Capítulo 4

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Ai ai... eu e meu poder de não cumprir com a minha palavra kkkkkk Olha só quem apareceu com post e nem é segunda-feira :D

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Quando abri os olhos na manhã seguinte, meu pensamento foi direto em Enid. Sem dúvida alguma a minha ida até aquele bar fez com que eu quebrasse muitas correntes que me limitavam. Eu estava em um lugar desconhecido, com uma pessoa desconhecida, em um ambiente que eu julgava sujo e inapropriado para a saúde de qualquer pessoa, mas por algum motivo, eu senti que eu devia estar ali, por algum motivo ela me fazia querer estar ali, mesmo sabendo que ela me contava mentiras.

Provavelmente nesse momento Enid está me achando uma descontrolada, principalmente depois do meu ataque de pânico que para alguém de fora foi algo literalmente do nada. No meio daquele caos, uma coisa me chamou atenção: ela deixou que eu decidisse a hora de ser tocada. Fui criada em uma família muito afetiva e carinhosa, abraços, beijos, carinhos e elogios sempre foram abundantes, mas por algum motivo eu nunca soube muito bem lidar com eles. Expressar o que eu sinto é difícil, é como se falar um "eu te amo" fosse algo extremamente elaborado, abraços calorosos então... Não lembro a última vez que realmente abracei alguém além de pura cordialidade, nem mesmo Xavier. Quando realmente estávamos esbanjando carinho, andávamos de mãos dadas, dormir abraçada com alguém, jamais, é sufocante. Ao contrário da minha família, a família Thorpe era mais fria, demonstração de carinho em público era sinal de vulgaridade, então isso era só mais uma das comodidades que me fez manter um relacionamento com Xavier por quatro anos. Mas o foco aqui não é o Xavier, é a Enid, em como ela teve a sensibilidade de perceber o que estava acontecendo. Talvez Enid realmente seja uma boa personagem.

Levantei da cama e tomei um banho rápido. Me sinto realmente animada para hoje. Hoje é sexta-feira, as sextas são importantes, eu gosto das sextas, e acredite, ao contrário das outras pessoas da minha idade, a minha preferência pela sexta não é o Happy Hour ou a balada mais tarde.

Vesti uma roupa confortável e fui para cozinha, encontrei Sra. Thornhill arrumando dois vasos de flores e fiz careta para um deles.

- Begônias cor de rosa? - perguntei ao sentar na bancada da cozinha com o meu café já servido com ovos mexidos, torrada, iogurte natural com frutas vermelhas e café preto.

- Achei que a casa estava precisando de um pouco de cor - ela falou naturalmente, me olhando sobre os grandes óculos de armação azul.

Sra. Thornhill, era como uma segunda mãe, sem a pressão que o relacionamento mãe e filha exige, sempre com seus cabelos ruivos presos em um coque e seus olhos escuros escondidos atrás das lentes dos seus óculos. Ela era atenciosa e cuidadosa, trabalhava comigo desde que terminei a faculdade, por insistência dos meus pais que acreditavam que eu não daria conta da cobertura sozinha, de certa forma eles estavam certos, eu não dou conta nem de mim sozinha. Na época eu vi isso como um meio deles encontrarem meu corpo sem estar em um estágio avançado de decomposição, já que eu facilmente me escondia por dias sem dar sinal de vida, mas talvez só fosse uma superproteção paternal.

- Mas precisava ser cor-de-rosa? - Perguntei erguendo o canto do meu lábio superior.

- Esse apartamento está precisando de cor - ela olhou para mim com as sobrancelhas erguidas, o que por instinto fez com que eu olhasse para as minhas roupas pretas.

Rolei meus olhos e ela sorriu vitoriosa, levou o vaso para a sala e eu a vi colocar em uma mesinha de canto. Comecei a saborear os ovos mexidos, enquanto Sra. Thornihill tentava alinhar as flores rosas em uma posição que ela achasse adequada, dei um gole no meu café e ele ainda estava bem quente, me fazendo queimar a língua.

La Belladonna  (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora