Flores

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Me levanto preguiçosamente estudando o local, percebo que eu estava deitada na rede de cor verde presa a uma árvore e por isso meu corpo balançava
Me sento na mesma olhando ao redor, minha mente ainda processava tudo oque aconteceu e de uma vez só veio um turbilhão de lembranças me causado una leve enxaqueca

Um garoto vem andando na minha direção trazendo algumas toalhas e uma tigela com água, ao ver que eu acordei, se alegrou e correu de volta para onde veio.
Então um senhor de idade vem até mim, ele está com um sorriso de orelha a orelha

– você acordo, que bom! Como se sente?

– cansada. Onde estão Meraki e Takeshi? Preciso encontrá-los -tento me levantar mas minhas pernas as enfraquecem e eu caio no chão

– tome cuidado! –o senhor me ajuda a levantar do chão– você dormiu por dois dias, provavelmente seu corpo ainda está terminando de acordar

– dois dias? –pergunto surpresa– Eu dormi por tanto tempo?

– sim e não é algo que deva se preocupar, porque qualquer um que consiga passar pela floresta das almas fica até 9 dias inteiros dormindo. Seus amigos estão bem, o jovem asiático acordou ontem a tarde e o outro jovem despertou nesta madrugada

– e o senhor quem é? Que lugar é esse?

– aqui é a vila das flores, eu sou Enos, um mestre, e aquele garoto era meu aprendiz, Hakon, era ele que cuidava de você pondo toalhas úmidas em sua testa e a cada três horas ia ver se você ainda tinha pulso

Mestre e aprendiz... Isso me é familiar

– algum problema, senhorita? Você fez uma cara triste

– não, só tive lembranças

– vamos ver seus amigos –o mesmo me estende a mão- eles devem estar querendo saber notícias suas também

O segui até o campo e lá estavam Meraki e Takeshi sentados debaixo de uma macieira aproveitando a sombra. Ao me verem, eles se levantam e correm na minha direção me dando um abraço que me derrubou no chão

– que bom que você está bem –disse Meraki

Nós levantamos do chão tirando a grama da roupa, de repente em um ato inesperado, Meraki abraça Takeshi e isso o deixou sem reação, pois não esperava isso de Meraki principalmente depois de terem discutido

– obrigado por não ter me deixado voltar para trás. Obrigado por ter me salvado

– você não precisa me agradecer –Takeshi devolve o abraço– amigos ajudam amigos

– se acostuma não

Takeshi deu um sorriso para Meraki, nos sentamos no chão e em seguida Hakon, o aprendiz, vem até nós com duas cestas repletas de comida, ele diz que precisamos nos alimentar. Os meninos disseram que já comeram e que deixariam tudo para mim, eu acabei com duas cestas e ia ser necessário uma terceira caso eu não ficasse satisfeita, deitei ali mesmo na grama esperando meu estômago digerir os 7 quilos de alimento que consumi, fecho meus olhos soltando o ar pela boca, mas no momento em que fecho meus olhos, passa um filme na minha cabeça onde eu vi todos aqueles corpos e raízes assassinas

Com um susto eu abro os olhos me pondo de pé rapidamente passando a mão em meu rosto, me pergunto se os outros também estão assim, e prefiro não dizer nada, pois não quero preocupa-los.
O sol estava quase se pondo, todos os aldeões estavam preparando o jantar e juntando lenha para acender uma fogueira. Quando o sol finalmente se pôs, nos justamos ao redor da fogueira, o escuro e as árvores no meio dele me davam arrepios mas tentei fingir que estava tudo bem

Todos os aldeões estavam conversando e suas vozes misturadas, todas juntas falando diversos assuntos de uma só vez, me trouxe lembranças da floresta; meu ouvido começou a zunir e um tremor invadiu meu corpo ao ponto de eu não conseguir controlar. Sinto um líquido quente escorrer do meu nariz e parar na minha boca, Enos vem depressa segurando um lencinho, ele limpa meu nariz cuidadosamente

- seu nariz está sangrando. Acho que deu corpo está tendi reações  traumáticas -disse Enos preocupada

- o ouvido de Takeshi também está sangrando -disse Hakon levando um lencinho e fazendo o mesmo que Enos fez comigo

- acredito que barulho desorganizado faz os viajantes lembrarem da floresta -disse uma aldeã

- Adalia, a quanto tempo você está assim? -perguntou Meraki

- desde que acordei -respondi

- e por que não disse nada?

- eu não quis preocupar vocês. Me desculpem

- todos nós estamos assim desde que acordamos. O ouvido de Takeshi não para de sangrar e eu não paro de tremer, as vezes perco o sentido das pernas e você tem sangramento nasal. Todos nós saímos traumatizados daquele lugar

- as árvores e a escuridão também me incomodam. Por todo canto eu tenho deslumbre daquele lugar

- é temporário. Em breve vai passar -disse Enos

Depois de um tempo chegou a hora de dormir, Enos me contou que ficaremos em  sua casa no quarto de hóspedes e que tudo já está preparado para nós.

Nós quatro ficamos no mesmo quarto com três camas separadas, nos aconchegamos nos cantos da casa deles e que ainda bem que está iluminada por três lamparinas, uma em cada canto penduradas nas paredes, concordamos em nunca apaga-las até que amanhecesse

Takeshi deitou-se na cama do meio e Meraki na última, só me restou a primeira que é grudada com a parede. Ainda deitados,  ficamos os  três olhando para o teto pois não conseguíamos pregar nossos olhos, cada vez que a gente fechava, víamos a floresta e isso nos fazia abrir novamente

- alguém está conseguindo dormir? -perguntei

- não -todos responderam

Acaricio o pingente de concha na pulseira que o capitão me deu, sinto saudade daquele lugar e daquelas crianças, eu queria ficar mais tempo

- você gostou do povo do lago norte, e eles parecem ter gostado de você também -disse Meraki

- sinto falta daquele lugar. É tão alegre

E então pela primeira vez em temos que estou aqui, vejo Takeshi desamarrar o barbante vermelho que prende seu cabelo, ele desenrola perfeitamente até chegar a altura de seus ombros, Takeshi passa seus dedos delicadamente pelo fio enquanto sorri de canto

- esse barbante era do meu pai. Ele foi morreu em meus braços quando achei seu corpo ainda com o último suspiro estre os destroços de nossa vila. Ele sempre usava esse barbante para amarrar o cabelo, dava três nós perfeitos... Antes de morrer ele amarrou o barbante em meu pulso e disse para mim ficar firme. Até hoje eu me culpo, porque se eu não tivesse saído para ir até o rio...

- você estaria morto e não daria continuidade a linhagem de seu pai -o interrompi

- quem fez isso? -perguntou Meraki

- um povo inimigo. Achei meu pai agonizando no chão debaixo de alguns destroços de madeira. Esse barbante foi a primeira coisa que dei ao meu pai quando eu era vem pequeno, por ser muito menino eu não tinha noção do que era um presente -diz entre risos- "você é o melhor guerreiro de todos" eu disse a ele... Achei que ele tivesse jogado fora mas ele usava para amarrar o cabelo, eu fiquei tão feliz -disse o mesmo com lágrima nos olhos

- eu sinto muito mesmo por isso, Takeshi. Você não merece passar por nada disso

- está tudo bem. Já passou

- e você, Meraki? Não vai nos contar alguma história?

- não gosto de falar sobre mim, não espere que eu vá participar desse momento lindo de compartilhar emoções com vocês -respondeu ele

Passamos metade da noite sentados contando histórias, felizes dessa vez, não triste, e com o cair da madrugada nós tentamos dormir de novo mas não conseguimos e isso nos deixou muito frustrados

O Soldado, O Poeta e o Rei [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora