dezoito.

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Gabriel POV

- Ai que susto! Essa casa precisa de uma defumação mãe, cheia de assombração. - Dhiovanna falou, me fazendo rir.

- Cala a boca, menina. - Dei um tapinha na testa dela. - Deu aula nesse bolo ein dona Linda? - Soltei, abrindo a boleira e pegando mais um pedaço do bolo de maçã que ela tinha feito de manhã.

- No que eu não sou boa né, bebe? Respeita a mamãe. - Ri, sentando ao lado da Dhio.

- Dormiu aqui? Pleno pré folga?

- Dormi, inclusive, onde a senhora dormiu? Que cheguei, não tava, acordei, não tava.

- O foco é você, ta? - Nós rimos. - Largou a traplife, é?

- Não pô, continuo. Só tô mais de boa ultimamente. Ontem tava lá no L7 ouvindo um som com os moleques, depois vim pra cá. - Ela semicerrou os olhos.

- Tá apaixonado? Pra tá calmo assim do nada. - Gargalhei.

- Não, cara. Só sou um homem focado, tem como respeitar? Ou é traplife ou é final da libertadores. - Ela me olhou com cara de tédio.

- Ele finge que alguém acredita nesses papinhos. - Minha mãe soltou, me fazendo rir.

- Que isso? Se juntaram contra mim? Eu ein.

- A verdade dói, né?

- Vem cá, Mi vem hoje? Só pra saber o quanto faço de arroz. - Minha mae perguntou.

- Vem, lá pelas sete ela chega.

- Posso te fazer uma pergunta? - Dhio disse.

- Não.

- Vou fazer mesmo assim, você e a Mi nunca ficaram não?

- Não.

- Nem uma vez?

- Não ué, somos amigos.

- Não me intrometendo na sua vida, meu amor, mas que nega bonita, ein?

- E gente boa pra caramba. - Dhio ajudou.

- Ela é mesmo.

- Mas pensando bem, acredito que não tenham ficado mesmo. Só pega feia e chata.

- Só as que tem a bocona assim de botox. - Minha mãe fez bico.

- E os apliques naqueles cabelos ressacados? As ponta assim. - Dhiovanna esticou os dedos, não aguentei e gargalhei junto com elas.

- Tchau pra vocês. Se ela chegar avisa que tô lá na academia. - Peguei as luvas em cima do balcão e saí da cozinha, indo pra academia.

Apesar de aqui em casa não termos segredo uns com os outros, nunca ia contar que fiquei com a Mi aquele dia. Até porque não sei se vai rolar de novo e não queria elas criando expectativa, que conheço as bonitas.

Digo que não sei se vai rolar de novo por ela, por mim rolava mais duas, mais três, mais várias.

O beijo da filha da mãe era igualzinho os dos meus sonhos e até hoje, nunca beijei boca mais gostosa.

Ainda me expliquei, falei que já tinha dado uns beijos na Bufoni, mas naquele dia nao tinha rolado nada. Precisava? Nao, mas foi natural, quando vi já estava deixando tudo as claras.

Levei em casa naquele dia, rolou uns beijos de novo no carro, mas desde aquele dia, fingimos que nada aconteceu. E desde aquele dia não tiro o gosto dela da cabeça.

Garotinha filha da mãe.

Coloquei as luvas, liguei o rap no últimos e comecei a treinar.

De todas as atividades pra controlar minha ansiedade fora de campo e impulsividade dentro dele, boxe era a minha favorita. Pelo menos uma semana tinha que fazer.

Tanto que perdi a hora ali, parando só quando ouvi a porta abrir.

- Ah, foi mal. Vim só ver se tu ia demorar. - Ela disse pausadamente, me medindo, umedecendo os lábios e suspirando, voltando a me olhar.

- Caralho, perdi a hora aqui. Tô atrasado?

- Uma horinha. - Arregalei os olhos e ela riu. - Não cara, cheguei aqui tem uns 15 minutos. Mas pode terminar aí, tô lá na cozinha.

- Não vai me dar um abraço? - Abri os braços, suado que só a porra, me aproximando dela.

- Nem pense. - Gargalhou, fechando a porta. Ri e balancei a cabeça negativamente, tirando as luvas.

Entrei em casa, vendo elas na sala e subi pelos fundos, tomando banho e já descendo com o cabelo limpo, pai ia lançar as tranças novamente.

- Foi mal a demora. - Parei atrás dela no sofá, beijando sua bochecha.

- Deu até tempo de fazer cuzcuz. - Elas riram.

- E posso falar? Bom demais, parece até o da tia Zezé. - Dhiovanna disse, comendo, enquanto eu sentava do lado dela.

- Me dá um pouco aí.

- Iiih, não é dieta regrada? - Minha mãe disse.

- Enchi de bacon e manteiga aqui, meu parceiro. Uma pena. - Michelle me olhou e eu me estiquei pra ver se prato.

- Ah, é esse? Achei que fosse o cuzcuz normal, que vai um ovinho, sardinha. - Falei pra provocar e Michelle me olhou.

- É o que rapaz? Esse cuzcuz ai devia ser crime, resto de pia na forma.

- Bem melhor. Esse aí sem gracinha de tudo. - Ela me olhou indignada, enquanto eu segurava o riso.

- Pois coma. - Pegou um pouco com manteiga derretida e bacon, me dando na boca. Tava bom pra caralho.

- É, esse tá gostosinho. - Ela ficou me observando.

- Tia Linda, eu vou terminar a amizade com teu filho, não dá não, viu?

- Da mais um pouco aí pra eu confirmar se gostei ou não. - Minha mãe riu.

- Não merece, me deixe comer quieta aqui. - Passava mal com o sotaque dela.

- Isso aí Mi, dá moral pra esse aí não. Mas erro meu, sabe? Devia ter criado na Paraiba por uns anos. - Elas riram.

- Não, pra tu não achar que eu sou tão ruim assim, gosto de cuzcuz assim e esse tá uma delícia, tá? Não sabia que cozinhava não.

- Pô, 5 anos morando só, ou cozinhava, ou cozinhava.

- Você tá 5 anos aqui já, Mi? Nunca te perguntei, mas veio por qual motivo? - Nos olhamos, rindo.

- Ô tia, longa história, viu? - Pegou o prato delas, vazio, levando até a cozinha.

- Ô filha, não precisava.

- Não me incomoda não tia, fica em paz. Bora, bonito?

- Bora. - Levantei, sentando na cadeira, enquanto minha mãe levantava, avisando que ia terminar a janta.

Ela começou a separar o meu cabelo, enquanto eu ficava inquieto.

- Fala, meu falso caiçara. O que foi? - Ri.

- Quero falar uma coisa que quero fazer, mas tô com medo de você brigar.

- Ô meu Jesus. Mas tá, prometi né? - Levantou o braço com o elástico, me fazendo rir.

- Queria ficar loiro pra final da liberta, se a gente chegar até lá.

- Não tô fazendo esse trabalho todo pra recuperar seu cabelo pro senhor querer platinar não, né? - Gargalhei.

- Talvez? - Ela riu. - Prometeu que não ia me abandonar.

- Pior que prometi, né? - Rimos. - Mentira, se é pela liberta, daremos um jeito. O loirinho vem aí. - Acariciou me ombro e eu entrelacei nossas mãos, beijando a dela e vendo o pelo do seu braço arrepiar.

Queria que fosse por outro motivo.

incomum || gabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora