Thais abriu os olhos e viu um teto desconhecido, porém familiar. Lembrava-se daquele teto das vezes que acordava durante a febre, quando Leonard lhe deu de comer e tentava diminuir o calor com panos gelados e úmidos. Era a primeira vez em... Quanto tempo fazia? Não sabia. Sabia que fazia um tempo longo que não ficava consciente de verdade. Todas as vezes que Leonard a acordara, mal sabia onde estava – ou melhor, não tinha a menor ideia de onde estava – ou o que fazia. Sabia apenas que tinha que engolir todas as sopas que ele colocava em sua boa – forçada ou não.
Como havia chegado àquele lugar, não podia lembrar-se. A última coisa que se lembrava era de estar contando sua visão sobre sua própria morte a ele. Estavam próximos a uma estrada. Lembrava-se que nevava. Sabia que gostava da neve e do frio, mas não podia dizer o porquê, não se lembrava. Era como se fosse um reflexo de sua vida na Terra. Isso é impossível, ninguém pode ter memórias de suas vidas terrenas, era proibido.
Porém, Leonard tinha. Assim como Abraão e Sara.
O rapaz acreditava que sabia esconder seu segredo, mas Thais não era boba. Ela não insistiu perguntando o que queria saber e apenas esperou que ele se sentisse confortável em contá-la. Porém, estava demorando demais. Ela queria saber tudo sobre ele. Queria saber tudo o que podia. Queria saber por que seu coração acelerava tanto quando estava perto dele.
Sentou na cama. Sentiu-se tonta por um momento. Ficar deitada tanto tempo podia causar isso nas pessoas. Levantou, mas sentiu um pouco de fraqueza e sentou de novo. Chamou por Leonard.
– Eu cuidei de ti durante uma semana e é ao teu namorado que chamas. – Uma voz totalmente nova disse vinda das costas dela.
Ela se virou rapidamente para olhar o rosto de quem falara. Levantou de supetão e sua visão ficou turva. Sentiu um braço abraçá-la e sentá-la na cama.
– Desculpa, não pretendia assustar uma moça tão linda como tu.
Thais não respondeu, apenas fitou o rosto do homem. Ele tinha uma pele morena queimada de sol; os olhos eram azuis como o céu e os cabelos castanhos-claros lindos que caiam até os ombros; ele parecia escovar aqueles cabelos todos os dias de tão bem cuidados que pareciam estar. Ela sentiu vergonha da aparência que devia estar naquele momento.
– Qual seu nome? – Ela perguntou.
– Meu nome é David.
– Onde está Leonard?
– Seu amigo saiu há uma semana mais ou menos indo a Paris.
– Para que?
– Ele acha que há anjos lá. E que os anjos podiam te ajudar. Até agora ele não voltou.
– Preciso ir atrás dele. – Ela disse levantando.
– Não. Não. – David retrucou forçando-a de volta a cama. – Você ainda está fraca e seu amigo já deve estar de volta ao Éden.
– O que quer dizer?
– Paris está infestada de Filhos do Abismo. Até mesmo os anjos desistiram da cidade.
Thais não podia acreditar naquelas palavras. Leonard havia entrado num ninho de Filhos por causa dela, em vão. Ele podia estar sendo torturado ou algo assim. Sua espada devia estar na mão de um inimigo. A esperança fugiu de seu coração.
– E por que ainda está aqui?
– Paris é a cidade do amor. E eu sou um amante. Essa cidade é a minha cidade, nunca abandonaria uma cidade com tantas mulheres bonitas.
– Eu tenho que salvá-lo. – Ela olhou no fundo dos olhos dele, implorando; se o que ela estivesse pensando sobre aquele homem fosse verdade...
– Droga. Eu não consigo dizer não a uma garota bonita. – A teoria de Thais estava certa. – Tome um banho, quando sair terá algumas roupas esperando aqui.
– Como sabe o meu tamanho? – Ela perguntou pouco antes de entrar no banheiro.
– Quer mesmo saber? – Ele disse com um sorriso de don Juan no rosto.
Thais decidiu que não, e trancou a porta atrás de si.
Quando saiu, havia um par de meias, lingeries, calças jeans e uma camisa de manga comprida xadrez. As roupas serviram perfeitamente. Thais não conseguiu conter o sorriso, apesar daquela situação.
David esperava-a sentado em uma poltrona. Ele trajava uma roupa escura e leve – simples calças e camiseta. Porém, o que mais impressionava era a espada ao lado dele escorada ao braço da poltrona. Estava enrolada em algum tipo de pano branco, a lâmina parecia ter uns quinze centímetros de largura e devia ter a mesma altura de Thais. Ela não pôde imaginar como o rapaz podia lutar com uma espada grande e pesada como aquela parecia ser.
– Você pode mesmo carregar essa espada? – Ela perguntou.
– Óbvio que sim.
– E pode lutar com ela?
– A primeira vez que a usei, eu tinha dezesseis anos. E foi cortando uma cabeça.
Thais não conseguiu imaginar quando ele poderia ter cortado uma cabeça com aquela espada no Paraíso.
– Como isso é possível? É a primeira guerra aqui desde a queda de Lúcifer.
– Não usei aqui. Usei quando estava vivo na Terra.
Então os três não eram os únicos que lembravam. Aquele homem, David, podia lembrar. Quantos mais no Paraíso podiam lembrar? E por que a maioria das almas não podia? Qual era a diferença entre eles?
– Você se lembra! – Ela disse, acusadora. – Você se lembra!
– É claro que lembro. Todos nós podemos.
– Nós quem?
– Os Heróis, é claro. – Ele disse como se aquilo fosse a coisa mais óbvia no Paraíso inteiro. – Podemos ir?
Usandoo pano que cobria a espada, ele amarrou-a as costas. Thais o seguiu pela portada frente. Não se sentia cem por cento, porém por Leonard, ela tinha que ir. Etinha que correr.
***
Hey there, heroes
Capítulo QUAAASEEEE atrasado, mas ainda são 23:46 e estou em tempo! Até 00:00 ainda é hoje!
Mas prometo que semana que vem, estará on as 8:00!
Sorry x_x
Espero que tenham gostado do capítulo! Se sim, clica na estrelinha ali em baixo e compartilhem com os amigos! Eles merecem ler uma história assim.
Até semana que vem! *u*
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Afterlife
FantasyPágina oficial: https://www.facebook.com/afterlifesagaoficial/ Curta para não perder as novidades! *** Morte não é fim. De fato, para mim, a morte foi apenas o começo. As circunstâncias nada convencionais do dia em que morri me permitiram chegar a C...