Um beijo de língua forçado com dentes afiados e amolados
engolida por um céu nublado repleto de estrelas mortas sucumbindo farelos de luz em sua órbita
sorrisos de escarros amarelados
acorrentados em todos os seus pecados
joelhos cansados de articulações acabadas e lesionadas
envergados sob o chão de cimento pavimentado pelo sofrimento
as mãos calejadas, mal tratadas juntas,
enlaçadas pelos nós e pela misericórdia
cordas arrebentadas, notas desafinadas
canelas inchadas, barrigas esfomeadas
bituca de cigarro entre os dedos, outro gole de cachaça
lixo e descaso acumulado nas calçadas
entupindo boca de lobo
chuva que faz inundar essas ruas com lodo
a ironia e hipocrisia de cidadão que prolifera escárnio do povo
ratos de palco estão gordos já não conseguem mais voltar para o esgoto
a liberdade escancarada dentro da cabeça daquele louco
injeções, vacinações, lepra, vértebra
a morte faz mosteiro nas teias dos corações trancafiados e amargurados
que entope suas veias com suas misérias
TV com chiado, fio de gato, tomada tampando buraco
tocam-se os sinos, vão-se os gados
constroem-se cassinos, devorai-vos os dados
crescem-se raciocínio, cortai-vos os braços
beijo de farsa, miséria e tapas te beijam
sedento remelento em tua goela escarra
te faz prisioneiro e a própria cela
te esquarteja, te beija, te amarra faz queixa
te abandona, te deixa, te demoniza, te rejeita
depois volta, beija, jura que se ajeita
ali onde se deita, te ama. te aceita
as correntes que se arrastam e que consequentemente te amarram
te caça, te laça, lhe ama.
faz veludo sob pedras, faz navalhas sob camas
te engana, te suga, te surra, lhe ama.
se ajoelha, implora perdão, se rasteja aos seus pés
por fim te aprisiona, te engole, lhe ama.
te agarra, lhe vomita e te mata.
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As Luas de Júpiter
PoesíaAs Luas de Júpiter é uma obra autoral com mesclas cronistas e características da poesia. Construída sob uma narrativa abjeto, um experimento literário de dar corpo e identidade para a subjetividade de um lugar, um sentir, uma inspiração que nominei...