Capítulo 15: Fuga

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Eu não me lembrava de ter corrido tanto como naquele dia. Nem vivo nem morto. A cada passo que dava eu sentia olhares laranja me encarando de todas as direções; todos querendo me matar. Dezenas, se não centenas, me perseguiam. Dobrei diversas esquinas tentando despistá-los, em vão. Até que finalmente entrei num beco entre dois prédios, os dois tinham uma saída para o beco. Abri ambas as portas, mas não entrei em nenhuma. Pulei dentro de uma lixeira enorme que havia no fim do beco junto ao muro. Týr, que o tempo todo voava ao meu lado, entrou no meu bolso depois que me escondi.

Ouvi diversos gritos em uma língua que eu não conhecia, e estranhei o fato de não entendê-la, pois todos no Paraíso se entendem falando seus próprios idiomas. Ouvi as duas portas dos prédios baterem, como eu imaginei eles eram espertos o suficiente para checarem os dois prédios, mas não eram para olharem dentro da lixeira.

Týr saiu do meu bolso, e voou para fora da lixeira.

– Há quatro homens ali ainda. Dois guardando cada porta. – Ela sussurrou no meu ouvido.

– Eles não são tão burros assim. Estão contando com o fato de eu sair de um dos prédios, mas ainda assim estão checando dentro deles. Não temos muito tempo. – Sussurrei de volta.

– Como vamos acabar com os quatro sem chamar a atenção dos outros lá dentro?

– Por acaso você não tem uma magia de invisibilidade, tem?

– Eu tenho, porém não tenho mais energia para usar magia. Matar um deles e criar essa espada me esgotaram.

– Merda, então o que faremos? Assim que saírem do prédio vão olhar aqui. Não sei nem como não olharam ainda!

– Vou criar uma distração. Então você corre. – Týr armou o plano.

– Pra onde? – Perguntei, mas ela já tinha voado.

Olhei o mais cautelosamente que consegui. Týr passou voando por eles, e algo me surpreendeu: eles olharam diretamente para ela! Eles podiam vê-la! Ou melhor, ela deixara que eles a vissem.

Por sorte, os quatro a seguiram. Saí da lixeira e corri na mesma direção deles, perseguindo-os enquanto eles perseguiam Týr. Quando estávamos a certa distância dos prédios, eu acelerei o passo; eles ficaram ao alcance da minha espada, ataquei-os sem pena. Cravei a espada no coração – ou pelo menos onde seria o coração – do primeiro, que se desfez na espiral de vagalumes prateados. Eles estarem desarmados foi uma grande vantagem para mim. Matei os outros três com facilidade.

– Entre aqui! – Eu disse para Týr, abrindo o bolso de dentro do casaco do lado oposto ao Fruto.

Novamente, eu corri.

Corri direto para o restaurante, que estava a alguns quarteirões à frente. Felizmente, nenhuma alma a mais nos perseguiu. A maioria das motos não estava mais ali. Havia apenas duas estacionadas. Entrei.

O restaurante estava completamente destruído. Mesas, cadeiras, quadros, vidros, tudo estava jogado numa bagunça tremenda. A maioria estava quebrada. Até mesmo a Harley Davidson que enfeitava o centro do salão estava jogada em um dos cantos.

Ouvi um grito agudo de uma mulher vindo da cozinha. Apertei o punho da espada. Eu odeio qualquer tipo de violência contra uma mulher e com certeza aquele era um grito de terror.

Dois motoqueiros barbudos encurralavam uma moça de no máximo vinte anos num dos cantos da cozinha. Reconheci-a sendo uma das garçonetes do lugar.

– Ei! – Eu disse bem alto para que me escutassem. Funcionou: os dois olharam para mim com seus olhos laranja.

Notei, então, que os olhos dela não estavam como os dos outros dois. Estavam normais, num tom de verde lindo – diga-se de passagem.

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