Festa da morte

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Ao olhar para frente vejo Lion me encarando, ele sabe que há algo de errado comigo, sempre deixa claro que ele sempre sabe tudo, então por que não me ajuda? Será que quero sua ajuda? Eu não sei o que eu quero. Tenho certeza apenas de uma coisa: queria estar na festa com Kairo

O tempo passa devagar, está demorando a acabar, todos falam, riem e compartilham de suas experiências, oque antes eu achava um máximo está entediante, o que antes me inspirava a ser como eles me faz achar chato e sem necessidade.
A roda de conversa terminou tarde, fui direto para casa sem olhar para Lion ou para Rise que atentamente e com muito ânimo participava das conversas.

No meio da noite enquanto dormia, tive um sonho esquisito, onde Lion entrava em minha casa, sentava-se na beira da minha cama e acariciava meu rosto enquanto eu dormia. Sua expressão era de preocupação, mas seus olhos ainda transbordam admiração e amor por minha pessoa. Enquanto acariciava meu cabelo ele dizia:

- eu lhe dei tudo o que eu tinha e supri todas as suas necessidades, mas ainda sim não foi o suficiente para fazer você ficar. Mas eu nunca vou desisitir de você, minha criança, mesmo que você desista de mim

Na manhã seguinte desperto com un barulho esquisito vindo do lado de fora, parece que algo caiu e se quebrou. Decido então me levantar, preparar um café da manhã antes de voltar a ativa, talvez hoje dê para mim ir à festa com Kairo.
Alguém bate a porta, digo que está aberta e então Lion entra com um sorriso no rosto me desejando bom dia

- bom dia, mestre -respondo com indiferença

- o que fará hoje? -perguntou ele

- acho que ficarei em casa hoje dando uma faxina. Faz tempo que não faço isso

- muito bem. Eu vou ao conselho de mestres, há uma reunião marcada e discutiremos assuntos sérios hoje

- eu posso perguntar o que é?

- não pode. É confidencial

- certo -digo emburrada

O mesmo sai com um sorriso no rosto diante da minha reação, eu sempre quis saber oque acontece na reunião de mestres mas ninguém nunca me diz. Esqueço esse assunto dando início a limpeza, a começar pelo meu próprio quarto. Arrastando a cama para frente fazendo a mesma se desgrudar da parede pude ver a quantidade de poeira que ali está acumulada

- estou envergonhada de mim mesma -digo a mim mesma enquanto encaro a poeira

Quando foi que fiquei tão desleixada? Depois de horas varrendo, lavando as roupas e as dobrando, pondo tudo de volta em eu devidos lugares pude parar um pouco para descansar, me sento na cadeira da cozinha de uma forma folgada enquanto minha respiração ofegante dedura meu cansaço

O tempo passou rápido diante de toda a bagunça que a casa estava, olho pela janela vendo o sol se por, nem adianta adianta correr pata vê-lo, minhas pernas doem e acabei de terminar minha tarefa.
Alguém mais uma vez bate em minha porta e eu digo que pode entrar, deve ser o mestre ou a Rise

- como foi a reunião, mestre? O assunto é mais sério do que pensei, porque você demorou a chegar

- na verdade eu só vim te ver mesmo -soou una voz masculina que não era a de Lion

- Kairo! -me levanto da cadeira rapidamente me virando de frente para o mesmo e corro para lhe abraçar- eu senti saudade

- eu também. O tempo está passando muita devagar sem você, não aguentei e vim lhe ver

- mas é perigoso ficar aqui, Lion pode aparecer de repente e isso vai trazer problemas para nós dois

- por isso eu vim lhe buscar. Não há ninguém lá fora agora, você pode vir para a trilha comigo e então poderemos ir ver a preparação para a festa

- melhor não arriscar, Kairo. Mas tenha certeza que meia noite eu lhe encontro na trilha

- tudo bem então, até mais tarde -o mesmo beija minha testa e então parte

Ao vê-lo fechar a porta, começo a rodopiar e a dançar pela casa, meu coração está acelerado... por que ele está assim? Acredito que nao seja algo preocupante pois a sensação é boa

00:00

No horário combinado fui até a trilha com um sorriso no rosto, ele me abraça novamente e então seguimos para a festa. Mais uma vez tomo bebidas, danço sem pensar no amanhã e participo de brincadeiras bestas como pular por cima da fogueira.
A manhã seguinte chegou mais uma vez, volto para o vilarejo cansada como sempre mas dessa vez é diferente. Parece que algo se instalou em meu coração e consome tudo que há de bom nele

Não consigo sorrir, não consigo me alegrar, não consigo me sentir viva, eu apenas consigo me divertir naquela festa, então eu volto para lá diariamente, inventando desculpas para não ir nas rodas de conversa com os experientes para me embebedar e tentar arrancar essa dor que eu não sei descrever, porém cada vez que eu ia a esse lugar, mais perdida eu ficava por não conseguir achar o caminho de volta para casa
Cada noite parecia que algo dentro de mim ia morrendo aos poucos, é como se a pequena Adalia que habita dentro de mim implorasse para eu parar de fazer o que estava fazendo, porque estamos morrendo.

Mais uma vez vou para a trilha me encontrar com Kairo, fomos para a festa e por um momento tudo se foi. A tristeza, o choro, a dor, tudo, parece que apenas algumas horas nesse lugar é o suficiente para esquecer o vazio que sinto em meu peito.
Me sentei ao lado de uma garota que estava bebendo, eu estava cansada de dançar e ela estava apenas viajando olhando para suas mãos no ar enquanto ria de seus próprios dedos

- você é a namorada do Kairo, não é? -perguntou ela

- ah, não. Não somos namorados

- eu vejo o jeito que ele olha para você, ele não quer ser apenas seu amigo -diz entre risos- mas não é isso que eu quero te perguntar. Você já ouviu falar das criaturas que fazem as pessoas de marionetes?

- o que? Criaturas?

- isso. Elas podem estar em nosso meio e a gente nunca vai perceber, só quando a luz da lua se posiciona entre a folhagem das árvores. Eles tem cordas presas em seus dedos e as pessoas estão presas a elas, elas são suas escravas e sempre fazem o que eles querem

- eu... Eu nunca ouvi falar disso -digo um pouco espantada, mas também curiosa

- você acha que sou louca, não é?

- não muito. Pode ser verdade, porque eu não conheço nada fora da cerca mas você conhece, e se está dizendo que essas criaturas existem é porque existem

- Adalia -apareceu Kairo na minha frente estendendo a mão para mim- vem comigo

Seguro a mão do mesmo e o sigo para longe da festa, andamos por poucos minutos ate atravessamos os trilhos do trem e passar por casinhas azuis. Chegamos a uma casa parando de frente para a mesma, ao entrar, ele acende as lamparinas e abre os braços

- bem vinda a minha casa

- lugar reconfortante -digo olhando ao redor- o que estamos fazendo aqui?

- eu queria um pouco mais de privacidade com você -o mesmo se aproxima de mim e me puxa para perto pela cintura- nós podemos ficar um pouco a sós antes de voltar para a festa, eu vi em seus olhos que você não está bem, você quer conversar? O que se passa dentro de você

Nenhuma palavra saiu de minha boca, eu apenas o abracei e deixei algumas lágrimas escaparam dos meus olhos. Nunca me senti tão bem, tão protegida em toda minha vida, literalmente toda minha vida, nunca tive alguém que desse atenção a essas variações de humor que acontecem comigo. Eu me senti sozinha e ele está aqui para mim, ele percebeu isso olhando em meus olhos. E por falar em olhos, os nossos se encontraram, ele passa seu polegar debaixo dos meus olhos para limpar a lágrima e então ele me toma em um beijo

Não há com o que se preocupar, não há ninguém em casa e eu não tenho a intenção de levar isso adiante, queria apenas uma conversa e alguém que estivesse ao meu lado, mas poderíamos ter ficado do lado de fora...

O Soldado, O Poeta e o Rei [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora