La Belladonna (Wenclair)

Capítulo 34

Capítulo quentinhoooo

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Eu sei o peso que o sobrenome Addams tem no ciclo social em que eu cresci, e sei também as caras feias que recebemos dos Smith, Thompson, Moore, ou de qualquer outro sobrenome de famílias americanas. Ver uma família de imigrantes ascender e alcançar lugares que pertenciam a eles, enquanto nós deveríamos estar escondidos em quartos de hotéis, trocando a cama ou limpando o banheiro, deve ser realmente um chute no estômago para um país pouco acolhedor como o nosso. Goody me falou uma coisa quando eu era muito pequena, em uma época que sua saúde não era tão frágil, eu era realmente muito novinha, mas lembro perfeitamente dos olhos castanhos presos aos meus, seu rosto enrugado muito próximo ao meu, enquanto ela dizia as seguintes palavras: Nunca deixe ninguém dizer a que lugar você pertence. Enid, se você ainda estiver lendo esse livro e se ainda achar válido qualquer coisa que eu ainda tenha para lhe falar, gostaria que você aceitasse as palavras de Goddy, nunca deixei ninguém dizer a que lugar você pertence, Cielo.

- Eu li algo a respeito disso – Enid falava animada com minha tia Aziza – foi em um livro. É... como é mesmo o nome? – Ela falava com o indicador sobre o queixo, pensando – Se não me engano é Cultura e Desenvolvimento na África e a Diáspora.

- Exatamente – minha tia balançou a cabeça admirada, com um sorriso singelo no rosto.

- Eu só não lembro os autores, me recordo que são mais de um.

- Memória excelente, são quatro, Ahamad Sheuh Abdussalam, Ibigbolade Aderibigbe, Sola Timothy Babatunde, e Olutola Akindipe. Como você sabe tudo isso, meu bem? – Minha tia perguntou antes de dar um gole em sua champagne.

- Enid trabalha em uma livraria, tia – respondi colocando a mão sobre a coxa da mulher loira que me acompanhava – e ela gosta de ler os livros da livraria para poder ajudar os clientes com as escolhas.

- Sério? – Meu tio Fester perguntou surpreso – você já leu todos os livros.

- A grande maioria – ela falou tímida.

- Nid – meu avô chamou – tem algum livro sobre peixe?

- Peixe? – Enid inclinou a cabeça achando estranha a pergunta do senhor.

- Vô, pelo amor de Deus – meu irmão riu balançando a cabeça – a titia falando de diáspora e o vovô me joga um peixe no meio da conversa.

- Ué, qual o problema? Eu gosto de peixe. – O senhor de idade resmungou.

- Alejandro ama a vida marinha – minha avó explicou inclinando seu corpo em direção a Enid – não aguento mais documentários sobre corais.

- Ah sim – Sinclair sorriu. – Bom, se não me engano tem algum guia de vida marinha tropical. Mas eu não tenho certeza se já foi vendido.

- Verifique para mim, filha – ele falou erguendo o indicador da mão apoiada sobre a mesa – e você me entrega no Dia de Ação de Graças.

- Eu vejo isso para o senhor, vovô – falei – e deixo na sua casa.

- Não – ele balançou a cabeça negativamente – eu pedi da Enid. – Ele falou da mesma forma que falava quando eu e Pugsley éramos crianças, e não obedecíamos o que ele falava na primeira vez que era dito. – Quero garantir que vamos vê-la novamente. – Ele sorriu, satisfeito com sua astúcia anciã.

- Obrigada, Senhor Addams – Enid sorriu – eu vou ver e trago para o senhor.

Segurei na mão de Enid sobre a mesa, puxando para o meu colo e deixando nossos dedos entrelaçados. A conversa na mesa seguiu tranquila, até que a música parou e todos os convidados olharam para o palco sincronizadamente.