Cidade sem olhos

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A canoa em seguida faz uma curva perfeita e me leva sozinha para na margem e, sem pensar duas vezes saio da canoa não sentindo muito minhas pernas, vou para a terra firme engatinhando e lanço minhas costas no chão; quando pude senti-las novamente, olho por toda a parte percebendo o quão perdida estou e preciso escolher no uni duni tê o caminho que viu seguir

Segui o caminho que me levava para o mais longe possível da canoa, tento me localizar mas não tenho ideia de onde estou. Esbarro com mais pessoas pelo caminho, ele me encarou e tinha a mesma aparência que o primeiro que vi enquanto estava na canoa.
Corro para longe das pessoas, me vejo no meio de muitas delas e nenhuma aqui é diferente, até mesmo as mulheres são assim.

Enquanto corria, tive a impressão de ter visto uma pessoa sentada em uma fonte, olho novamente vendo que não era uma impressão e sim un corpo real sentado na fonte, sua boca estava aberta até a altura de seu pescoço, há um buraco onde deveriam ficar seus olhos
o pavor foi tanto que caí sentada no chão, as lágrimas escorrem pelo meu rosto involuntariamente e com um pouco de dificuldade me levanto do chão continuando minha corrida

Vejo uma loja de conveniência por perto, corro para a mesma numa tentativa desesperada de sair das ruas.
Ao chegar lá, fecho a porta desesperada pondo minhas costas contra a mesma, meu corpo está tremendo e não tenho controle sobre ele, meus dentes batem um no outro e as lágrimas involuntárias ainda rolam pelo meu rosto
Respiro fundo buscando a calma, então ouço um barulho atrás do balcão.

Direciono meus olhos lentamente até o mesmo e detrás dele sai um homem muito alto cujo cabelo é preto como as penas de um corvo, ele tem uma venda em seus olhos e a venda está manchada de um líquido preto; ele é pálido, tão pálido que chega a ser densa a palidez de sua pele, seu sorriso é tão macabro que chega a ponta de suas orelhas, a ponta de seus dedos são pretas assim como seus pés, ele se contorce pot inteiro me fazendo ouvir cada estalar de seu osso oque me traz bastante agonia misturado com pavor, meu coração bate tao rápido que sinto como se ele fosse rasgar meu peito e saltar para fora

O medo me paralisa, não consigo mover um músculo se quer enquanto essa coisa vem andando até mim sem pressa enquanto tomada de pavor minhas costas desliza pela porta até que chego ao chão

- não. Não precisa temer, coisa pequena -diz o mesmo as abaixando a minha altura, cada vez que ele fala algo, sua saliva negra escorre pela sua boca

- quem é você? -minha voz soa trêmula

- eu sou Caecus. E você quem é? Nunca vi você por aqui. Eu já vi elfos, anões, príncipes e princesas mas você eu não sei o que é. O que é você?

- eu quero ir embora

- embora? Mas por que? Você não pode ir, não agora. Há tanto a se fazer... E você tem lindos olhos

- eu preciso ir, tenho coisas para resolver -digo engolindo o choro

- você está com fome? Posso te levar até minha casa para comer o que quiser

- eu não estou com fome, eu realmente só quero ir embora

Me levanto devagar e Caecus também se levanta acompanhando meu ritmo sem deixar de manter seu olhar fixo em meu rosto (se é que posso dizer assim, pois não não nada através da venda manchada de preto), ponho a mão na corda que puxa a porta, quando pensei que pudesse abrir para escapar, ele me puxa violentamente me jogando no chão
Ao olhar ao redor vejo que a loja de conveniência sumiu e eu estava em uma espécie de sala vazia mas tudo é feito de madeira.

Há uma cadeira forrada com pele de urso atrás de uma mesa, o mesmo já estava sentando na cadeira e com um sorriso maléfico ele se mantém olhando para mim. Não sei como tenho essa certeza pois ele está vendado.

- vamos tentar novamente -disse ele

Enquanto isso na floresta

Meraki narrando

É impressionante! Essa garota tem o dom de se meter em confusão. Perdemos ela quando a terra firme cessou e o riacho segue seu curso com Adalia dentro de uma canoa.
Takeshi se abaixa e mergulha sua mão no rio depois a traz de volta segurando um olho em sua mão

- Caecus

- o que é Caecus? -perguntei

- não é "o que" mas quem. Certamente alguém do povoado mandou a canoa encantada para buscar alimentos e Adalia acabou caindo dentro dela por ter ido procurar o mesmo que esse povo na canoa deles

- inacreditável! -exclamei- como vamos chegar lá agora?

- vamos seguir essa parte do rio a pé, dentro do próprio rio. Quando a água começar a subir em nossa cintura, vamos para a margem e continuar andando em terra firme, chegaremos lá ainda hoje. Mas cuidado com seus olhos, são preciosos para Caecus

- o que? O que quis dizer com isso?

- espere e verá

Ouvir essa frase me deixou aflito mas não demonstrei a ele. E assim fizemos. Entramos dentro do rio com a água ainda na metade de nossas canelas e quando a correnteza começou a puxar e a água bateu em nossa cintura, fomos para margem subindo novamente para a terra firme e continuamos dali a pé

De volta a cidade

Adalia narrando

- então você é a intrusa que quis roubar nossa comida?

- eu não sabia que a comida era sua, eu e meus amigos em breve passaríamos por dificuldades e teríamos que chegar na casa de seus parentes distantes antes que a comida acabasse e morressemos de fome, porque ainda há muito chão para andar -minto sobre a missão

- você está mentindo, jovem moça? -o mesmo se levanta apoiando-se na mesa

- por que acha que estou mentindo?

- por que os olhos --nunca-- mentem -diz pausadamente

Ele chega até mim segurando em meu queixo com força, pude sentir a pressão de seus olhos me encarando até o fundo da minha alma mesmo que eles estejam vendados

- eu vejo através dos olhos, vejo através da escuridão, vejo através das doces mentiras contadas

Caecus levanta uma parte de sua venda mostrando um buraco no lugar do seu olho, é fundo e preto, sempre está saindo um líquido negro do mesmo. Isso me asssusta e minhas pernas falham oque quase me fez cair no chão mas Caecus segura meu queixo com mais força impedindo isso fazendo-me ficar suspensa

- não seja tola -o mesmo soltou uma gargalhada- me conte a verdade, pois eu vejo que você está mentindo -sua unha cresce em seu dedo tornando-se garras, ele passa a mesma em meu rosto lentamente- isso... Isso é tão lindo! O medo nos seus olhos é tão delicioso! Onde estão seus amigos?

- eu não sei. Ficaram na margem do rio

- você disse a verdade. Agora me diga o motivo de vocês estarem andando por estas terras

- vamos visitar nossos parentes distantes

- mentira! -o mesmo gritou- você está mentindo! Se não me disser a verdade, tirarei seus olhos

Tento me soltar o mesmo mas minha força é inútil, pois nada muda, ele nem ao menos se mexe

- se eu te mostrar como a vida aqui é boa será o suficiente para te fazer falar?

- você não vai tirar meus olhos!

- olhe no fundo dos meus e me diga o que você vê

Luto contra isso para não olhar em seus olhos, Caecus se irrita e solta um forte grito, tão ensurdecedor e assustador ao mesmo tempo que o pavor fez meus olhos se abrirem e dentro do buraco de seus olhos pude ver o mundo lá fora.
Há tanto para se fazer, tanto para se ver, há diversão, festas, belos riachos, fico deslumbrada com tudo isso. Vou andando até às pessoas que se divertem e me divertido com elas jogando cartas e depois bebo um pouco de vinho. Há um circo móvel na cidade, os palhaços andam em triciclos e fazem muitas palhaçadas, solto uma gargalhada sincera, algo que não solto a muito tempo

O Soldado, O Poeta e o Rei [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora