Vermelho Fogo [M]

94.

Anna

Eu sou uma idiota filha da puta.

Eu deveria estar feliz por ele finalmente largar o mundo do crime por mim para podermos ter mais paz em nossas vidas, mas por que eu sinto que tô tirando dele uma coisa que ele sempre quis?

Agora não sei pra onde ele foi e pela hora provavelmente deve ter dado uma passada no baile, quando ele voltar eu tento conversar com ele.

Suspiro pesadamente me sentindo a pior pessoa do mundo, essas alterações de humor ainda vão me matar.

Me levanto do sofá com cuidado e vou até a cozinha e vejo a embalagem com os lanches intocada, espero pelo menos que ele tenha almoçado.

Coloco o embalagem dentro do forno e decido pegar um pacote de pipoca para estourar no microondas, vejo a hora no relógio da parede e já são 00h15.

Vou até a lavanderia e pego um pijama limpo no varal e uma toalha, decido tomar banho no banheiro social aqui em baixo mesmo, não vou subir essas escadas até o quarto sem ajuda do Pierre.

Tomo um banho e aproveito para lavar meus cabelos, coloco meu pijama de shortinho e top e volto pra cozinha vendo que a pipoca já está pronta.

Pego um baldezinho e jogo todo o conteúdo ali, encho um copo com coca e vou pra sala, apago as luzes de todo o cômodo e me sento confortavelmente no sofá, pego o controle e decido colocar alguma coisa pra assistir na netflix.

Apoio o balde no topo da minha barriga e sinto minha boca salivar ao mesmo tempo em que o Theozinho mexe.

Anna: Já vi que tu gosta de pipoca, gordinho. — Falo sozinha e pego um punhado e coloco na boca, sentindo a satisfação se derreter junto da manteiga. — Bom a beça.

30 minutos se passaram e eu não consigo me concentrar em assistir o que tá passando na TV, no momento em que penso no Pierre ouço o ronco da moto dele e sei que ele chegou.

Meu coração dispara e deixo o balde de pipoca pela metade em cima da mesinha de centro, pego o celular e vejo que já é quase 1h da manhã.

Minutos depois ele abre a porta da sala e entra, consigo ver somente sua silhueta por conta do cômodo escuro.

Ele caminha em minha direção e se joga ao meu lado do sofá e na hora sobe um cheiro insuportável de whisky que me dá ânsia de vômito.

Anna: Ia tentar conversar contigo mas vi que hoje não vai dar. — Ele da uma risada sem humor para mim e me olha.

Pierre: Tu é chata pra caralho, tá maluco. — Respiro fundo e decido não filtrar as merdas que provavelmente ele vai me falar por estar caindo de bêbado. — Tá precisando de terapia mermo pra ver se deixa de ser assim.

Meu coração acelera e eu sinto uma vontade imensa de chorar, mas não vou levar em consideração uma pessoa bêbada dizendo porcarias, por isso me levanto do sofá em silêncio e levo o balde e o copo para a cozinha.

Deixo para lavar amanhã e quando passo pela sala vejo que o Pierre dormiu do jeito que ficou, nego com a cabeça e cubro ele com a manta que eu estava usando. 

Olho para as escadas e respiro fundo começando a subi-las com calma para não forçar nada, finalmente chego no quarto e me deito na cama pegando o meu celular.

Entro em um aplicativo de terapias e marco imediatamente com uma psicóloga renomada aqui no Rio, todo mundo fala muito bem dela.

Sinto lágrimas queimando pelos meus olhos e minha cabeça dói quando volto a pensar no que o Pierre me disse, estamos errando demais um com o outro.

Minha vontade era de pegar minhas coisas e ir embora para bem longe, mas agora eu tenho algo na qual nos liga eternamente.

Mando uma mensagem para Íris e pergunto se ela poderia me acompanhar amanhã na sessão, ela responde na mesma hora e disse que sim e que estaria aqui para me levar.

Deixo o aparelho carregando em cima da mesinha de cabeceira e me ajeito na cama de forma confortável e fecho meus olhos tentando descansar minha mente é meu corpo, cinco minutos depois ouço a porta do quarto sendo aberta e sei que o Pierre.

Ele murmura na língua de bêbado dele e logo ele se deita atrás de mim e me abraça de conchinha.

Pierre: Eu te amo pra caralho e vou tirar tu e a nossa cria dessa favela quando me liberarem daqui, prometo... — Ele fala todo embolado mas entendo cada palavra. — Mermo tu braba por causa disso, ninguém mais vai mexer com vocês.

Fico em silêncio e respiro fundo sentindo meu coração bater na boca, não vou retrucar ele agora pois quero conversar quando ele estiver 100% sóbrio.

A respiração dele fica pesada e sei que agora dormiu de verdade, abraço seu braço e me aconchego em seu colo, deixando o sono tomar conta de mim e rezo para amanhã ser um dia mais tranquilo.