cap 37 part2

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*BÔNUS*

Alessandro Silva
Peixão

"Cria da Rocinha", algo normal dentro das favelas, mas fora do nosso mundinho, isso era "inadmissível", pelo menos foi isso que eu escutei a minha vida toda.

Porta fechada na minha cara, xingamentos sem eu ter feito nada, apanhava de polícia, por não ser x9, com apenas 11 anos.

Acha mesmo que eu não tentei seguir outra vida? Que eu não tentei seguir uma vida diferente do meu pai?

Crescer sabendo que eu não tive uma mãe comigo e um pai que a qualquer momento poderia levar um tiro dos seus ou dos outros, só fez eu querer me afastar dessa vida.

Doze anos, a única coisa que eu consegui, foi trabalhar em uma lanchonete do morro, meu pai sempre foi muito reservado, ninguém sabia que eu era filho dele, eu também não fazia questão.

Mas foi com essa mesma idade que eu vi meu pai morrer.

Lembro como se fosse hoje, eu sai pra trabalhar e a movimentação estava estranha ja fazia uns dias. Mas nesse dia antes de eu sair de casa, meu pai me chamou de canto e disse olhando pra mim "tu sabe sobre a vida do teu pai, sabe com o que ele meche, te ensinei dês de que tu era menorzinho, hoje eu não posso ter certeza de nada, mas tenho muito orgulho de tu, vou deixar esse morro pra tu" eu neguei com a cabeça ja com lágrimas nos olhos, ja tinha entendido tudo "que o pai de cima me abençoe, o que tiver que acontecer, vai acontecer, mas eu não vou abaixar a cabeça, vou pra guerra até o final, tu entende?".

Fui trabalhar com a cabeça pipocando, deu 9 horas da manhã, não deu outra, soltaram os fogos e as lojas tudo foi fechando.

Esperei um tempão, até Tomar coragem pra sair e ir até meu pai, pra tentar salvar ele, eu só aguentava a arma, mas nem sabia usar direito e mesmo assim, queria defender meu pai.

Sai pilhado, magrelo corria demais, mas também não era o flash. Meu pai ja sabia que ia cair, ele disse que ia lutar e fez por onde.

Mas não teve jeito, os filhos da puta veio na intenção e eu acabei vendo meu pai levar quatro tiros nas costas.

Pegaram ele na covardia, tava sem ninguém e veio de um único filho da puta, eu nem pensei direto, corri pro meu e peguei o fuzil dele atirando quatro vezes nele, assim como fez no pai.

Se não fosse os vapores do meu pai, acho que eu teria ido junto com ele, os caras atiraram nos outros e os que ficaram vivos pelo morro, sairam rapido.

Na semana seguinte, os de frente veio pro morro, eu fui pra frente, disse que o mau tinha dito que o morro era meu, ninguém concordou, faliu pra eu crescer e se eu merecesse isso, o morro era meu, assim como a vontade do meu pai.

Fazia plantão sempre que tinha oportunidade, batia de frente sempre que acontecia invasão.

Quando eu fiz 17 anos, eles me colocaram como o dono, na verdade só reforçou, todos ja sabiam que o morro era meu.

3 anos vivendo as custas de morro, nunca fui muito de sair pra baile, meu negócio era dinheiro. Conheci a mãe da Alessandra em uma noite que eu fui me divertir, fiquei com ela uma semana e foi o suficiente pra ela engravidar.

Veio toda toda, achando que tinha banca, mal sabia que não iria conseguir nada.

Não desfiz de ninguém, comeu do bom e do melhor, tava com a minha cria na barriga, eu não ia deixar ela de lado, sabendo da vida que ela levava.

Ela ganhou a criança, viu que não ia conseguir nada e meteu pé, até hoje eu não sei onde ela tá, sumiu e eu não fui atrás.

Cuidei muito da Alessandra, nunca deixei faltar nada, a única coisa que eu fiz diferente do meu pai, foi mostrar pra ela os dois mundos, não só o nosso.

A Pereira fez parte disso ai, mulher entrou pra essa vida, com a mesma idade que a minha, perdeu tudo, os parentes que tinha não ajudou, eu vi aquilo e a única forma que eu tinha de ajudar, eu ajudei, ela se interessou e ta comigo até hoje, se mostrou minha aliada dês do começo. Cresceu sendo a minha amiga e a amiga da minha filha, maior consideração.

Assim que botei ela como braço direito e vi que podia deixar o morro com ela. Eu me perdi, sai da minha realidade, o que eu não curtir no passado, deixei ela pra viver essa vida de dona, sem ser a dona.

Mas o arrependimento bateu, assim que eu me deparei com meu estado e vi que meu fim estava perto.

Fernandinho: Qual é? Chefe. Não adianta querer dar as caras agora, tu vai rodar, eles querem tua cabeça.

Peixão: Namoral mesmo? Se eu tivesse medo desses filhos da puta, eu não entrava nessa vida - ele negou quieto - quero todo mundo que ta comigo, se espalhando nos becos, tem essa de ficar só no alto não, se eles tiverem no beco, não adianta ficar encima e não quero ninguém colado comigo, eu não sou de vidro! Bora! Bora!

Todo mundo meteu o pé, sem falar nada, poderia ta louco, mas eu não ia ficar parado.

Segui pra um bevo próximo onde eu estava, não tinha ninguém, foi nessa que eu me perdi, sai do bevo indo pra rua, escutando a voz da Ale me chamando e foi o tempo deles me pegarem na cautela, sem ninguém perceber.

Atiraram em mim, assim como atiraram no meu coroa, na pura covardia.

Eu não conseguia ver mais nada, só escutava barulhos de tiros e em seguida a voz da Ale me chamando.

A minha história se encerrou.

MARATONA 1/5

Sei que estou pecando no horário, desculpa pra quem dorme cedo, mas é o horário que eu consegui.
Amo vocês!

INDESTRUTÍVEL (Romance Safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora