ficasse chorando daquele jeito. Sentiu falta de seu abraço; ele sempre a abraçava forte quando ela chorava. Ela abraçou seu corpo com uma das mãos, tentando controlar a tristeza, em vão.

Sentiu uma mãozinha minúscula segurar sua mão livre. Era a pequena Larissa, sua irmã mais nova, de quatro anos. Elena sorriu tristemente. Sua mãe ficou ao seu lado e colocou uma das mãos sobre seus ombros; sua mãe não era a melhor pessoa para dar apoio ou conselhos, mas ela sempre tentava. Elena estava satisfeita com isso.

Elena ficou surpresa com a quantidade de pessoas que compareceram ao enterro. Leonard era tão quieto e estava sempre na dele, normalmente sozinho, ele não tinha muitos amigos... Ou ela achava que não. Mas todos os alunos que se formaram com eles estavam ali. Scott, Alan, Lucian, Viktor, Sophie... Todos! Até mesmo Aaron Van Helsing e Ashley estavam ali! Murilo, um grande amigo de Leonard que morava em Foz do Iguaçu, comparecera. Além deles, estava toda a família dele, que Elena evitou conhecer por mais de um ano. Agora ela se arrependia daquela decisão. Se tivesse ido a todos os almoços de família que ele a havia convidado, eles teriam passado muito mais tempo juntos. Isso deu mais vontade de chorar. Cada momento que ela podia estar com ele, mas não esteve apenas por que ela não queria pesaram. Arrependimento é um sentimento cruel.

O pastor, um senhor de oitenta e tantos anos, estava dizendo palavras reconfortantes a família. A mãe dele chorava muito. O pai estava com a cara triste e inchada, como se estivesse chorando antes, mas agora ele estava firme consolando sua esposa. As irmãs dele também não paravam de chorar.

Os coveiros começaram a jogar terra sobre o caixão e as pessoas a se dispersarem. Apenas os pais dele, as irmãs, os cunhados e Elena ficaram olhando até que a última pá de terra foi jogada e a terra ajeitada. A lápide foi fincada no chão, nela estava escrito:

Leonard Ross,

amado por muitos, ouvido por poucos

Foi Elena que escolheu a frase, e o fez porque meses antes, ele havia dito aquilo para ela.

– No dia em que eu morrer – ela se lembrava perfeitamente de sua voz, pois estava gravada em sua mente e em seu coração -, quero que esteja escrito na minha lápide: "Leonard Ross, amado por muitos, ouvido por poucos." Vai ser minha última piada. – Ele disse, enquanto estavam deitados observando as estrelas do teto da casa dele.

– Amor, nós dois sabemos que você não tem muitos amigos nem é muito bom com piadas. – Elena zombou.

– Você que pensa. Tenho muitos amigos, eu só não sou tão chegado com eles o quanto você é com os seus.

– Claro. No seu enterro vai ter só sua família. E olhe lá.

– E você? – Ele estranhou.

– Até lá não vou mais estar com você. – Ela falou de modo a deixar duvidosa suas intenções.

– Nossa.

Elena estava sempre fazendo esse tipo de piada. Piadas sobre deixá-lo ou procurar o príncipe encantado rico, lindo e estudioso que ela sempre sonhara. Eram essas coisas que faziam Leonard duvidar de seu amor por ele. Mal sabia ele que ele era o príncipe encantado dela, tudo bem que ele não era lindo, rico e estudioso; mas tinha o coração mais generoso, era rico em alegria e otimismo... Bem, ele não era estudioso em nenhum aspecto, mas ele não era do tipo que desistia facilmente.

– To brincando, amor. Vamos ficar juntos para sempre.

Ele sorriu. Elena não sabia se ele estava convencido ou não.

– Me promete uma coisa? – Ela disse após alguns minutos de silêncio.

– O que?

– Que vamos envelhecer juntos?

– Sim. Prometo.

– Com dedinho e tudo?

Ela estendeu o dedo mínimo para ele. O mindinho dele abraçou o dela sem que Leonard hesitasse ou parasse para pensar.

– Com dedinho e tudo.

Eles sorriram ao mesmo tempo e se beijaram.

No presente, ela estava sozinha diante da lápide. Ela ajoelhou na terra recém posta, sujando a saia de seu vestido novinho que comprara para a festa de uma amiga. Ela não se importou.

– Parece que você estava certo. Você realmente tem muitos amigos, mas odiei a forma como você me mostrou. Porque tinha que morrer agora? – As lágrimas saíram descontroladamente, ela deixou que rolassem. – Porque você ficou na minha frente? Não era pra você morrer! Deveríamos envelhecer juntos! – Ela começou a chorar incontrolavelmente e a socar a terra com raiva e tristeza. Ela estava inconsolável. – Você prometeu! VOCÊ PROMETEU! – Ela gritou.

Ela chorou por um tempo que pareceu infinito, mas que acabou quando alguém veio apanhá-la.

Enquanto ela andava nos braços de sua mãe até um carro, ela viu que um homem estava parado próximo a porta do carro. Era um velho de pele cinzenta que usava um terno preto com riscas verticais brancas. Elena notou que ele não usava sapatos. Quando falou, ela teve a sensação que vira suas palavras em uma das lápides daquele cemitério.

–Senhora, preciso falar com sua filha por alguns instantes, sim? – O estranhosorriu com malícia.


AfterlifeOnde histórias criam vida. Descubra agora