Enid, você sabia que os países que mais doam órgãos em relação a quantidade de transplantes por milhão de habitantes são: Espanha, Bélgica, Malta, França, República Tcheca, Finlândia e Noruega? Não? Bom, eu também não sabia, estou sabendo agora porque preciso ocupar minha mente com outras informações. Fico repetindo a fórmula de Bhaskara quase como um mantra para me librar de pensamentos perturbadores. Eu nunca precisei usar a fórmula de Bhaskara, mesmo sabendo muito bem como utiliza-la. Você lembra a última vez que você usou Bhaskara, Nid?
O céu de Nova York já começava a ficar uma mistura de laranja com roxo à medida que o sol ia se pondo. Eu estava no terraço da galeria da minha mãe, hoje ela estava no instituto, então não me incomodaria com suas perguntas. Quando anoiteceu totalmente, um dos funcionários veio avisar que precisaria fechar, já eram sete horas, eu sabia disso porque era a hora que a galeria fechava, e não por ter um relógio no meu pulso, mas eu o dispensei, eu mesma fecharia. Eu tinha uma chave reserva para casos de emergência, não só da galeria, como do instituto, da clínica, apartamento do meu irmão e casa dos meus pais, mas quando saí de casa eu não lembrei de pegar. Desliguei meu celular assim que ele começou a chamar incansavelmente com o nome Cielo brilhando na dela. Eu não conseguia falar com ela, não agora, então desliguei o aparelho. Me perguntei quando seria a última vez que eu viria ver seu nome brilhar na tela do meu celular, a última vez que ela me ligaria, a última vez que escutaria sua voz.
- X é igual menos B, mais ou menos raiz de B ao quadrado, menos quatro AC, tudo isso dividido por dois A.
- Mas que nerd desgraçada você é – olhei na direção da porta de aço e vi Pugsley – Bhaskara não vai te ajudar a fugir da realidade. – Ele caminhou calmamente em minha direção.
- O que está fazendo aqui?
- Enid ligou para Bianca apavorada, falou que você tinha sumido há horas e não atendia o celular. Bianca me falou e bom... – ele deu de ombros – aqui estou eu. Não foi difícil de imaginar onde você viria se esconder.
- Está com sua chave? – Perguntei.
- Sim.
- Ótimo, se não eu teria que fechar o prédio com a chave que fica na sala da mamãe e teria que voltar aqui amanhã para devolver. – Expliquei.
Pugsley sentou ao meu lado sobre a plataforma alta de concreto, eu prendi meu olhar na vista de Nova York, cheia de prédios e arranha-céus. Meu irmão ficou em silêncio ao meu lado, admirando a mesma vista, ele respirou fundo e encostou seu ombro no meu, empurrando meu corpo com cuidado.
- Vocês brigaram? – Ele perguntou por fim e eu balancei a cabeça negativamente antes de responder.
- Não – parei para avaliar a forma que saí de casa e decidi mudar minha resposta – sim - respirei fundo – eu não sei, Pugsley.
- O que aconteceu?
Olhei para o meu irmão, ele tinha um olhar cauteloso e não curioso, ele parecia sereno e por um momento acreditei que ele tivesse a resposta para todos os problemas do mundo.
- Se eu contar, você promete não falar para a Bianca?
- Irmão, Irmã, companheiras a parte – ele respondeu e eu sabia que ele guardaria essa informação para si.
- Ok – respirei fundo – Enid vai parar o tratamento. – Externalizar essas palavras fez com que meu medo tomasse forma e parecia ainda mais doloroso.
- Como é que é? – Pugsley perguntou baixo, sem alterar sua voz, erguendo as sobrancelhas de uma forma sutil.
- Isso mesmo que você ouviu – voltei a olhar para a Manhattan agitada e barulhenta – ela pediu para conversar com a Dra. Kinbott, eu pensei que ela precisava de ajuda para lidar com tudo o que o papai havia falado para ela, mas na verdade, ela precisava de ajuda para me informar sobre a sua decisão. – Balancei a cabeça negativamente.
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La Belladonna (Wenclair)
FanfictionWednesday Addams vivia escondida atrás da fama e da memória de Goody Addams, mas após conhecer Enid Sinclair, ela terá que abrir mão dos seus medos e receios para assumir o seu lugar ao sol.