Capítulo 12

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Por favor, apenas tirem um tempo para escutar essa música <3

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Conhecem o lema do comissário de bordo? Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Coloque a máscara de oxigênio primeiro em você. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o elástico em volta da cabeça e só depois auxilie os outros, caso necessário. Isso quer dizer que VOCÊ PRECISA ESTAR BEM PARA AJUDAR O OUTRO A FICAR BEM, CARALHO! Não sei se o momento é oportuno, mas logo logo você irá perceber: Enid sempre virá em primeiro lugar, independente se o avião está caindo ou se ela está desconfortável por algum comentário ou situação constrangedora. Com ela eu não consigo ser egoísta, e pensando em seu bem-estar eu acabo sendo impulsiva e muitas vezes irracional, passo por cima de tudo e de todos, e claro, acabo sendo inconsequente. Essa inconsequência ainda vai me custar muito caro. Mas ainda estamos no início do meu declínio, o fundo do poço ainda está distante, e como diria Jack o estripador: vamos por partes.

Tentamos retomar a conversa durante o jantar, mas logo o silêncio constrangedor voltava a nos rondar. Sinclair estava visivelmente incomodada por ter sido pega em um momento de vacilo. Calma, você apenas estava encarando minha boca enquanto eu traduzia uma música completamente sensual sobre um amor louco e inconsequente, com uma pitadinha de irresponsabilidade emocional. Não é como se você tivesse arrancado a minha roupa. Argh... quem eu quero enganar? Isso é constrangedor. Mas será que ela se sentiu constrangida por ter sido pega ou por estar curiosa? Ah não, não sou google para lidar com mulher curiosa. Vou manter o foco, é o que me resta, e tentar afastar esse climão.

- Sobremesa? – Perguntei quando a vi terminar a taça de vinho.

- Claro – ela concordou – quer que eu te ajude a levar essas coisas para a cozinha? – Enid me perguntou ao me ver recolhendo os pratos.

- Não precisa – sorri – dou conta sozinha.

- Ok – ela falou baixo e deu de ombros.

Levei boa parte da louça na primeira viagem, voltei para pegar a panela e Sinclair mexia no seu celular, provavelmente conversando com alguém. Peguei a panela vazia sobre a mesinha de centro e quando voltei para a cozinha, coloquei tudo na lava louças e deixei que ela realizasse o seu ciclo. Peguei o pote de sorvete no freezer e duas colheres.

- Algum problema? – Perguntei voltando a sentar ao seu lado enquanto ela fazia uma cara feia para o celular.

- Não – ela sorriu balançando a cabeça negativamente – apenas Yoko sendo uma completa idiota.

- Hum... aqui – lhe entreguei a colher e abri o porte de sorvete – vocês parecem ser bem amigas – peguei um pouco do sorvete e levei até a boca.

- Na verdade mais que isso – arqueei as sobrancelhas um pouco surpresa. Como assim mais que isso? – Ela é a irmã mais velha que eu nunca tive.

Ufa... irmã, ok!

- Você falou que via Ajax como irmão – lembrei enquanto ela pegava um pouco do doce.

- Sim, acho que lá na livraria acabamos virando uma espécie de família, os filhos adotivos e problemáticos da Senhora Weems – ela riu, mas não havia humor em seu riso.

- Problemáticos?

- Ninguém é muito saudável ali, nem fisicamente e nem psicologicamente, mas somos gente boa, pode acreditar.

Enid saboreou um pouco mais do sorvete enquanto eu avaliava suas palavras. Eu não sou muito saudável psicologicamente, muito menos fisicamente, certeza que falta um pouco mais de vitamina D ou ferro no meu corpo, mas será se eu era gente boa?

La Belladonna  (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora