Mais uma Chance

50

Eu acordo com alguém pulando na cama, alguém especificamente a minha filha.

– Acorda mamãe– ela grita, pulando em cima de mim.

– Que horas são?– eu falo mais pra mim do que pra ela.

– Seis e meia.– ouço a voz do Leon.

Eu olho em direção a ele, ele está na porta do meu quarto com uma caneca na mão.

– Ela me acordou a uns cinco minutos.– ele fala quando a Bia sai do quarto.

– E por que você não mandou ela voltar a dormir?

– Porque ela falou da escola.

– Mas só começa às oito e meia.

– O horário não deveria ser sete.

– Aqui não. A escola dela vai das oito e meia da manhã às quatro e meia da tarde.

– Eu não sabia. E agora?

– Agora a gente espera.

As oito horas a Bia estava pronta, ela está com o uniforme, no cabelo coloquei um laço que combina com a cor do resto da roupa, e como está frio eu coloquei um sobretudo por cima, ela da tchau pra Tiffany e nós saímos.

Chegamos a escola exatamente oito e meia, ela pode chegar até às nove sem problema. O Leon e eu entramos na escola com ela pra levar até a sala. A professora vem falar com a gente e receber ela, antes que eu pudesse me despedir direito da Bia ela já entrou na sala, porque viu o Jean. A gente se despediu da professora e saiu.

– Foi fácil.– o Leon fala quando nós já estamos do lado de fora, ele me olha– Você tá bem?

– Acho que não.– eu respiro fundo– Eu esperei que ela visse tudo e desistisse– ele começou a rir– Não é pra você rir.

– Desculpa V, mas é que vamos combinar, você é a única pessoa que gosta de ficar com a filha o tempo todo.

– Claro que não, tenho certeza que mais gente é assim.

– Eu não conheço ninguém.

– E desde quando você conhece várias pessoas que tem filho.

– Eu não conheço várias, mas conheço algumas.

– Então me dá um exemplo.

– Seu irmão e a Mari, eles colocaram os gêmeos na creche pouco tempo depois que eles fizeram um ano.

Sim é verdade, eles colocaram. Mas desde quando o Leon tem noção disso.

– Como você sabe que eles fizeram isso?

– Eu estava conversando com o seu irmão.

– E você e meu irmão voltaram a conversar?– pergunto surpresa.

– Sim, depois de muita insistência, ele aceito voltar a conversar comigo.

– Vocês não me falaram nada.

– Eu me esqueci.

Nós fomos pro carro, o Leon vai dirigindo. Eu coloco uma música pra tocar.

– Essa música é rápida demais, não dá pra entender direito.– ele reclama.

– E você entende alguma em francês?

– Desde que eu comecei a estudar sim.– eu olho pra ele.

Agora que ele falou que eu noto. Bem que eu achei estranho ele entender o que o médico e o Adrien falaram, mas eu estava tão preocupada com a Bia que nem percebi.

– Você começou a aprender francês?– pergunto sorrindo.

– Comecei.

– Por que?

– Você já viu como a Bia fala, além dela ter sotaque, tem hora que ela fala umas palavras que ela não sabe em português, ela mistura os idiomas.

– Eu sei que ela sabe os dois idiomas, mas eu nunca reparei que ela misturava.– ele me olha.

– Você faz a mesma coisa.– ele diz sorrindo.

– Sério?

– Sim, você mistura os dois, não tudo, mas várias vezes você solta uma palavra quando a gente está conversando.

                                                  🖤🖤🖤

Exatamente às quatro horas nós já estou esperando na porta da escola, as crianças começam a sair, eu começo a procurar ela. Quando a Bia nos vê ela vem correndo. Eu abaixo e abraço ela.

– Como foi o primeiro dia?– pergunto a ela.

– Foi incrível mamãe, eu brinquei, eu comi, eu desenhei.

– Você gostou?– o Leon pergunta.

– Muito.

Nós voltamos pra casa e o caminho inteiro ela foi contando como tinha sido. Quando nós chegamos ela foi direto contar pro Pierre também. Depois ela subiu com o Leon, pra aproveitar o tempo, já que ele vai embora amanhã.

                                                   🖤🖤🖤

No dia seguinte nós levamos a Bia pra escola, ele se despede melhor dela e depois eu vou levar ele até o aeroporto.

Eu entro com ele no aeroporto pra me despedir. Nós ficamos em silêncio olhando um pro outro. Eu o abraço, ele envolve os braços dele na minha cintura. Ele beija meu pescoço me fazendo arrepiar.

– Leon...– falo com a voz ofegante, tentando me concentrar.

– Eu sei.– ele segura o meu rosto com as duas mãos– Me dá um beijo.– pede implorando.

Eu respiro com dificuldade, sim eu quero beijar ele, mesmo sabendo que isso é errado, fazer isso vai contra o que eu acredito ser certo, é como trair o Adrien. Mas eu não afasto ele, eu balanço a cabeça dizendo sim.

Ele avança na minha boca, os lábios dele sugam meu lábio inferior, ele pede passagem com a língua e eu dou, fazendo com que os nossos gostos se misturem, e nossa isso é bom. Eu me afasto, lembrando de onde nós estávamos.

– Tchau Leon.

– Tchau V.

                                                 🖤🖤🖤

Eu volto pra casa me culpando o caminho todo pelo que eu tinha feito, isso é muito errado, o certo seria eu falar pro Adrien. Mas pensando bem, é melhor não falar, ele vai ficar magoado comigo porque eu prometi pra ele que não beijaria mais o Leon. Eu vou pedir conselho pro Pierre.

Quando eu entro na loja eu me deparo justo com a pessoa que eu não queria ver agora. Assim que o Adrien me vê ele vem me dar um selinho. Eu olho para o Pierre que está me olhando de um jeito estranho.

– Onde você estava?– o Adrien me pergunta.

– Fui levar a Bia na escola e depois o Leon no aeroporto.

– Até que enfim ele foi embora.

– Não fala assim.

– Você quer que eu fale como. Que pena que o cara que eu não gosto foi embora.– fala sarcástico.

– Você é fofo com ciúmes, mas tudo tem limite.

Realmente, agora tive certeza, é melhor não contar.