Prólogo

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Se esse livro chegou em suas mãos, é porque eu tomei a decisão mais louca da minha vida, e simplesmente não me importo mais com absolutamente nada. E antes que você se pergunte se essa é mais uma história de Goody Addams, preciso trazer verdades dolorosas: Goody Addams está morta há mais de vinte anos, foi cremada e suas cinzas jogadas no mar em Hamptons, Nova York.

Resolvi trazê-la de volta a vida há cinco anos quando encontrei um dos seus diários, e assumi sua identidade. Mas eu não me sinto uma impostora. Eu e Goody temos algo em comum, somos apaixonadas pelas histórias de vida de outras pessoas, e isso me tira um pouco da culpa de ter atrapalhado seu descanso eterno com a fama e a obsessão de pessoas desconhecidas.

Nunca pensei que transformaria Goody em um fenômeno mundial, fazendo com que o mundo literário esquecesse autoras transfóbicas milionárias. Eu posso até odiar o fenômeno Goody Addams, mas sou obrigada a reconhecer que esse foi um feito muito útil.

Me acostumei durante esses cinco anos a contar histórias de outras pessoas, transformá-las em sucessos mundiais, quebrando meus próprios recordes, fazendo com que milhares de outras pessoas se identificassem ao redor do mundo, ou apenas tivesse alguns momentos de folga de suas realidades patéticas. Pessoas são interessantes, mesmo eu não gostando tanto assim de tê-las por perto.

Perdão, esqueci de me apresentar, meu nome é Wednesday Addams. Desde muito nova eu percebi que eu era diferente das outras crianças. A gritaria em excesso, correria e mãozinhas meladas de doce me incomodavam. Na adolescência o meu objetivo era ser invisível, e isso me rendeu o apelido dado pela minha mãe de beladona. Sim, beladona, tudo junto, e não bela dona que seria uma mulher bonita. Beladona é como é conhecida a Atropa Belladonna, uma planta que em lugares favoráveis pode chegar a um pouco mais de um metro e cinquenta de altura que para se desenvolver precisa estar em um ambiente húmido e sombrio, possui uma alta toxidade, por isso raramente é utilizada em jardinagem, portanto, a Beladona não existe para ser exibida ou admirada. Acho que ganhei esse apelido porque é exatamente assim que as pessoas me veem, mas não você, você não me via assim.

Agora eu falo diretamente com você, e você sabe que você é você.

Estou aqui, de volta ao meu mundo sombrio, obscuro e frio, depois de ter sido exposta à luz e ao calor, me sentindo completamente despida, pronta para assumir os meus demônios porque você pediu. Isso é por você e só por você. Se algum dia você ler esse livro, trate-o com o carinho que você sempre me tratou, eu tenho a esperança que você o leia e me perdoe.

Desculpe-me por estar sendo repetitiva e ficar mencionando a palavra você a cada reposição de oxigênio, mas é porque você mudou completamente a minha vida. Meu mundo cinza, preto e branco ganhou mais cores, mesmo com as mechas de cabelo coloridas já desbotadas, você trouxe mais música para a minha vida, mesmo eu crescendo rodeada de partituras e instrumentos, você trouxe a vontade de viver à uma pessoa fisicamente saudável, mas emocionalmente e mentalmente fragilizada, você me fez sentir medo de perder a pessoa que eu amo, mesmo sabendo desde pequena que todos morreremos sozinhos. E talvez o mais importante, você fez azul ser minha cor favorita, porque azul me remete ao céu limpo no verão, sua estação favorita, azul me faz lembrar dos seus olhos brilhantes e da sua camisa que eu mais gosto e que até hoje não devolvi.

Se você estiver lendo esse livro, por favor entenda: é por você que eu estou enterrando Goody Addams.


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Oi gente! Essa história está na minha cabeça há muito tempo, então espero que agora ela funcione kkk

Lembrando que os dias de postagem de La Belladonna serão terça e quinta, os capítulos serão longos, então quero ter um tempinho maior para trabalhar neles, blz?  

La Belladonna  (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora