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Eu ouço a voz da Mari, ela parece estar gritando, deve ser coisa da minha cabeça, até porque ela nunca grita. Eu me esforço pra abrir os olhos, e o que eu vejo me surpreende, realmente a Mari está gritando, e é com o Leon, dessa vez parece que o meu irmão é quem está mais calmo. Eu tento ficar no que ela está falando.

– Você fez ela adiar um dos sonhos da vida dela, sem nem perguntar o que realmente ela sente.

Eu espero que eles não estejam falando sobre a minha mudança de pais.

– Eu perguntei.

– Não você não perguntou, você deu uma alternativa pra ela, que fez com que ela respondesse sim, você sabe como ela é, ela diria sim pra você.

– Eu estava desesperado, você queria que eu fizesse o que?

– Não sei, talvez perguntar qual eram os planos dela prós próximos meses, você sabe que ela sempre quis ir morar lá.

Sim é exatamente sobre isso que eles estão falando.

– Eu não sabia que já estava tudo pronto.– o Leon diz, e coloca a cabeça entre as mãos.

– E mesmo que não tivesse, você sempre soube que o sonho dela era ter um filho, você pegou no ponto que é muito importante pra ela, sabia que ela aceitaria.

– Amor chega, você está muito nervosa, daqui a pouco a gente vai acabar acordando ela.– pela primeira vez o meu irmão fala– Vamos lá fora tomar um ar.

Eles dois saem da sala sem nem pensar duas vezes. O Leon enfim levanta a cabeça e olha em minha direção, vendo que eu estou acordada, ele se levanta e vem até mim.

– Desculpa, de verdade, desculpa.– ele fala isso chorando.

Eu estico a minha mão pra ele, que a segura. Eu devia estar com raiva, e estou, mas eu não consigo ver ele chorar. Quando pareceu que ele ia falar alguma coisa o doutor João entrou no quarto.

– Acordou, que bom.– ele diz.

– Então tio, o que aconteceu?, realmente tá tudo bem?– o Leon pergunta desesperado.

– Calma, primeiro sim, agora está tudo bem, dentro do máximo que pode estar.

– A bebê tá bem?– eu enfim consigo falar.

– Sim a bebê está bem, mas vocês podiam ter perdido ela.

– Mas como?– eu questiono.

– Resumidamente, você teve um descolamento da placenta, podem ter várias causas.

– Eu desci a escada correndo, pode ser isso?

– É uma opção, mas não a única.

– Quais seriam as outras?

– Problemas de saúde, mas você não apresenta nada, então não tem como nós afirmamos o que foi.

– E o que nós temos ué fazer agora?– o Leon pergunta.

– Foi bem grande o descolamento, então você vai ter que ficar de repouso absoluto, de preferência a maior parte do tempo deitada, até ela colar de novo, então ficar andando sem razão está proibido, é bom evitar escadas, e tudo que te faça ficar muito tempo de pé, tomar bastante água, e provavelmente vai tomar os medicamentos que já estão sendo aplicados na veia, como você vai ficar aqui por pelo menos mais dois dias, nós vamos ficar monitorando pra ver o que realmente funciona.

– Dois dias, é realmente necessário?– eu digo.

– O seu descolamento foi tão grande, que o recomendado seria fazer uma cesária, mas como o
a bebê é muito pequena não é seguro, com vinte semanas normalmente o feto não sobrevive fora da barriga.

– Meu Deus.– o Leon diz– Mas se tudo ficar bem ela pode ir pra casa?

– Sim, se não tiver mais nenhum sinal de risco, vão poder ir pra casa.– ele olha para o Leon– No caso você pode ir, principalmente pra se trocar.

Quando ele diz isso é que eu resolvo reparar nas roupas do Leon, a calça que era branca está agora com uma mancha de sangue gigante.

– Realmente você deveria ir pra casa.– eu digo.

– Eu não vou pra casa, eu vou ficar aqui, com você.

– Você que sabe.– o doutor diz– Mas pelo menos fala pra alguém trazer roupas pra você.– ele olha para o vidro do quarto que dá a visão pro corredor– Eu já vou indo, depois eu passo aqui de novo. E avisa pra queles dois.– diz e aponta, nos fazendo olhar na mesma direção que ele, ele indica o Valério e a Mari– Que isso é um hospital, e que é pra eles fazerem silêncio.

– Desculpa tio, a culpa foi minha.

Ele acena com a cabeça e sai do quarto, em seguida os dois entram.

– Você tá bem?– meu irmão pergunta.

– Sim, eu tô bem.

– Você não tem noção do susto que deu na gente.– diz a Mari.

– Eu sinto muito.– digo.

– Você não tem realmente culpa, não é mesmo.– o Valério diz se direcionando ao Leon.

– Gente, por favor sem briga.– eu falo.

– Tudo bem, sem briga.– ele fala e me olha, de repente seu olhar muda– Você realmente não ia me contar que esse filho é seu, que eu vou ter um sobrinho.

– Quem falou isso?– eu pergunto.

– Foi eu, foi sem querer.– a Mari fala.

Antes que eu pudesse falar ou pensar alguma coisa a respeito o Leon fala.

– É sobrinha, você vai ter uma sobrinha, é uma menina.

– Como você descobriu?– eu tenho certeza que não falei nada.

– Você falou pro meu tio a bebê, e ele também respondeu a bebê. Você tinha razão desde o começo, é uma menina.

– Você falou com nossos pais?– pergunto, agora olhando para o Valério.

– É claro que não, nos sempre tivemos segredos, e eu imagino que esse vai ser mais um.

– Sim, na realidade era pra ser segredo até de você.

– Que tal agora você me contar a história real.

Antes de contar pro meu irmão tudo, eu consigo convencer o Leon a ir pra casa tomar um banho e buscar roupas, peço para ele também buscar coisas pra mim.

Depois de contar tudo pro Valério, ele está literalmente igual eu, sem saber o que pensar, realmente não tem o que pensar. Eu também perguntei sobre como o Leon ficou sabendo da viagem, e eles me disseram que ele já sabia e que era melhor eu perguntar pra ele. Ele me disse que eu realmente sou louca e que não sabe como eu estou conseguindo lidar com isso. A grande questão é que eu não estou.

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