Eu detesto a forma como as coisas acabam
como domingos exaustos e tristes
quando o fim consegue ser mais expressivo e decisivo que o próximo início
o futuro das segundas-feiras...
todo término e toda separação tem lá suas inclinações para o luto
eu acho que estou vivendo todas as suas cinco fases ao mesmo tempo
às vezes eu tenho raiva
e num próximo momento estou em completo estado de negação
(percebi que é menos dolorido negar do que encarar os fatos como eles de fato são)
em outros tantos eu tento barganhar comigo mesma algumas alternativas subordinadas,
sei lá talvez fosse mais simples colocar tudo debaixo do tapete, isolar as paredes, trancar todas as portas e jogar as chaves fora...
fingir que nada aconteceu
depois destes momentos, emerge de dentro de mim uma depressão tropical que pouco a pouco vai se tornando tornado, tempestade, vendaval
eu mudo as coisas de lugar
esvazio as gavetas
redecoro as prateleiras
troco o vaso da planta sobre a mesa
mas em mim nada muda.
Eu continuo sangrando as paráfrases de todas as suas sentenças
me olho no espelho
(se é que consigo enxergar qualquer coisa que
conjugue o "eu" desta frase)
não reconheço esse corpo que tenta refletir qualquer coisa diante deste vidro transparente
não me reconheço, não mais.
E quando penso que estou finalmente me aproximando do último degrau, a aceitação,
tudo retorna para o final
as mensagens, as palavras, os vazios, as mentiras, as "desculpas", as discussões, a dor da verdade...
e novamente a raiva, a negação, o sofrimento, as falhas tentativas de reparação, a sedução duma conveniente negociação,
algo em mim morreu
e algo em mim está morrendo
tudo o que você deixou de memória foram todas as suas flores mortas
e o vazio escuro, amargo e frio do luto.
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As Luas de Júpiter
PoetryAs Luas de Júpiter é uma obra autoral com mesclas cronistas e características da poesia. Construída sob uma narrativa abjeto, um experimento literário de dar corpo e identidade para a subjetividade de um lugar, um sentir, uma inspiração que nominei...