Capítulo 61: Stonehenge

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Eu consegui contar trinta filhos nos esperando na praia, próximo ao píer. Todos eles nos observavam com seus olhos negros e laranjas furiosamente. Pensava no que fazer. Eu não poderia simplesmente atacar como se houvesse apenas um ou dois ali. Foi quando eu vi alguém vindo de trás deles. Era uma mulher trajando um sobretudo preto, exatamente como aquela que Thais tinha visto na Torre Eiffel.

– É ela! – Thais disse.

A mulher saltou, dando uma espécie de chute no ar, girou e quando atingiu o chão com força cada um dos Filhos foi atingido por um raio. Todos caíram inconscientes. Eu não esperei o barco parar e pulei no píer. Corri até a mulher, porém, quando finalmente a atingi, ela levantou uma das mãos em minha direção, como se sinalizando para que eu parasse.

Vindo do nada, um vento muito forte soprou, levantando areia para todos os lados. Fechei os olhos instintivamente, para protegê-los. Quando o vento parou e eu pude abri-los de volta, nem a mulher nem os Filhos desmaiados estavam ali. O que diabos aconteceu?

– Para onde ela foi? – Thais perguntou.

– Eu não sei. Bem, não importa, vamos.

Juntos, tiramos a moto do barco para o píer. Abastecemos com gasolina dos galões que Thais tinha preparado para a viagem. Týr encantou outra mochila, para que, como a primeira que tínhamos perdido, coubesse mais coisas dentro do que seu espaço permitia. Colocamos o quanto de comida que conseguimos. Thais pendurou-a nos ombros e montou na moto atrás de mim.

Aceleramos para Stonehenge, o único templo dedicado a Morte.

Atingimos o misterioso conjunto de pedras quando a luz estava alaranjada. A noite se aproximava. Não encontramos nenhum Filho no caminho, o que era um tanto ilógico já que para qualquer lugar que eu fosse seria perseguido, seja por anjos ou Filhos. Não importa. Com certeza havia uma razão para que eles não se aproximassem daqui.

Montamos acampamento – que basicamente eram sacos de dormir – em volta de uma fogueira que Týr acendeu rapidamente com lenhas que eu havia pegado em uma árvore seca próxima. Deitamos sob as estrelas. Não que eu fosse um astrólogo ou algo assim, mas não eram constelações que eu conhecia. Era como se estivéssemos em outro planeta, mas aquelas estrelas eram tão bonitas quanto as que víamos da Terra. O frio estava insuportável.

Pensei em todas as coisas que aconteceram desde aquele dia em que Elena levou o tiro, quando fiz o pacto com a Morte e entrei no Paraíso. Tanta coisa já havia acontecido que isso parecia ter acontecido há milênios. Pensei em Thais e em como nos conhecemos. Meu coração apertou quando pensei em Lana. Onde será que ela estaria? Será que estava bem? Aquela noite, como nas últimas três de viagem, eu não fechei os olhos. Estava com medo de fechar e, ao abrir, estar de novo em Paris. E se tudo aquilo fosse um sonho? E se em algum momento eu acordasse em um hospital na Terra com Elena ao meu lado? De certa forma, seria bom, por que significaria que eu estava vivo, mas ao mesmo tempo seria ruim por que significaria que Týr e Thais não eram reais, e que Lana estava morta e esquecida para sempre. Merda, pensei, coração estúpido, por que você não se decide logo o que quer?

Thais despertou com a luz subindo no horizonte. Ela estava descansada e eu simplesmente não precisava descansar. Fizemos um café da manhã improvisado e depois socamos tudo de volta na mochila. Caminhamos por uns dez minutos e paramos diante das pedras empilhadas. Perguntei-me como iríamos abrir a porta para o Castelo. Refiz a pergunta em voz alta.

– Isso é comigo. – Týr disse. – Estão prontos?

– Claro. – Respondi.

– Vamos. – Thais confirmou.

A fada voou do meu ombro e parou ainda mais perto das pedras. Esticou as mãos para frente e disse:

Vrata smerti otkroyem po moyemu prikazu.

Uma luz muito branca surgiu diante de nós em um formato retangular. Uma porta. Týr olhou para mim e Thais, e sem hesitar, entramos.

De repente me senti mais leve. Eu estava pisando em um lugar que não parecia ser feito de chão – não que isso tenha algum sentido. Uma fumaça enegrecida era onipresente no ambiente e tinha cheiro de cemitério e morte. Ali não havia estrelas ou lua ou sol ou qualquer tipo de astro no céu preto fosco, a única fonte de luz era uma pequena e bruxuleante tocha no fim de um caminho. Foi para onde seguimos.

Andar ali era diferente de andar na Terra ou no Paraíso, como se houvesse pouca gravidade, devia me sentir como Louis Armstrong ao andar na lua. A tocha estava pendurada ao lado de um portão imenso de algum tipo de metal negro e maciço, impossibilitando de ver como era dentro. Bati com força nele, um barulho imenso tomou nossos ouvidos, e seu eco durou alguns segundos mais. O portão abriu-se sozinho e nós seguimos por ele.

Estávamos em um pátio de um castelo imenso, negro e sombrio. Diversos crânios de humanos, animais e até mesmo insetos ornavam as paredes de pedra. Dava para contar nos dedos o número de tochas que iluminavam ali. Tirando nós três, o pátio estava vazio.

Por que alguém quereria um castelo tão grande se está sempre sozinho?

Paramos diante de uma porta imensa de madeira com imagens desenhadas de mortes – como pessoas sendo enforcadas, queimadas, fuziladas, se afogando e etc. Abri a porta usando uma maçaneta, que era uma caveira. Estávamos entrando num hall imenso, onde eu mal conseguia ver do outro lado.

Havia armaduras, forcas, espadas, lanças, machados, aviões, armas de fogo, bombas, enfim, centenas de objetos que serviam de alguma forma para matar pessoas – em larga ou curta escala. A Morte realmente adorava seu trabalho. Qualquer um que inventasse algo para matar, estava agradando-o.

Uma luz estranhamente preta vinha das janelas imensas com vitrais com desenhos como as da porta, provavelmente os tipos de morte favoritas dele. O chão era feito de pedras brancas e pretas, contrastando com um tapete vinho escuro comprido que ia da porta até o fim do salão, onde um trono feito de ossos estava sozinho.

A Morte não estava ali.

– E agora? – Thais perguntou.

– Eu não sei! Chegamos até aqui, não podemos desistir. – Respondi.

– Eu realmente não imaginava que você conseguiria chegar aqui, Leonard. Realmente você foi minha melhor escolha.

Uma voz familiar veio das minhas costas. Virei-me. Ele estava usando o mesmo terno preto de riscas brancas verticais, camisa preta e gravata preta e calças combinando que usou no dia em que fizemos o pacto. Costumeiramente, não usava sapatos. Eu fitei por alguns segundos as órbitas vazias, que pareciam jogar minha alma em um abismo sem fim.

Eufinalmente havia conseguido chegar pela segunda vez diante da Morte.

***

AI MEU DEUS

O capítulo final de Afterlife!!!! Vou chorar T.T

Depois de tanto tempo publicando, é quase como se eu estivesse dando luz a um filho, só que sem a dor, os médicos, o hospital e o bebê... É mais ou menos assim!

Eu espero que vocês tenham gostado da saga épica-moderna de Leonard Ross, bem e se você leu todos os 61 capítulos, é por que gostou haha

Então, por favor, votem, compartilhem e convidem todos os seus amigos para conhecer essa incrível história de morte!

Aftelife: Season 2 estréia dia 13/01/2016! Não perca!!

Mas, para vocês não ficarem sem ler nada durante essas semanas, o Um Dia Frio preparou uma book-serie curta com a incrivel autora, Camilla Bastos. Hanna e o Diário Secreto começa dia 11/11/2015!! Link: https://www.wattpad.com/story/50904202-hanna-e-o-di%C3%A1rio-secreto

Obrigado a todos e até sexta-feira, com Um Beijo!!

AfterlifeOnde histórias criam vida. Descubra agora