Não são só palavras.

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Se eu fosse externalizar tudo o que eu penso e sinto
acho que conseguiria preencher todos os abismos
todas as lacunas curiosas de dúvidas espantosas

Se eu fosse verbalizar tudo o que eu penso e sinto
nem as páginas de todos os dicionários e livros seriam grandes o bastante para tal
na minha boca não caberia tantas palavras
tantas sílabas, tantos hiatos e ditongos

Às vezes penso, penso, penso
e já não sei o que mais sinto
às vezes sinto, sinto, sinto
e já não sei mais o que penso
queria um botão para desligar minha mente
e um ralo para esvaziar o meu coração

São horas e mais horas de indagações filosóficas e prosa
sabe, tem dias que parece ser eterno o
meu imaginário
e noites angustiantes de marasmos onde parece que o sol nunca mais nascerá novamente
e minha mente se faz fardo que me lança ao léu
laçando meus tornezelos com correntes
me carregando, me arrastando sobre os espinhos e navalhas
de tudo o que não é conhecido

Meu coração, coitado, muitas das vezes tão ingênuo se faz de bobo, abobalhado
vira tapete de asfalto onde é pisado feito capacho
só para bebericar, muitas vezes de gotículas, migalhas,
para experimentar do sabor do que é ser amado
e tudo isso fica amarrotado,
enganchado,
entalado,
nos nós noseados, nauseados
de minhas cordas vocais-garganta
de verbos os quais não são nomeados,
tão pouco escutados.

Pois não são relevantes, necessários
muito menos importante
são apenas palavras. - uma vez me disseram.
pois bem, eu digo que não são apenas palavras
é uma voz a ser proclamada, um mundo-corpo a ser desbravado
toda uma vida a ser narrada, todo um presente-futuro a ser remontado

Pois eu andei pensando nos últimos tempos,
que se eu for externalizar tudo o que penso e sinto
talvez haja tempo para reparar e nomear
tudo o que nunca me foi dito.

As Luas de JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora