Capítulo 17: Aquele que Está entre o Bem e o Mal

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Nathanael voava desesperadamente para sudoeste. Faltavam poucos quilômetros para a cidade de Anadyr no litoral do mar Bering. A criatura os perseguia, sem tirar aquele sorriso sarcástico do rosto.

Apenas um milagre poderia salvá-los.

No alto do céu, Nathanael viu esse milagre vindo: uma imensa sombra quase cobrindo a luz. Voando rápido na direção deles vinham mais de trinta anjos e arcanjos, liderando-os estava o querubim Rafael. Os dois pararam no ar.

Uns dois ou três arcanjos chocaram-se com a criatura, como os kamikazes faziam durante a Segunda Guerra Mundial contra os navios americanos. Eles caíram rápido em direção a neve lá embaixo. Os outros anjos os seguiram, porém Rafael parou para falar com eles:

– Miguel! – Ele disse. Rafael estava com sua armadura de combate completa, do capacete até as botas, tudo feito de ouro, platina e prata. – Nós cuidaremos dele, vocês devem ir para Nova Jerusalém e avisar o Conselho sobre o que aconteceu aqui.

Os dois concordaram com a cabeça e voaram ainda para sudoeste; para Nova Jerusalém. Eu já te disse uma vez Miguel: sempre há um jeito, a frase veio à mente de Nathanael de repente. Miguel conhecia aquele que invocou os Filhos do Abismo.

– Você o conhecia, não conhecia? Aquele homem que invocou os Filhos? – Nathanael perguntou normalmente, enquanto voavam.

– Sim, aquele homem com olhos de duas cores, seu nome é Sephiroth.

– Como você o conhece?

– Você se lembra de Lilith, não? Conhece sua história?

– Sim, é claro. Quem não conhece Lilith? Ela foi o segundo anjo mais bonito criado.

– Aquele era o filho dela. – Miguel disse, sua voz estava estranha, como se estivesse triste ou nostálgico.

Nathanael arregalou os olhos de surpresa. Ele não conhecia aquela parte da história. Não sabia que Lilith, o segundo anjo mais belo do Paraíso, tivera um filho.

Miguel continuou:

A primeira vez que eu vi a criança, Sephiroth, foi logo depois de seu nascimento. Lilith, após ser expulsa do Paraíso, teve seu corpo transformado em humano, o que acarretou na sua gravidez – pois os anjos em sua plena pureza não ficam grávidos. Quando a criança nasceu ela tinha algo especial. Lilith e o Criador sabiam disso, então Ele me mandou para esconder o bebê e a mãe.

A primeira coisa que notei foram os olhos dele, o direito era azul como o céu sem nuvens num dia lindo de verão, representando o bem, a origem de sua mãe. O outro era preto, como a noite, a escuridão, representando o mal, a origem de seu pai. O sorriso daquele bebê me conquistou de primeira. Nós, os anjos, não somos capazes de ter sentimentos profundos por nada, somos praticamente imortais, se nos apegarmos muito às coisas mundanas ou caímos ou sofremos, portanto, escolhemos não sentir. Mas eu senti um amor muito profundo por ele, como se fosse meu próprio filho.

Os anos se passaram, eu visitava Sephiroth de tempos em tempos. Ele nunca soube de minha origem ou de seus pais. Para ele éramos todos humanos. No seu décimo aniversario, Lilith teve sua primeira visão do futuro, no ano seguinte teve outra, e depois outra. Ao todo foram seis visões. Ela escreveu todas elas em seus diários. Eu não pude ler nenhum deles, pois assim que ela terminava de escrevê-los eles eram selados por uma magia que não pude quebrar. Após sua última visão Lilith morreu.

Sephiroth tinha dezesseis anos. Ele começou a desconfiar de algo sobre nós, sobre ele mesmo. Até que finalmente descobriu tudo. Sobre sua mãe, sobre mim, sobre tudo. Eu nunca descobri como.

– Miguel! – Sephiroth gritou dentro de um templo em uma das tribos de Israel. – Eu sei quem você é! Sei que é um anjo dEle! Apareça!

– O que quer meu jovem? – Eu, forçado a aparecer diante dele, disse ; ele estava claramente abalado.

– Quero minha mãe de volta!

– Eu não posso fazer isso. Ninguém pode. Nem mesmo a Morte pode trazer um anjo de volta a vida. Nós simplesmente deixamos de existir.

– Então me leve com você. Me leve pra o lugar de onde ela veio.

– Eu não posso. Você é diferente de tudo que já vimos. Você não é um anjo, não é um demônio, não é um humano. Não posso levar você para o Paraíso, você não tem uma alma, você não é forte o bastante para entrar para as Legiões.

– E se eu fosse forte o bastante?

– Eu não sei se você pode ficar mais forte. É bem improvável, já que você é filho de um anjo e de um Caído. É bem difícil de conseguir tornar-se mais forte.

– Tem que haver um jeito! Tem que haver! Sempre há um jeito!

– Mas não para isso, Sephiroth. Para isso não tem um jeito.

Eu o abandonei gritando dentro da tenda. Ele estava frustrado e decepcionado comigo, com a vida.

Ele tinha vinte e um anos quando a "transformação" dele estava completa. Ele não envelheceu mais e descobriu a magia. A primeira foi a mágica egípcia, então ele passou para outra e outra. Então, ele desapareceu. Eu nunca mais senti sua presença na Terra, ou em nenhum lugar. Até hoje, depois de mais de quatro mil anos, ele apareceu aqui no Paraíso e está mais forte do que qualquer anjo aqui.

– Certo. – Nathanael disse. – Isso conta quem ele é. Mas não explica qual o objetivo dele. Por que libertaria aquelas criaturas?

– Eu não sei. – Miguel afirmou.

– O que ele quer?

– Eu acho que tem algo a ver com Aquilo Que Está Por Vir.

– Com o que?

–Nathanael, o que eu vou te dizer agora você não deveria saber, mas é preciso. OCriador, através do Conselho, não me deu detalhes, mas algo está por vir. Algomaior do que sua batalha com Lúcifer ou com os acontecimentos dos últimos doisanos. Algo muito, muito maior.   

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