Mais uma Chance

Leon

Fazem dois anos que eu pedi a Valérie em casamento, fazem dois anos que eu tenho medo que ela fale que não quer mais, fazem dois anos que eu tenho medo de que ela não me ame mais, e também fazem dois anos que eu vivo feliz, com a mulher da minha vida e minhas filhas.

Quando eu tive que escrever os votos de casamento, eu pensei em muitas coisas, até porque existem muitas coisas, mas eu quis falar sobre nós desde o começo, não o começo do nosso namoro, mas o começo da nossa amizade.

Acho que eu me apaixonei por ela quando conheci ela, o que pode parecer sem sentido, até porque éramos crianças. Mas eu juro, que naquele dia meu coração já começou bater diferente por ela, ela não parecia as outras garotas, acho que na nossa turma era a única de cabelo curto, especificamente um corte Chanel, o corte que ela mantém até hoje, ela sempre foi diferente, sempre estava com caderno e lápis desenhando roupas, ela sempre disse que queria ser estilista, e sim ela conseguiu.

Conforme nós fomos crescendo a nossa amizade também, e ela me ajudou nos momentos em que eu nem sabia que precisava de ajuda. Mesmo sem saber realmente o que fazer, ela sempre estava comigo e isso me ajudava.

"A primeira vez que eu tive noção do que é ter medo de perder alguém, foi quando eu tinha dez anos, foi quando eu pensei que eu perderia a Valérie, e sim eu quase perdi, quando eu vi ela sem ar, eu queria de toda forma trocar de lugar com ela, mas isso não era possível, ainda bem que deu tempo de tudo dar certo.

Quando nós tínhamos doze anos, eu pedi ela em namoro, também foi quando nós demos o nosso primeiro beijo. Confesso que eu pedi porque fiquei com medo de perder ela. Por quê eu fiquei com medo? Porque eu acabei ouvindo ela conversar com o irmão dela, e ela falava que estava gostando de alguém e então eu quis namorar ela pra evitar que ela ficasse com outro, mas depois eu descobri que esse alguém era eu. Nós namoramos por quase dois anos, e tivemos nosso primeiro término.

Um ano depois eu pedi ela em namoro de novo, nós tinhamos dezesseis anos, pedi ela no dia do aniversário dela, e foi a primeira vez que fizemos amor. Dessa vez durou até os dezoito anos, mas por alguma razão nos separamos de novo. Mesmo assim, continuamos sendo amigos, e sendo amigos com algumas vantagens se é que vocês me entendem.

Quando nós tínhamos vinte e dois, eu recebi a pior notícia que um filho pode receber. Que a sua mãe vai morrer em pouco tempo, mesmo que eu já soubesse que isso aconteceria rápido. A Valérie foi a única pessoa com quem eu falei, e ela foi a pessoa que fez o que provavelmente mais ninguém faria, eu não preciso dizer que eu amei mais ela por isso.

Durante a gravidez da nossa filha Bia, algo que não estava previsto aconteceu, e as duas tiveram que ser fortes pra que desse tudo certo. Quando a Bia nasceu, eu tive medo, não medo de ser pai, eu me preparei pra isso durante toda a gravidez. Mas medo de perder a Vie, a Valérie teve uma complicação no parto que quase a levou a morte, e se isso tivesse acontecido, eu não sei o que eu teria feito da minha vida.

Pouco depois disso, eu pedi mais uma chance pra Vie, mais um namoro. Mas a minha mãe morreu, e eu acabei me perdendo um pouco por causa disso nós acabamos de novo, por culpa completamente minha. Dessa vez parecia que seria pra sempre. Eu fui um idiota e me afastei dela, e sim, abandonei ela com a nossa filha.

Quando eu me toquei da merda que tinha feito, eu decidi que ia me redimir, poderia demorar, mas eu iria me redimir.

Sim, demorou, demorou bem mais do que eu esperava, pra ser mais de cinco anos que eu senti que eu consegui me redimir por completo, só depois desse tempo todo.

E uma nova vida foi gerada após isso, uma nova vida que eu não tinha noção que existia, que se não tivéssemos feito algo sem pensar não seria nossa. Uma vida que se eu tivesse desistido mesmo de nós dois, nunca seria minha. Nossa segunda bebê.

Sobre as nossas filhas, o que falar. A Bia significa a força, acho que não só a força dela e da mãe dela, mas também a força do amor. A Lia significa portadora de boas notícias, e sim ela é exatamente isso, a boa notícia, a notícia inesperada no momento que deveria chegar.

Eu vou ser sincero e vou confessar que eu estava com medo de algo dar errado de novo, mas eu acho que a quarta chance é a boa, a quarta chance é a certa, pelo menos pra nós.

Eu cortei algumas partes, as partes que só nós dois devemos saber, mas espero que tenha conseguido entender, entender o que eu quero gritar pro mundo inteiro, entender o quanto você é incrível.

Então Vie, minha vida, obrigado por ter me dado mais uma chance, obrigado por ter me perdoado, mesmo que isso ao ver de muitos fosse errado, obrigado por me dar o que eu acho que eu nem mereço, obrigado por me amar e obrigado por ser o amor da minha vida."

Assim que termino o meu discurso olho pra ela, aquele sorriso perfeito está no rosto dela, tem lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela se joga nos meus braços e me abraça forte, óbvio que eu faço o mesmo.

– Eu te amo tanto.– ela fala ainda nos meus braços.

– Eu te amo mais.

Eu a beijo, ela corresponde mas se afasta, eu a encaro e ela sinaliza ao redor. Eu me lembro de que estamos na frente de outras pessoas.

– Você é minha vida.– eu digo e dou um selinho nela.

– E você é a minha.