cinquenta e oito.

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Gabriel POV

- Mas e aí, você começou a colocar a corrida como rotina na sua vida e tem funcionado?

- Muito, tá melhorando demais as crises.

- Boa. Infelizmente crise de ansiedade vem sendo cada vez mais recorrente entre os jovens. Particularmente, eu tento indicar de tudo para um paciente antes de entrar com o remédio e fico feliz que a atividade física, para além das que você já faz, esteja te ajudando. E que você tenha uma companheira que te entende e te apoia nesse processo, isso é muito importante.

- Pois é. - Dei um sorrisinho e ela semicerrou os olhos.

- Tem certeza que me contou todos os acontecimentos da semana? - Suspirei.

- A gente brigou no domingo. - Comecei a contar, enquanto o brilho dela ia sumindo aos poucos. - Tô errado, tô errado. Eu sei.

- Bom... Que bom que você também tá trabalhando o autoconhecimento. - Segurei o riso. - Acho que podemos começar a trabalhar mais duas coisas daqui pra frente.

- O que?

- Confiança e auto sabotagem. Não precisa te conhecer pra saber o quanto você é confiante em campo, isso fica claro pra quem te vê  e ficou claro pra mim logo nas nossas primeiras conversas. Agora nas relações já é algo a se trabalhar.

- E vou ter como se fui chufrudo a vida toda?

- É por isso que vamos trabalhar. O fato de você ter tido uma relação ruim, não quer dizer que todas vão ser. Quando você tem um jogo ruim, a temporada inteira é ruim?

- Não...

- Cada jogo é um jogo, certo?

- Sim.

- É a mesma lógica. Você precisa confiar em você primeiro, pra depois tentar confiar em alguém. Te conhecendo, sei que confia nela, mas porque não demonstra isso? Porque deixa esse seu lado inseguro falar mais alto?

- Não sei. - Cruzei os braços.

- Você sabe sim, mas te passando uma colinha da resposta, o motivo é exatamente o que também vamos trabalhar. Você tem que se permitir ser feliz, Gabriel. Não adianta você soltar frases vazias de que só tem sorte no jogo, quando você mesmo não colabora pra ter sorte no amor. Você tem e muita, não é atoa que demos um avanço tremendo desde que sua companheira entrou na sua vida. Eu já tinha percebido bem antes de você falar dela a primeira vez e quando a citou, quando ainda eram amigos, tudo fez sentido.

Olhei pra janela, coçando a garganta.

- Se tem uma coisa que você tem, é sorte no amor, mas tem que parar de lutar contra ele.

Senti meu nariz arder e continuei olhando pra janela, apesar que ela já me viu chorar infinitas vezes.

- E o que eu faço?

- Pensar nisso e resolver vai ser como vamos começar a trabalhar essas duas questões. - Assenti, doido pra encerrar a sessão. - Acho que acabamos por aqui, né?

- Acho que sim. Valeu pelas palavras, ruim de ouvir, mas tava precisando.

- Eu sei, faço pro seu bem. - Dei um sorriso de lado. - Até semana, Gabriel.

- Até. - Sai do aplicativo, bloqueando o celular e bufando, enquanto olhava pro teto, sentindo as lágrimas caírem.

Que saudade dessa mulher, puta que me pariu.

incomum || gabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora