Quarenta e quatro

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Três dias após o acidente — que eu tomei a liberdade de chamar de tentativa de homicídio —, ainda é difícil acreditar que tudo aquilo aconteceu

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Três dias após o acidente — que eu tomei a liberdade de chamar de tentativa de homicídio —, ainda é difícil acreditar que tudo aquilo aconteceu. Tenho a impressão de que, se eu estiver no meu apartamento, James pode passar pela porta a qualquer momento, afrouxando a gravata e dizendo que sente saudades do tempo em que eu ainda era sua assistente. Eu só… não quero acreditar — simplesmente não consigo. Acho que a ficha ainda não caiu, e ainda rezo para acordar no meio da noite, assustada, e respirar de alívio ao perceber que tudo isso foi apenas um pesadelo horrível. 

Mas não é. 

A imagem de James na UTI é bem clara. Eu nunca o vi tão vulnerável, tão… frágil. E de repente a imagem daquele homem forte, implacável, e até mesmo um pouco arrogante já não existe mais. Sua pele está pálida, os lábios um pouco ressecados e há manchas roxas dos hematomas no rosto e espalhados pelo corpo, além dos cortes e arranhões. Uma faixa na cabeça, um gesso cobrindo toda a perna… 

Os médicos disseram que ele teve muita sorte. Dada as circunstâncias do ocorrido, poderia ter sido muito, muito pior. Mas esse já é o pior para mim, porque não quero vê-lo impotente em uma cama, todo quebrado, inconsciente por causa dos medicamentos. Isso me deixa arrasada. Um dos médicos me disse que ele está progredindo bem, mas eu só vou conseguir ficar tranquila quando ele abrir os olhos e falar comigo. Eu só quero poder dizer a ele que o pesadelo acabou, que podemos voltar para casa e esquecer que tudo isso aconteceu — que, enfim, podemos ser felizes. 

Tenho passado todo o meu tempo no hospital, indo para casa em curtos períodos de tempo apenas para tomar banho e trocar de roupa. Todos vivem me dizendo que preciso descansar, mas eles não entendem a sensação de tentar fechar os olhos e visualizar perfeitamente o corpo de James largado no chão, ensanguentado em meus braços. A lembrança é agonizante. Não consigo dormir, então prefiro estar perto dele, onde sinto que estou em casa. Ouvir as batidas do seu coração me dá a certeza de que ele está bem, de que vamos sair dessa dando a volta por cima. 

É fim de tarde quando a porta do quarto se abre. Não dou importância, porque provavelmente é uma das enfermeiras para encher o saco dizendo que não posso ficar por muito tempo no quarto, mas me surpreendo quando vejo Amaya, mãe do James, andar até mim com dois copos da Starbucks em mãos. Ela parece tão cansada quanto eu. 

— Trouxe isso para você — ela me entrega um dos copos, que eu aceito de bom grado. — Eu não sabia como você gosta do seu café, então optei por um simples com um pouco de leite. 

Aperto os lábios em forma de agradecimento. 

— Está ótimo. Obrigada. 

Ela se senta na última cadeira disponível e observa o filho por um instante. 

— Alguma novidade enquanto estive fora? — quer saber. 

Nego com a cabeça. 

— Não. Nenhuma. 

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