Templo dos mortos

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- vou chamar essa árvore de 'mãe de todas' -disse Takeshi

- por que ela é grandona? -perguntou Meraki

- porque ela abriga qualquer ser que parar debaixo dela. E também é grandona

Então o clima de comunicação se tornou silencioso, todos nós encaramos a realidade em que nos encontramos, feridos, arranhados, cansados, sem lar e sem alguém que possa nos socorrer. Somos errantes procurando um caminho certo, um sentido para a vida, um salvador, um abrigo, alguém ou algo que conserte oque foi quebrado e alinhe novamente oque um dia desandou.
Será que faz sentido errantes levaremos outros errantes voltarem ao caminho correto? Ou jovens cativos prisioneiros de si mesmos levarem outros jovens cativos a liberdade quando você mesmo não está livre ou não se sente livre?

- nós estamos um caco -disse Takeshi entre risos- será que nós vamos conseguir concluir essa viagem antes que não sobre mais nada de nós?

- é, nossos corpos estão cansados e estamos cansados de lutar -disse Meraki- só de pensar em ter de lidar com outra criatura maligna eu tenho colapso, mas se vamos chegar ao fim disso eu não sei, mas eu juro que eu vou morrer tentando

Estamos errados? Estamos certos?
Nós pulamos primeiro e aí decidimos embarcar nessa... É difícil explicar. Saímos decididos de uma terra que era nossa a viver em uma terra estrangeira que não era nossa, nós nos perdemos e não podemos voltar para casa nem mesmo sabemos mais onde ficam nossas casas, agora somos peregrinos e seremos estrangeiros em um reino que nem sabemos se o habitante irá nos receber, mas eu quero descobrir tudo e tudo isso que eu passei vale a pena tentar

É melhor tentar e dar errado do que nunca ter tentado e ficar com a dúvida, e a dúvida é massacrante.

Corações pesados nos puxam para baixo
E a água está ficando profunda, não sabemos lidar com tanta pressão, com tantas emoções e com tantos problemas, essa água está chegando ao nosso pescoço, o desespero já tomou conta de todos nós mas fingimos estar bem para um não atrasar o outro, diante dessa água há correntezas que trabalha junto com a pressão da água para nos puxar para baixo. Nós nadamos ou nós afundamos?
Porque ainda há um longo caminho a percorrer

Percebo que as feições de Takeshi mudaram, ele está com uma aparência mais velha, pesada, olheiras profundas e está pálido como se sua pele estivesse desgastada, é, eu sei o que é isso, o cansaço mental. Nós estamos acabados em nossas cabeças mas estamos aguentando firme, será que algum dia chegaremos ao outro lado antes que não sobre nada de nós mesmos?
Nossos corpos estão fracos e não conseguimos pensar em uma solução ou estratégia para nos mantermos vivos

Se vamos sair desta situação com vida eu não seu, mas eu juro que vou morrer tentando até que o último vislumbre de esperança desapareça

- vamos acabar com esse clima triste, esse tronco da 'mãe de todas' merece ter nossos nomes gravados nelas -digo querendo o clima melancólico que é formou entre nós

- por que vamos ferir a árvore? -perguntou Meraki

- não vamos ferir, vamos só arranhar

Começo a procurar pelo chão por uma pedra e me lembro da adaga que tenho na bainha. Sou a primeira a escrever meu nome, não todo, apenas o primeiro. Adalia. Logo em seguida foi a vez de Meraki, ele escreveu ao lado do meu; perguntamos a Takeshi se ele ia querer fazer também mas ele se recusou e disse que não tem o porquê fazer isso. Segundos depois ele muda de ideia pegando a adaga da mão de Meraki, em seguida ele começa a gravar seu nome

- mudou de ideia? -o provoco

Nada ele disse, apenas bufou terminou de escrever seu nome todo. Agora somos três cabeças encarando nomes gravados em um tronco enorme de árvore e não sei o por quê estavamos fazendo isso

- é, agora deixamos uma prova de nossa existência -comentei quebrando o silêncio

- nós passamos por aqui. Chegamos até aqui e isso é uma vitória -disse Takeshi

Dou as costas para o troco me sentando no chão e recostando sobre o mesmo, os outros também fizemos e ficamos olhando a chuva cair. O som é tão relaxante que nos fez dormir em questão de poucos minutos, juntando o cansaço, nós desmaiamos.
No dia seguinte acordo deitada em cima da perna de Takeshi e Meraki em cima da minha, a chuva tinha parado e as gotas pingam da ponta das folhas

O clima está fresco, a névoa está baixa, e não sei se devo acordar os outros

- já abriu os olhos, jovem moça? -disse Takeshi se levantando do chão assim que levanto minha cabeça de sua perna- levantem, seus molengas! Temos uma trilha para andar -disse a nós

Ambos esfregaram seus olhos seguidos de bocejos demorados, realmente estávamos muito cansados ontem a noite e aparentemente não recarregamos nossas energias o suficiente. Mais uma vez recolhemos nossas coisas e seguimos em frente deixando a árvore 'mãe de todas' para trás

- até breve, mãe de todas -disse Takeshi

Seguimos a trilha e quando menos esperávamos saímos da floresta. Um caminho novo apareceu, o vento era frio e a medida que íamos nos aproximando, o ar ia ficando cada vez mais seco, árvores verdes foram ficando sem folhagens e cinzentas a cada passo dávamos, as montanhas se tornaram nevoentas; o ar ia ficando mais gelado cada vez mais e não trouxemos agasalho.

Os corvos cantavam em cima dos galhos secos, o lugar além de frio é assustador

- Meraki, vai demorar muito para passarmos por esse lugar? Estou morrendo de frio -disse Takeshi já com a ponta de seu nariz vermelha

- tem certeza que está na direção certa? Você leu bem mapa? -perguntei

- sim, este é o caminho correto

Andamos por mais algum tempo nessa paisagem tenebrosa, não demorou muito para que pudéssemos ver uma construção ao longe. Takeshi disse que talvez possamos pegar alimento com eles por garantia e assim fizemos, andamos mais um pouco até a construção onde logo na entrada em cima da mesma tocava um sino.

A porta estava aberta e então decidimos entrar para tentar encontrar alguém, mas não encontramos alguém, e sim várias pessoas cuja aparência não é nada agradável.
Algumas delas andam curvadas, posso ver seus rostos em decomposição, o sangue coalhado em seus corpos deixa tudo pior. As mulheres usam adornos e coisas que as embelezam, mas de nada adianta, seu olhar doente e sua pele entrando em um estado de putrefação está exposto e nada o esconde. O lugar fede a carne podre e aves de rapina sobrevoam todo o lugar. Tidos parecem estar bem, mas por que estão se decompondo ainda vivos?

- isso é um templo? -pergunto Meraki analisando todo local

- era para ser -respondi o mesmo

- vamos dar meia volta e ir embora, não podemos ficar aqui -disse Takeshi dando as costas para o local

Seguimos as palavras de Takeshi e fomos embora, passamos por esse lugar o mais rápido que pudemos até que paramos na entrada de uma floresta onde as travas são densas e a luz do sol não penetra.
Meraki suspirou pesado, ele olhou dentro da sua mochila e em seguida aperta os olhos ao ver que a comida é pouca, ele também viu a minha e a de Takeshi. Meraki anda de um lado para o outro na porta da floresta, ele olha para os lados vendo sua enorme extensão, ele está aflito e sua respiração está desregulada

- o que foi? -perguntei

- teremos que passar pela floresta das almas -disse Meraki

- que nome horrendo -digo com os olhos arregalados

- não temos comida suficiente para andarmos por um mês dando a volta, eu nem sei se é possível dar a volta, olha o tamanho dessa floresta -o mesmo respira fundo pondo a mão na cintura

- você conhece essa floresta? -perguntou Takeshi 

- eu já ouvi falar, e tudo oque me disseram dela não é coisa boa

O Soldado, O Poeta e o Rei [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora