Capítulo 18

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Sabe Sinclair, estou me perguntando como conseguirei passar essa noite depois de tantas dividindo a cama com você. Ainda estou aqui no escritório depois de longas horas, sem nenhum sinal de sono, enquanto meus dedos maltratam as teclas do computador para escrever essa história. Não quero voltar para o meu quarto, noite passada você estava lá, antes de tudo ser despejado sobre sua cabeça, noite passada a cama estava quentinha, os travesseiros macios, hoje eu só consigo imaginar que devem ter virado concreto, o cobertor deve estar áspero e o quarto claro demais, nenhum pouco convidativo para uma boa noite de sono.

Acordei na manhã seguinte sem o despertador, o que achei estranho porque normalmente ele grita no meu ouvido. O quarto estava escuro e por um segundo pensei que ainda fosse de madrugada, até perceber que a fresta de luz que Enid havia me pedido para deixar na noite passada não existia mais. Passei a mão pela cama e ela estava fria e vazia.

- Nid? – Por um momento acreditei que você estivesse no banheiro.

Estiquei meu braço e alcancei meu celular sobre a mesinha de cabeceira, olhei o visor, nove e trinta e dois. Merda! Obriguei meu corpo a levantar, fui até a janela e puxei as cortinas grossas, meus olhos queimaram com a claridade do dia e eu praguejei milhares de palavrões em minha cabeça. Quando me acostumei com a claridade, observei o quarto ao redor, a cama com os dois lados bagunçados e as minhas roupas que ontem a noite estavam espalhadas pelo chão, agora estavam dobradas sobre uma poltrona no canto do quarto, junto com o conjunto de moletom preto que você usou durante a noite, e no topo da pilha a blusa azul que fiz questão de anunciar que eu iria roubar. Peguei a peça cor de céu que não deveria valer mais de quinze dólares, afastei a pilha de camisetas escuras e a coloquei dentro do meu closet, no cantinho, se destacando como um pontinho de luz.

Enid deveria ter me acordado, poderíamos ter tomado café juntas, eu a acompanharia até a livraria, não entendo porque decidiu sair na surdina. Desci as escadas depois de ter tomado banho e trocado de roupa, e encontrei Sra. Thornhiil na cozinha, colocando algumas frutas na geladeira.

- Bom dia, senhora Thornhill.

- Wednesday, bom dia – ela olhou para trás sorrindo – comprei cerejas, estão bem novinhas.

- Obrigada – sorri – eu gostava de cereja, a fruta, não aquelas que colocam em sorvetes ou bolos. – Sra. Thornhill, a senhora por acaso fez algo para o café da Enid?

Perguntei acreditando que as duas tivessem se esbarrado pela sala, e conhecendo a governanta que eu tenho, ela não iria deixar Enid sair sem comer, e conhecendo Enid o pouco que já conheço, ela não iria dizer não. Mas a expressão confusa estampada no rosto da mulher ruiva e de óculos grandes diante de mim, me fez entender que nada disso aconteceu.

- Desculpa, quem?

- A senhora não encontrou ninguém aqui em casa quando chegou hoje de manhã?

- Não – ela me respondeu com o cenho franzido – por sinal, a porta não estava trancada, iria até lhe falar sobre isso, pensei que tivesse esquecido.

- Não, eu não esqueci – que horas ela foi embora?

Sinclair havia dito que iria ficar. Por que sentiu a necessidade de sair dessa forma? A livraria não abre tão cedo assim. Fui até o armário onde ficavam os meus remédios, peguei o frasco de comprimidos e tomei o que tomava todos os dias de manhã.

- Quer que eu faça algo para você tomar café? – Sra. Thornhill perguntou.

- Não, obrigada. Vou comer algo na rua, quero andar um pouco pela cidade. A tarde eu vou encontrar minha mãe e meu irmão, não precisa me esperar, quando terminar pode ir.

La Belladonna  (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora