Capítulo 27: Roma

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Uma vez, antes de eu morrer, minha sala no Colégio Católico Padre Andersen foi obrigada a fazer uma apresentação histórica de Roma, desde sua fundação até o fim do Império e a cidade nos dias atuais. Meu grupo e eu fizemos sobre a Roma atual, contudo eu não me lembrava de acidade ser murada. Ainda mais com muros tão altos como esses que cercavam a cidade. Havia também centenas de torres, onde arcanjos faziam guarda.

– Magia dos anjos. – Sara disse notando minha perplexidade com o muro.

– Eles criaram esse muro em apenas alguns dias. É impressionante. – Respondi.

– Eles são, realmente. Estou aqui a mais de três mil anos, mas ainda não me acostumei com todas as coisas que Ele pode fazer através dos servos.

– Ele nunca faz as coisas diretamente, não é?

– Sim, Ele faz. Mas nem sempre o que Ele está fazendo envolve o Paraíso ou a Terra.

– Com o que Ele está sempre tão ocupado?

– Infelizmente, não sei dizer.

Nós entramos em um túnel ao pé do muro, que era guardado por dois arcanjos, um de cada lado. Fomos obrigados a parar três vezes devido aos poderosos portões de ferro que dificultavam a entrada de Filhos na cidade. Estacionamos na primeira estação, onde dois anjos nos aguardavam. Abraão e Sara desceram primeiro, eu estava logo atrás. Assim que os dois colocaram os pés na plataforma, os anjos se curvaram em reverência aos dois, como se fossem rei e rainha. Criaturas tão magníficas, belas e poderosas como anjos se curvando diante da imperfeição humana. Eu simplesmente não podia entender o porquê.

Despedimo-nos do idoso casal.

Decidimos passar o dia na cidade, conhecer o lugar, alguns pontos turísticos e relaxar um pouco; esquecer da guerra que acontecia do lado de fora daqueles muros imensos. Encontramos um restaurante a poucos quarteirões de onde estávamos.

Sentamos em uma mesa na varanda do lado de fora do restaurante e conversamos por um tempo sobre onde estávamos indo, sobre os planos e sobre o que acontecera até aquele momento. Perguntei para Thais a razão dela ainda estar indo conosco naquela viagem bizarra. Ela disse que não sabia, que tudo acontecera muito rápido, e que quando percebeu já estava naquele barco. Entretanto, notei algo estranho no jeito como falou, como se estivesse falando apenas parte da verdade; percebi que ela escondia algo. Resolvi não a pressionar, talvez não fosse algo tão importante assim.

Notei uma garota que andava para lá e para cá com pressa; ela tinha um papel em mãos e um avental amarrado à cintura. Era a garçonete. Até então, aquilo era normal: uma simples garçonete de um restaurante italiano na Itália. A questão era que ela, simplesmente, ao me perguntar qual era o meu pedido, fez meu coração acelerar como ele acelerou a primeira vez que saí em um encontro com Elena, anos atrás. Havia algo a mais. Aquela garota era estranhamente familiar.

Ela olhou diretamente nos meus olhos. Seus olhos eram castanhos como os meus, mas tão intensos que pareciam ler minha alma. O cabelo preto dela estava preso num coque coberto com uma cestinha, para evitar que caísse na comida.

– Eu... Hã... Que... Hã... – As palavras não saiam da minha boca.

– Uma pizza de mozzarella e uma coca grandes, por gentileza. – Thais interveio, pude jurar que senti certo tom de... Ciúmes?

A moça sorriu e saiu. Eu nem ao menos sabia o seu nome. Thais me olhava como se quisesse me matar. Týr ria, mas eu não tinha certeza de que. Era como se elas tivessem um segredo, o qual eu desconhecia. Meia hora mais tarde, quando meu estômago estava praticamente comendo a si mesmo, a pizza chegou acompanhada do refrigerante.

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