Passeio inesperado

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Seguimos novamente pelas trilhas de terra e florestas, ficamos cerca de três dias em paz pois aquela região é bem segura.
Durante a noite no meio da mata, fizemos uma fogueira e estávamos comendo debaixo a brilhante luz lunar e os vagalumes que nos rodeavam iluminavam ainda mais o lugar

- será que vamos nos deparar com mais alguma criatura? -perguntei

- se sim, espero que seja amigável -disse Meraki- estou cansado de batalhas e de fugir, preciso de um descanso de um ano

- parece que o capitão dos pescadores gostou de você, ele até lhe deu uma pulseira -disse Takeshi enquanto terminava de beber água

- é -dou um sorriso sem graça encarando a mesma- ele disse que se eu não quisesse viajar eu poderia ficar lá com ele, mas eu quero cumprir essa missão

- você poderia ter ficado, sabemos nos virar sem você -disse Takeshi

- eu deveria ter deixado aquela sereia te arrastar para a água quando ela te abraçou

- vocês parecem duas crianças -disse Meraki- parem de se atacar um pouco e aproveitem a noite

Ao cair da madrugada o sono nos atinge, nos deitamos no chão debaixo das surpreendentes folhas macias e entre gravetos pequenos; enquanto o sono ainda não me atingiu totalmente, vejo algumas joaninhas andando em fila única por cima de uma folha, eram joaninhas vermelhas, finalmente algo normal por aqui
Me viro de barriga para cima vendo a lua cheia no meio das árvores e os vagalumes que zigzagueavam pelo ar, meus olhos foram pesando e para minha surpresa dormi mais rápido que pude imaginar

Eu tive um sonho bom mas não me recordo exatamente do que se tratava, escuto o som dos pássaros cantando, a fogueira já estava apagada e tudo oque saía dela era finas nuvens de fumaça. Ainda sonolenta, meus olhos se fecham novamente, mas eu escutava uma voz masculina familiar mesmo não me lembrando totalmente quem seja, mas eu sabia que conhecida essa voz que estava bem distante por mais que ele estivesse perto, eu pude sentir que ele estava sentando perto de mim me olhando dormir, me concentro em minha audição para tentar identificar mais ou menos oque ele estava dizendo

- você é muito mais do que uma sem terra, criação gentil e delicada do Leste

Isso foi tudo oque consegui ouvir, meus olhos se abriram um pouco e pude ver um homem de cabelo ruivo. Será? Volto a dormir por mais alguns minutos até que Meraki me acorda novamente sacudindo meu corpo

- precisamos partir, dorminhoca, o sol já nasceu e temos uma longa caminhada

Me levanto do chão tirando a terra que ficou grudada em minhas roupas, alongo meu corpo e pego minha parte na bagagem pondo a mesma nas costas. Andamos por um longo período, a estrada parecia nunca ter fim mas Meraki disse que esse era um atalho que nos levava mais próximo do reino que tínhamos que fazer uma parada, porque em breve nossa comida acabaria

- se esse é o atalho, eu não quero conhecer o caminho original -disse Takeshi num tom cansado

- força, meus companheiros, se nos apressamos chegaremos a tempo antes de nossa última ceia -encorajou Meraki

- mas onde comeremos? Você sabe para onde estamos indo? -perguntei

- para qualquer lugar que tenha uma casa para nos receber

...

Andamos por dias, quatro, pelo que pude contar e nunca chegava ao destino. Nossas mochilas já estavam ficando vazias e estávamos sem recursos para água potável, então precisamos chegar a uma vila ou cidade próxima o mais rápido possível.
No meio da floresta que estávamos atravessando, Takeshi nos disse para não nos separamos custe oque custar, pois essa floresta nos causa alucinações terríveis fazendo-nos perder na mais completa escuridão dela

Ela não parece ser ameaçadora, comparada a Solarin, ela é uma uma floresta normal. No meio do caminho avistamos um riacho que percorria no meio da selva. Olhamos para Takeshi e ele disse que poderíamos beber e sem pensar duas vezes, corremos até o mesmo caindo de joelhos e bebemos de sua água pela com o rosto no rio
Não muito longe dali vejo uma pequena canoa parada ali na margem, não parecia estar presa a algum lugar, talvez o dono esteja por perto e possamos pedir ajuda

Fui até a canoa procurar por alguém mas não tinha ninguém, olho dentro da mesma vendo várias bolsas e tem muitas frutas, resolvo pegar um pouco, o suficiente para aguentarmos mais alguns dias andando. Porém algo me lançou para dentro da canoa e bati a cabeça com força na madeira e isso me deixou um pouco tonta, eu estava vendo tudo embaçado e meu corpo não respondia muito bem
Sinto a canoa balançar de um lado para o outro, quando dei por mim, estava no meio do rio sendo levada não sei para onde

Por fim eu consigo me levantar apoiando na borda da canoa, passo na frente de Meraki e Takeshi, que ao me verem sendo levada pela correnteza, gritam desesperadamente e começam a correr pelas margens do rio tentando saber onde vou parar. Caio novamente dentro da canoa batendo minhas costas e parece que isso me deu um levante, porque me pus sentada na mesma olhando ao redor tentando pensar num jeito de sair daqui. Não tenho como pular o rio está largo demais e lutar contra a correnteza a nado é burrice então tudo oque me resta é ficar aqui e esperar esse barco parar em algum lugar e torcer para que ele não quebre quando bater em alguma rocha

Foi uma viagem de canoa conturbada, a correnteza me jogava para tudo que era lado e estou completamente molhada e provavelmente a comida que estava na minha mochila também... A comida! Procuro a mochila por todo lugar mas não a encontro até que puxo a memória que eu havia deixado com os meninos na margem do rio

- ótimo Adalia! Perdida e sem comida -brigo comigo mesma

As águas de acalmaram, agora a canoa estava segundo seu curso sozinha deixando o vento levá-la. Um momento da viagem me levou até um lugar rodeado por cachoeiras os respingos me molham mais uma vez me fazendo espirrar, a essa altura, meu nariz deve estar um pouco vermelho; passo por debaixo de uma grande rocha que fez uma espécie de marquise natural, as rochas ao meu redor são gigantes e cobertas de lodo e musgo, as árvores na parte mais seca são de folhagem cinza mas duas flores sao amareladas, ouso a dizer que são ipê

- intrusos -sussurrou alguém- intrusos no reino

- intrusos no reino! Vamos mata-la

- quem está aí? -perguntei ao vento porém ninguém respondia, não há sinal de vida aqui, é como se as árvores estivessem sussurrando

Os sussurros não pararam até que passei por uma espécie de túnel formada por galgos curvados de árvores e algumas de suas folhas batem em meu rosto.
Uma névoa tomou conta do local impedindo minha visão, não sabia para onde estava indo por causa da densidade da mesma mas de repente vejo a caridade solar, a névoa vai embora e meus olhos tem a visão de uma cidade cujo rio onde estou cruza o mesmo.
O ar da cidade é pesado, as águas que antes era cristalinas se tornaram escuras e não há sinal de coisas boas aqui.

A canoa continua seguindo seu curso até que vejo algumas pessoas circulando pelas ruas, não notaram minha presença, mas alguém me viu e olhou para mim. Ao me olhar, meu coração acelera e a vontade de gritar trava no meio da garganta; essa pessoa estava sem os olhos, é pálido e seus lábios são de coloração roxa
O sangue seco que escorreu do mesmo é preto e ele não parece ter muita saúde, pois seu corpo é muito magro

O Soldado, O Poeta e o Rei [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora