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Anna

Enquanto estou prestes a dar mais um passo para ir em direção ao portão automático da garagem, ouço barulho de passos e rapidamente me escondo atrás do primeiro carro que vejo.

Estou com a arma em mãos e fico encolhida esperando o que fazer em seguida, ouço uns burburinhos cada vez mais perto de mim e respiro fundo torcendo para que não me vejam aqui.

Mascarado 1: Porra! Metade dos nossos foram mortos. — Ouço a voz grosseira atrás de mim, aparentemente irritado. — Pelo menos um deles foi abatido também, mas prejuízo pra gente da mesma forma.

Mascarado 2: Os cara do Pierre são bem treinados, pique militar dos estados unidos pô. — Passos vão e vem e fico tensa, com medo de que saibam que estou aqui. — Sabe que não vão facilitar nada, só espero que consigam pegar a menina.

Mascarado 1: Provavelmente já entraram no apartamento que ela tá, nessa hora já devem tá descendo com a piranha. — Fecho os olhos com força, um arrepio na espinha tomando conta de mim. — Bora subir pelas escadas de emergência, pode ser que a gente encontre algum engraçadinho.

Após isso ouço os passos deles se distanciando e a porta de metal sendo aberta, e depois fechada com força.

Espero mais alguns segundos e levanto o corpo com cuidado e observo o local, que aparentemente agora só tem eu e os corpos mortos no chão.

Dou mais uma checada e corro em direção ao portão automático, subo a rampa com pressa olhando sempre ao redor a procura de algo suspeito.

Quando chego no portão me dou conta que não tenho a porra do controle para abrir, vou ter que dar uma de macaco de novo e escalar essa porra para sair.

Ponho a glock de volta no cós da calça e coloco um pé na abertura do portão, e depois o outro, e assim sucessivamente até chegar no topo.

Olho para os dois lados da rua que está completamente vazia por conta da hora, tudo escuro e sem uma alma para contar história a não ser eu.

Viro meu corpo rapidamente e começo a escalar o portão agora para descer, quando chego ao chão ouço um barulho muito alto como se fosse alguma bomba sendo jogada na próxima rua.

Vejo uma lixeira grande há alguns metros de distância de mim e corro até ela, me escondendo atrás, quem vier de frente não me verá ali.

Desconhecido 1: Liga pra polícia, tem muito homem armado entrando no condomínio! — Uma voz feminina desesperada fala enquanto ouço passos correndo. — Tô indo pra principal, me encontra lá.

Os passos se distanciam e novamente estou sozinha, por enquanto.

Respiro fundo sentindo uma dor insuportável no pé da barriga e dou mais uma olhada ao redor, decido correr na direção contrária de onde tudo está acontecendo, coloco o capuz da minha camiseta na cabeça afim de tentar me esconder caso alguém me reconheça.

Três minutos depois encontro uma rua sem saída, basicamente um beco escuro e com um cheiro de urina imenso, respiro fundo para não vomitar e pego minha arma apontando para frente.

Sigo em frente olhando sempre ao redor e vejo que não tem ninguém por ali, vejo outra caçamba de lixo e corro em direção a ela, me escondendo atrás.

Dou uma última olhada e pego meu celular para tentar ligar para o Lopes, ninguém está me atendendo e estou desesperada.

Não conheço nada de São Paulo, não sei nem para onde ir.

Disco o número do Lopes e para variar cai direto na caixa postal, meu Deus, eu tô ferrada.

Sabe aquela sensação de quem tudo vai dar super errado e você não vai sair dessa com vida? Pois então, é isso que estou sentindo.

Não sabendo mais o que fazer eu mando minha localização em tempo real para todos meus amigos, Rô, Íris, Preto e mando para o Lopes também.

Independente do que acontecer comigo, pelo menos vão poder encontrar meu corpo...eu espero.

Guardo o celular novamente e decido sair dali e tentar ir o mais longe possível dessa bagunça, rezando para não me acharem no meio do caminho.

Vejo que já é mais de meia noite, quase suicida uma mulher estar andando essa hora por São Paulo sozinha, mas eu tenho uma arma...pelo menos isso.

Ando em passos rápidos em direção a saída do beco e olho mais uma vez para os lados, tudo limpo por enquanto.

Pego a esquerda e vejo que no final da rua tem uma avenida, corro até lá pois tem um número considerado de carros andando por ali.

Mais uma loucura que estou prestes a cometer, tenho certeza que depois de hoje Deus vai avaliar bem minha ida para o céu.

Me perdoa, mas eu estou desesperada pra salvar meu filho.

Sigo em direção à avenida e vejo vários carros estacionados na calçada, em frente ao que parece ser um barzinho.

Avalio bem quem será minha vítima e vejo um senhor de mais ou menos 62 anos de idade encostado em um dos carros, vai ser você mesmo.

Abaixo a cabeça e sigo até ele e quando estou bem perto coloco o cano da glock em sua cintura, apertando contra sua pele para ele saber que estou armada.

O corpo dele se retrai e falo baixo porém em bom tom para ele ouvir e me entender.

Anna: Me dá a chave do seu carro, agora. — Ele tenta olhar por cima do ombro e eu aperto mais a arma contra ele. — Tá destravada e não vou pensar duas vezes antes de atirar e pegar de você, me dá a chave agora!

Percebo que está trêmulo mas não retruca comigo, ele coloca a mão no bolso da calça apontando onde está a chave, sem pensar muito pego do seu bolso e empurro ele para sair da frente.

Me desculpe senhor, eu te devo uma.

Aperto o botão para destravar o carro e entro apressadamente no veículo, coloco a chave na ignição e saio o mais rápido possível dali.

Coloco meu celular no compartimento do painel e tento mais uma vez ligar pra alguém, mas o universo parece que me odeia e ninguém atende.

Abro o waze e coloco o endereço do aeroporto de onde viemos, não sei se terá alguém por ali mas se tiver tenho certeza que vão me ajudar.

Agora é ter sorte o suficiente para eu conseguir chegar lá viva, porque além dos bandidos estarem atrás de mim tenho certeza que a polícia também vai estar, eu roubei a porra de um carro!

Dou graças a Deus pelas ruas estarem parcialmente vazias, porque se tivesse pedestre eu tinha atropelado vários.

Sinto mais uma dor imensurável no pé da barriga e quando penso que não pode piorar sinto algo descendo e molhando minha calcinha, aquela sensação de quando você menstruou.

Diminuo um pouco a velocidade do carro e quando olho para baixo vejo minha calça, que é preta, completamente mais escura e molhada na parte da minha intimidade.

Estou sangrando.

Meu filho, meu Theo.

Não. Por favor, NÃO!

Vermelho Fogo [M] Onde histórias criam vida. Descubra agora