A primeira memória que chegou a Thais foi uma de sua infância. Ela tinha cinco anos apenas. O ano era de 1928 e morava no estado do Texas. Seu pai, um fazendeiro de sucesso, criava gado para abate e plantava vários tipos de vegetais, além de criar porcos, cavalos e galinhas por diversão. Thais, que naquela época ainda carregava o nome Walker, adorava aquela imensa fazenda. Andava a cavalo, brincava com os cachorros, gatos e outros bichos. Ela não tinha muitos amigos, pois sua casa era afastada de qualquer coisa e, como era ensinada em casa por sua mãe, não ia à escola. Sabia ler e escrever, porém tinha um pouco de dificuldade nas matemáticas. Não gostava de números, ao contrário das letras e palavras, que amava de todo seu coração. Naquele verão seu primo de Nova York, John, iria visitá-los e, como de costume, ficaria um mês inteiro.
A fazenda de seu pai ficava ao norte, onde os rios e florestas proporcionam um clima melhor para agricultura e criação de gado, então seu primo sempre chegava de trem na cidade de Dallas. Thais não costumava ir até lá, mal saía da fazenda, mas sempre gostava de ir buscá-lo com o pai. O Ford 1928 que seu pai comprara naquele ano aguentava razoavelmente bem as estradas de terra que ligavam a fazenda a Dallas. Ansiosa e feliz – era a primeira vez que andava de carro –, ela cantarolava no banco traseiro, seu pai dirigindo ainda com certa dificuldade perguntava-a como estavam os estudos e se já sabia ler. Respondia que sim e, para provar, lia algumas linhas de um pequeno caderno com suas anotações que carregava para todos os lugares.
– Isso é muito bom, meu amor! – Seu pai dizia. – Tenho orgulho de você!
– Pai, será que eu posso ser médica? – Ela perguntou.
– Claro que sim. É isso que você quer ser quando crescer?
– Sim! – Ela respondeu com um sorriso. – Eu quero estudar no Canadá.
– No Canadá? Por que no Canadá?
– Por que lá é frio. E tem neve! Eu sempre quis ver neve.
O pai parou, ponderando a ideia da menina, e não respondeu. Ainda estava longe o dia em que sua filha decidiria mesmo se queria ou não ser médica.
Como todas as vezes que ia a cidade, Thais se impressionou com as grandes casas, com as muitas pessoas e carros. Seus olhos brilhavam a cada nova esquina, a cada novo prédio, mas, principalmente, a cada vestido que alguma mulher usava. Sorria e dizia ao pai que quando crescesse queria um vestido como aquele, o pai, como sempre, dizia que sim automaticamente, mal prestando atenção ao que a menina falava.
Chegando à estação, ela desceu correndo do quarto e correu direto para a plataforma, que estava praticamente vazia. Apenas aqueles que esperavam algum parente chegar estavam ali, além é claro dos funcionários da ferrovia.
– Está chegando! – Thais falou entusiasticamente ao pai. – O trem está vindo!
Apesar de o primo ser bem reclamão e não gostar de mato, Thais sempre gostava de suas visitas anuais, afinal, ele era seu melhor amigo.
O trem parou e centenas de pessoas saíram dele e foram de encontro às pessoas na plataforma. Sorrisos e abraços foram trocados em abundância. Thais pulava, olhava de um lado para o outro procurando por seu primo, mas não o encontrou.
– Onde ele está? – Perguntou ao pai.
– Eu não sei, deveria estar aqui. – Ele respondeu.
O trem, aos poucos, foi saindo da plataforma e as pessoas ali se dispersando. A plataforma ficou vazia, com exceção de Thais e seu pai. Sem entender, eles procuraram pelo menino, que poderia estar em algum lugar próximo. Talvez ele desceu, não viu os dois, e foi esperar a entrada da estação.
E foi onde o encontraram.
Ali estava o menino de cabelos castanhos muito claros, quase loiros, e olhos azuis. Ele usava um chapéu coco, camisa e calças curtas sustentadas por suspensórios. Estava de costas para os dois ao lado de uma mala imensa, quase do seu tamanho.
– Não nos viu na plataforma, John? – O pai perguntou, assustando o menino, que se virou rapidamente.
– Tio! Thais! – Ele disse, abraçando os dois. – Não os vi. Eu esqueci meus óculos em Nova York. Minha mãe vai mandá-los pelo correio, por que sem eles sou tão cego quanto um morcego. – Por alguma razão, o modo como ele falava lembrou Thais de um livro que tinha lido.
– Como está sua mãe, minha irmã, pequeno John? – O pai perguntou.
– Muito bem. Ela adora a vida em Nova York. Diz sentir falta do senhor, porém não do Texas. Diz que a vida no campo não é para ela.
O pai sorriu.
– Também sinto a falta dela, mas se está feliz por lá, que fique por lá.
Os três entraram no automóvel e seguiram para a casa, não sem antes parar na sorveteria Denys'. Já era praticamente uma tradição que, quando fossem buscar o primo e levá-lo de volta a estação, passassem no Denys' para tomar um sorvete. Ela sempre tomava o mesmo de chocolate com pedaços de chocolate, seu favorito. John costumava variar. Seu pai nem sempre tomava, mas aquele dia de verão estava quente demais para recusar.
Chegaram a casa a noitinha, o sol há um tempo já havia se posto. Thais levou seu primo até seu quarto, onde um colchão no chão esperava o primo. Apesar dos quartos de hospedes vazios, ele sempre dormia no mesmo quarto que ela, pois ambos sempre contavam histórias antes de dormir, ele sobre a grande cidade de Nova York e ela sobre suas aventuras no Texas – não que histórias sobre ela estudar com a mãe fossem empolgantes, mas era o que ela conhecia e podia contar. John acabava sempre contando mais coisas do que ela.
Eles jantaram, tomaram banho e foram deitar. No escuro, John contava sobre um homem que viajava próximo a ele no trem. O homem vestia um terno preto com riscos brancos, ele parecia ter uns sessenta ou setenta anos. O mais estranho, porém, eram os óculos de sol que usava. Não por ele usar óculos, mas por estar dentro do trem usando-os. Ele mencionou também o fato do homem não usar sapatos mesmo depois de descer do trem em Dallas.
– Estranho, né? – Ele perguntou no final da descrição.
– Muito! – Ela concordou. – Quem será aquele cara?
– Não faço a mínima ideia. Bem, hoje não vamos ficar até tarde conversando por que estou cansado e preciso dormir. – Reclamou.
– Tudo bem, fraquinho. Amanhã a gente conversa.
Ele não respondeu. Já devia estar dormindo. Thais fitou por um tempo, mas sem ver, o lugar onde seu primo estava. Sempre se sentia muito feliz quando ele chegava e ao mesmo tempo triste, pois sabia que dali a um mês ele iria embora e voltaria apenas no ano seguinte. Por isso, sempre na primeira noite em que ele estava lá ela fazia uma promessa: vou aproveitar esses trinta dias que ele estiver aqui o melhor possível!
Comesse pensamento a garota caiu no sono e, naquela noite, sonhou com seu primo etodas as coisas que fariam juntos.
***
Hey there, texans
Mais um capítulo de Afterlife! Uma pequena saga começa agora, na qual irei contar a história de Thais e como ela morreu. Espero que tenham gostado e que gostem no futuro!
E se gostam de Harry Potter, que tal dar uma olhada na minha fanfiction, Auror Potter:
https://www.wattpad.com/story/44616960-auror-potter-e-o-mestre-dos-disfarces
Boa leitura e até semana que vem!
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Afterlife
FantasyPágina oficial: https://www.facebook.com/afterlifesagaoficial/ Curta para não perder as novidades! *** Morte não é fim. De fato, para mim, a morte foi apenas o começo. As circunstâncias nada convencionais do dia em que morri me permitiram chegar a C...