Eu não sabia que seria tão difícil.
Recomeçar do início, caminhar para o fim, nadar em ciclos e ciclos inacabáveis e intermináveis.
Reconheço que tinha um pequeno grau de consciência da dificuldade e do que encontraria nas encruzilhadas e becos dessa vida, mas acho que não tinha total noção para reconhecer toda essa sua imensidão.
É necessário pulso e também coragem para fazer parte desse ato, dessa grande peça de teatro que é o mundo e que é o personagem enigmático bicho-homem, ser-humano, mental-racional.
Eu tinha algumas projeções, sim confesso, mas nada tão fiel e tão fidedigno que deixasse tão escancarado as portas desse mundo de febre, de fome, de fúria, de forças, de feras e de guerras.
Não tenho mãos para espadas e não tenho estômago para não chorar por tanto sangue derramado, não tenho lanças e também não tenho alvos.
Meu corpo já foi por muito tempo fardo e agora está farto de se embolar em novelos marasmos, de chorar catarses e se afundar em metástases.
Eu sabia que seria tão difícil.
Recomeçar do fim, caminhar para o início, correr ciclos e ciclos inacabáveis e intermináveis.
Reconheço com consciência, por mais que ainda seja tão pequena, a dificuldade e a ausência e a presença das cenas, das falas, dos cenários, do roteiro, do palco. Abraço esse corpo e essa fala e agora vou na direção do meu próprio enredo.
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As Luas de Júpiter
PoetryAs Luas de Júpiter é uma obra autoral com mesclas cronistas e características da poesia. Construída sob uma narrativa abjeto, um experimento literário de dar corpo e identidade para a subjetividade de um lugar, um sentir, uma inspiração que nominei...