Capítulo 23: A Cidade de Sibari e a Fé

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Não sei dizer que horas chegamos à Sibari, uma cidade na costa italiana, também não me importava. Estar em terra firme era a melhor coisa que podia me acontecer naquele momento. Apenas pisar na areia macia já desembrulhou meu estômago. Nunca mais eu pegaria um barco na minha vida... ou morte, dependendo do ponto de vista. Enfim, barco para mim só de longe.

George disse que iria seguir viagem pelo mar, queria chegar a Lisboa, onde seus amigos estavam. De barco era o modo mais seguro.

Thais, Týr e eu passamos algumas horas andando de moto em busca de uma estação ferroviária. Tivemos que matar alguns filhos do Abismo, mas nada muito difícil. A luz estava se pondo novamente. Sinceramente não sabia mais há quantos dias estava no Paraíso, perdi totalmente a noção de tempo naquele barco maldito. Precisaríamos de um lugar para pernoitar, pela manhã encontraríamos a ferroviária.

Encontramos uma pousada mais no centro da cidade. A rua era de paralelepípedos e a casa era uma típica casa italiana: pequena e aconchegante. Nós entramos e, para nossa surpresa, uma simpática senhora que não estava possuída nos atendeu.

– Boa noite. – Ela disse com um sorriso. – Posso ajudá-los?

– Boa noite. – Respondi um pouco gaguejando. – Nós queremos um quarto.

– Uma cama de casal para os jovens enamorados?

Senti meu rosto esquentar, sabia que estava vermelho feito um tomate. Levantei as mãos rapidamente diante do corpo balançando para os lados, um sinal desesperado de negação, fiz o mesmo gesto de mexer de um lado para o outro com a cabeça.

– Não! Não, senhora! – Eu estava constrangido. – Não somos namorados! – Dei uma risada tentando descontrair o ambiente.

– Tudo bem, então um quarto com duas camas de solteiro.

– Isso. – Outra risada envergonhada.

A velha senhora pegou uma chave e pediu-nos para segui-la. Enquanto subia, perguntei:

– Por que a senhora não foi possuída?

– Eu não sei. Alguns de nós não fomos, como você e sua namorada.

– Ela não é minha namorada! – Deixei bem claro desta vez. – A senhora devia ir para Roma, lá é seguro.

– Sim, eu sei. Mas não posso partir sem meu marido e ele desapareceu no dia da chuva de fogo.

– Ele provavelmente foi possuído, senhora. Devia ir embora.

– Eu duvido. Aquele velho teimoso não se deixaria ser possuído por nada. – Fiquei em silêncio. – Ele trabalha nas ferrovias, é maquinista. – Acrescentou quando estávamos à porta.

Eu senti pena daquela pobre senhora, que ficaria ali sozinha até que o marido voltasse. Se é que voltaria. Ele devia estar possuído como a maioria das almas do Paraíso.

– Vou tentar encontrar seu marido – eu disse -, mas preciso chegar à estação.

– Amanhã te mostrarei os mapas da cidade, por hora você precisa descansar e comer, pois você parece muito cansado.

– Sim, senhora. A propósito, me chamo Leonard e ela, Thais.

– Muito prazer, pode me chamar de Sara.

Sara deu as costas para nós e desceu. Eu nunca tinha conhecido uma velhinha tão simpática como aquela. Perder o marido naquela situação tão atípica, ainda mais para uma utopia como era o Paraíso devia ser um tremendo choque. Coloquei a chave na fechadura, a porta abriu com um "clank" surdo. O quarto tinha um banheiro, uma televisão pequena e uma cama de casal. A velha enfiara na cabeça que éramos um casal. Pensei em descer e pedir para consertar o erro, mas Thais já estava deitada. Týr saiu do meu bolso. Fechei a porta atrás de mim.

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