:: Appa

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Depois de sair do shopping, ficamos vagando pelas ruas vazias da cidade, que eram bem iluminadas pelo sol e pelos postes já acesos. Andávamos sem pressa de chegar em nosso próximo destino, e assim que é bom. Nos preocupar com a felicidade de nós dois e de ninguém mais. A gente ria alto de piadas sem graça que fazemos, mas não tem problema, estamos contentes com a presença um do outro, as outras pessoas que se contentem e cuidem de suas vidas, estamos alegres em cuidar apenas da nossa.

Eu e ele sorrimos por  tudo, sorrimos principalmente porque estamos juntos. É inacreditável que essa agora é minha vida, uma vida feliz, sem preocupações, sem problemas. Antigamente, eu pensava que nunca mais iria viver dessa maneira, mas cá estou, com ele e vivendo a melhor vida que poderia imaginar.

Jungwon pegou em minha mão e logo apontou para as estrelas. Me disse cada detalhe de todas as constelações em que seus dedos pousaram. Eu nem prestava atenção nas estrelas, porque ele brilhava muito mais do que qualquer uma delas.

Ele é a única estrela capaz de iluminar a minha vida.

Nossas mãos entrelaçadas, o assunto reconfortante, o garoto perfeito ao meu lado. Está tudo incrivelmente bem.

Estamos na rua de casa, eu estava pronta para o deixar em sua porta

- Porque me olha assim? - O menino perguntou ficando de frente a mim.

- Porque gosto de te admirar. - Sorri sem mostrar os dentes e me virei para frente novamente, mas as mãos finas no garoto agarraram meus ombros, me fazendo olhar novamente para sua face. Ele respirou fundo e limpou a garganta.

- Yari, eu- Eu olhei por cima do seu ombro, e senti meu coração quebrar.

- Pai?! - Falei sussurrando para mim mesma, mas Jungwon ouviu, e aí ele olhou para minha porta, que era onde eu estava olhando.

Minhas pernas enfraqueceram, eu senti como se uma faca tivesse rasgado minha barriga. Eu poderia vomitar a qualquer momento. Ver ele ali me fez passar mal. Todas as lembranças corriam soltas pela minha mente, eu senti vontade de morrer agora. Escutei Jungwon me chamar, mas eu não conseguia responder, eu mal conseguia respirar direito, meus pes estavam presos no chão, por mais que eu queira correr, eu não consigo. Comecei a ficar com dor de cabeça, e a tontura já se fez presente. Minha visão ficou convertida, e tudo estava girando. Eu escutava a voz dele gritando comigo quando era pequena. Segurei minha cabeça em puro desespero, quase arranquei todos os fios do meu couro cabeludo com esse ato. As vozes na minha cabeça não faziam mais sentido. Estava mais e mais tonta. Eu já não sabia mais onde estava, o que meu vizinho falava era como uma língua distante. Eu me concentrei em andar e foi falho, tropecei e caí de joelhos no chão. O local já sangrava, mas não me importei, nenhuma dor física é o suficiente para curar a dor psicológica que estou sentindo.

Seguro minha cabeça com todas as minhas forças tentando fazer essa dor maldita parar. Me encolho no chão, não aguentando mais. Minha cabeça latejava, pulsava! As vozes eram mais altas que os gritos de Jungwon, não escutava nada mais, apenas as malditas vozes. Meus pedidos de socorro saiam mais baixos que um sussurro. O velho me olhou, eu prendi minha respiração com todas as minhas forças. Essa foi a pior cena que já vi na minha vida, ver ele ali me fez querer parar de respirar. Sempre fiz isso quando o via bêbado, nunca quis estar viva para o ver desse jeito. Isso não mudou, ver ele ali com uma garrafa de Soju na mão me deu vontade de morrer, quero que alguém me mate agora mesmo.

Chamei Jungwon com todo o desespero que tinha no meu corpo. As forças que restaram foram usadas em um único sussurro direcionado para o garoto que tenho certeza que me olha assustado. Não sei o que Jungwon fez, não consegui escutar ou ver. Meu corpo todo dói, todo lugar que aquele homem já encostou está doendo ainda mais, tudo ficou embaçado. A tontura apenas piora, não vejo nada claramente, apenas vários vultos de cores. Os hematomas agora pareciam que estavam mais aparentes, não precisou de nenhum toque para Kang Yoo Jung me machucar profundamente.

Eu quero me matar, ver ele me faz pensar coisas absurdas, coisas como eu no chao esanguentada pelos cortes que eu mesma fiz, os cortes que mostram as cicatrizes em meu pulso, coxas, costas. Mas pensando melhor, não neste momento essas coisas não parecem tão absurdas. Eu não consigo pensar direito, meu raciocínio está falho, não sei o que penso. Este sentimento parece que está me matando aos poucos, e mesmo doendo, eu sei que pedi para sofrer assim, pedi várias e várias vezes para nunca mais ver aquele... Homem. Mas eu não queria sofrer agora, queria ser feliz com Jungwon e com minha dinda, minha avó.

Ele sempre dá um jeito de me fazer morrer novamente.

Eu chorava. Minha mente me faz reviver todos aqueles momentos em que ele me torturava, os momentos em que me dizia que eu era inútil, que a culpa era minha. Até hoje eu acredito, e este sentimento apenas confirma que ainda sinto culpa. Odeio demais esse sentimento, mesmo sendo a primeira vez a senti-lo. Parecia muito mais forte do que qualquer coisa que já senti, parecia que uma bala havia perfurado meu coração aqui mesmo, mas eu ainda estou viva para vivenciar a dor.. Nunca senti nada igual.

Vi o mais velho andando de forma drogada em minha direção, eu queria gritar, queria correr, mas eu não conseguia, meus pés estavam plantador no chão.

- Não. Não não não não não - Falei repetidas vezes enquanto dava passos pequenos para trás, eu não sei onde estou indo, mas se for longe dele, eu quero correr para esse lugar.

Era como se meu desespero e pavor se juntassem em uma única sensação.

Mas de uma hora para outra, não sinto mais nada...

𝖣𝗈𝖼𝖾 𝖢𝗋𝖺𝗏𝗂𝗇𝖺 ☆ 𝖸. 𝖩𝗎𝗇𝗀𝗐𝗈𝗇,𝖾𝗇𝗁𝗒𝗉𝖾𝗇 ♡︎Onde histórias criam vida. Descubra agora