cap 49

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Agatha Pereira

Aceitei comandar o morro, ja faz umas semanas ai.

Pensei que é melhor na minha mão, pelo menos por agora, a Ale não esta bem pra isso.

Morro é muito responsabilidade, tem que prestar atenção nos morador, nas drogas, nas vendas, nos vapor, no caralho todo.

O mal desse povo, é achar que a vida é fácil pra quem comanda a porra toda.

"Só mandar o vapor fazer, que ele faz, e tu fica livre."

Quem me dera! Eu até mandaria, mas me fala ai, quem eu posso confiar? É capaz de quem a gente mais chega perto de confiar, quem a gente bate no peito chamando de "irmão", "aliado", virar as costas pra você, ou te trair quando você está de costas, bagulho é doido.

Meu medo é a Ale pensar o mesmo, o pai dela fazia isso porque tinha eu, mas a Ale não pode crescer nesse pensamento não.

Estava vendo os muleque embalar as drogas, ja deu confusão com o mesmo menor umas três vezes, eu só to palmeando, acha que pode errar de bobeira, qualquer pozinho é lucro.

Ja vi a Galega vindo em direção a porta e eu ja sabia que ela queria falar comigo. O paçoca tinha trocado uma ideia sobre ela, e ele falou que ela ta na paz.

Galega: Ta suave? - me cumprimentou com um toque de mão, assim que entro na sala.

Pereira: To mec - ela assentiu - qual foi?

Galega: To querendo trocar umas ideias com tu, ta ligada? - assenti - vamo ali fora comigo?

Sai da sala e ela veio me acompanhando, até chegarmos la fora.

Pereira: Solta os papos - peguei a maconha que estava no meu bolso, vou logo fumar pra aguentar a bomba.

Galega: Ja vou ser direta logo, que eu não gosto desses bagulho de enrolação - assenti - eu to ligada que tu me trata diferente por causa do bagulho da Kyara, mesmo que esse seja seu jeito, eu sei que tu tem motivo.

Pereira: E o que tem? - arrumei a bandoleira olhando pra ela.

Galega: Tu ta na razão, mas eu só queria deixar claro que eu to suave. Já até imaginei que conseguiria ficar com a Kyara de novo, vou mentir não - fiz uma cara de deboche olhando pra ela - mas eu to ligada que não ia conseguir, vocês tem o bagulho forte, negócio de conexão, e eu só queria deixar claro, que sei dessas paradas. Também não sabia que vocês tinham um rolo no dia la.

Pereira: Tu não tava no erro, eu to ligada que tu não tinha ideia, mas imagina tu ver a sua mulher com outra? Mesmo que a gente não tinha nada, agora a gente tem e não tem como esquecer o que eu vi - ela assentiu - mas gostei da tua postura, de tu vim aqui trocar uma ideia, e fica mec, eu não sou o tipo de pessoa que mistura as coisas, nossas ideias é eu la e tu cá e é isso, não precisamos ser irmãs de peito, mas também não tem necessidade de fazer charme.

Galega: É isso mesmo - ofereci o cigarro pra ela e ela aceitou tragando em seguida - mas o negócio não é só isso - soltou a fumaça tossindo logo depois - os caras tão me chamando pra voltar pra São Paulo, e namoral? Quero não! Não gosto da ideia de comandar uma favela, eu to bem aqui, não queria ter que me mudar e ir pra comandar.

Pereira: Tu ta ligada que pode passar a favela... - ela assentiu me devolvendo o cigarro.

Galega: Mas é por isso que eu quero conversar com tu, tem alguém la que eu posso entregar o morro, só uma ligação e eu ja passo, mas é que eu vim pedir pra continuar aqui, sendo só soldada mesmo, quero ser nada de frente não, só quero morar aqui de vez.

Pereira: Que isso galega? Ta tranquilo pô! Tu ja ta morando aqui, tu tem seu cargo ja, precisa mais de nada não.

Galega: Valeu mesmo, Pereira - fez um toque comigo, me abraçando sem jeito.

Pereira: Iiiih sai fora, galega - fui pra trás - eu tenho mulher viu! Vem com essas idéias não - ri dela.

Paçoca: Eita como o amor é lindo - olhei pra trás vendo o paçoca em cima da moto - vim ver se vocês não estão se matando, mas tão não né? - ja olhei pro paçoca e ele rapidinho calou a boca.

Pereira: Ta engraçado né? - ele negou levantando a mão em rendição.

Paçoca: To na paz - eu cruzei os braços olhando pra ele - vim aqui como entregador e como mensageiro - levantou a sacola - tua mulher que mandou.

Cheguei mais perto da moto dele, na intenção de pegar a sacola que ele estendeu, mas quando eu cheguei, ele afastou a sacola.

Pereira: Ta de deboche? - ele negou e eu cruzei os braços - dá essa porra.

Paçoca: Quero o dinheiro da minha entrega - estendeu a mão e eu ri - ta rindo por quê?

Pereira: Tu vai me dar? Ou eu vou ter que forçar? - estendi a mão e ele me deu com um bico na cara - namoral, tu parece criança.

Paçoca: Igual tu, é convivência - me olhou com deboche.

Pereira: Duvido tu ficar assim quando vê a minha prima - ele negou.

Paçoca: Só problema... - eu ri - não vi graça, eu vou ir la, e antes que eu esqueça, a Kyara perguntou se você "enfiou o celular no rabo?" - peguei o celular na hora, vendo que tinha um monte de mensagem.

Só agradeci o Paçoca e entrei pra boca, escutando o áudio dela. Os primeiros era de mais cedo, perguntou se eu não ia querer almoçar na casa dela, que a mãe dela estava me chamando, porque fez estrogonofe, e os outros  áudios mais recentes, era dizendo que ela ia me mandar uma marmita, ja que eu não respondi, disse que a mãe dela insistiu.

Minha relação com a família dela ta melhorando, na real eles não comentam muito sobre essa minha vida, por isso ta indo bem, eu gosto de ver como eles se importam com a felicidade da Kyara e não só com a opinião deles.

Ja comi la no meu canto, até liguei pra agradecer a gostosa, eu não sei quem tem mais sorte, mas a comida estava boa demais, bem temperada, é difícil eu fazer comida em casa, estava com saudade de uma comida caseira assim, amassei legal.

Votem e comentem!!

INDESTRUTÍVEL (Romance Safico)Onde histórias criam vida. Descubra agora