Eu estava cansada que nem uma porca prenha.
Mas no ônibus indo pra casa de Gabriel, agradecendo por ser o último do dia.
Ainda não tinha dado seis horas, então tava na fé que iria terminar rápido e que dez horas já estaria deitadinha na minha cama.
Desci, entrando na rua e olhando a numeração, parando em um condomínio de prédios. Ué...
Confirmei que era esse endereço mesmo e me aproximei da portaria, dando ate os dados dos meus ancestrais pra conseguir entrar.
- E aí Mi. - Deu espaço pra eu entrar. - Foi mal não ter te buscado na porta, cheguei atrasadão, tava dando uma geral aqui. Embaçaram muito pra te deixar entrar?
- Um pouco. - Eita como é humilde. - Mas tranquilo. Se mudou, foi?
- Não, moro aqui sozinho. A casa daquele dia é da minha mãe, mas te falar que vivo mais lá do que aqui.
- Aqui é bem mais tua cara mesmo. - Olhei em volta, vendo o apartamento decorado nos tons preto, cinza e madeira.
- Oposto da outra, né? - Eu concordei rindo, vide que a casa que fui era toda clara, decorada com flores e alguns móveis coloridos. - Fica a vontade, viu? Quer uma agua?
- Pô, eu aceito. - Disse, colocando a bolsa na mesa e tirando tudo o que ia usar. Ele voltou com um copo de água, outro de suco e sentamos na cadeira.
- O que rolou com teu pulso? Ta tudo bem? - Se referiu a munhequeira
- Ih, até esqueci de tirar. Mas ta sim, é que dependendo do cabelo que eu faço meu pulso acaba doendo por conta do movimento repetitivo, aí coloco pra evitar qualquer problema maior. - Soltei a munhequeira, enquanto ele segurava minha mão, a observando ainda um pouco vermelha.
- Se tiver cansada ou com dor, podemos deixar pra outro dia, ta?
- Não pô, ta tranquilo, fica em paz. To acostumada, se deixasse de trabalhar por cansaço, ia trabalhar nunca, porqur é meu mood oficial. - Ele riu. - Inclusive, vamos?
- Bora, posso ficar aqui mesmo?
- Pode, o que for melhor pra você. É até bom por conta do espelho, aí tu vai vendo o que eu to fazendo. - Me referi a parede de espelho ao lado da mesa que estavamos. Girei um pouco a cadeira, deixando ele de frente pra ela e parei atrás dele.
- Hoje é por sua conta. - Me passou o celular com o spotify aberto.
- Que honra. Vamos nas que são um pouco antigas hoje. - Entrei no meu perfil, colocando minha playlist com rap da época de 2012/13. - Tó, pra você ouvir música boa. - Segui meu perfil, devolvendo pra ele, que gargalhou.
- Que abusada! Mas vou bem ouvir todas, tá? Pra saber se seu gosto é bom mesmo. - Eu vou ficar é quietinha, viu?
- Confia, pô. - Ri, começando a desfazer as tranças, como eram nagô, ia rapidinho. - Eita que ele meteu a régua maxima. - Comentei das partes do cabelo dele que estavam baixinhas.
- Foi o motivo do meu atraso, inclusive. Tinha que ficar com o cabelo cortadinho pra você, né? Pra compensar a primeira impressão. - Gargalhei. Deus, é um teste isso? Se for, já digo que não vou passar.
- Ficou bonitão. - Desfiz a última fileira, jogando o cabelo na sacola. - Seguinte, meu Gabriel Gol. - Peguei meu celular, abrindo o cronograma que tinha feito pra ele, o passando. - Nosso foco é deixar teu cabelo forte de novo, sei que você gosta de diferenciar e pra não ficar calvo aos 20, vamos tratando direitinho que da certo.
- Deus me livre, já até me arrepiei só com a palavra com C. - Gargalhei, passando o celular pra ele - Ih, o cronograma é meu mermo, ala, até meu emoji de bracinho. - Gargalhei.
- Uma cabelereira dedicada, eu diria.
- Demais, tô até me sentindo especial. - Riu e comecei a explicar tudo, pra que servia cada coisa, como ele tinha que fazer, e por fim, dei o shampoo pra ele lavar o cabelo. Logo ele voltou, de novo, só de bermuda. Deus, eu já falei que não vou passar no teste, pare urgentemente.
- Aê, você ta com fome? - Sentou de novo.
- Olha, um pouco. Nem deu tempo de almoçar hoje. - Peguei o creme de hidratação.
- Ta maluco, vou pedir um negócio pra gente, curte japa? - O olhei pelo espelho, que riu.
- Gosto de coisa só depois que vai no fogo.
- Para, tem um aqui perto que é muito bom. Confia?
- Não.
- Mas vai comer, vou pedir. - Gargalhei.
- Perguntou pra que então, abusado? - Ele riu.
- Não, sério. Quer comer o que?
- Pode ser esse japa aí, fiquei curiosa. Mas se for ruim...
- Boa, minha garota. Tu vai curtir, fica vendo. - Ri, balançando a cabeça negativamente, dividindo os mechas no cabelo dele e passando creme pouco a pouco. - Vem que tem, maravilha, só Vivaz, da Tudubom. Ela diz que quer um cara calmo mas, caras calmos nunca chamam sua atenção. - Cantei Ret, distraída, dando uma risadinha, pois me sentia atacada com essa parte. Ret você não tinha esse direito.
- Se identificou é bonita? - Gabriel soltou e só então reparei que ele estava me olhando pelo espelho.
- Confesso que nessa parte ele me pega na curva. -Rimos.
- Esse album é bom demais, fazia um tempão que não ouvia.
- Demais, queria pegar um showzinho dele.
- Nunca foi?
- Nunca. - Massageei sua raiz e ele revirou os olhos, fechando em seguida. Ô gente...
Fiquei assim por alguns minutos, pegando uma toquinha e colocando na sua cabeça. - Pronto, esse a gente vai deixar um tempinho a mais, tá?
- Que isso, chega que até parei de pensar. - Ri.
- Onde é o banheiro, por favor?
- É ali na primeira porta do corredor. - Assenti, indo até lá e lavando a mão. Ouvi o interfone tocando e jurei que ele fosse pedir pra eu buscar por conta da touquinha na cabeça, mas assim que voltei pra sala, vi tudo vazio.
Arrumei a mesa e logo ele entrou, cantarolando, com uma caixa enorme em uma mão e cerveja na outra.
Deus que me perdoe, mas era só um desse.
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incomum || gabigol
Fanfiction"Não tem como te decifrar incomum Em cada curva sua inconfundível Só sei que me pegou de um jeito incomum"