Chaga

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Existe um buraco oco nestas capitais,
as ditas cidades das oportunidades
uma chaga aberta, um corte tão, mais tão
profundo
que é difícil conseguir enxergar o seu fim.

Alguns pisam por cima com seus sapatos de grife, feitos com solas de sangue
Papelão, viaduto, miséria, descaso, farol, buzina, tumulto
um pedido por esmola para estes corações enrijecidos, amordaçados, esquecidos.

Espalham pelas ruas migalhas,
que mapeam a rota da fome
No semblante do homem o corte da navalha
que apunhala, definha, retalha
a carne, os sonhos e a alma.

Outros fingem não ver nada, a indiferença é o prato chefe da casa e todos já provaram do teu gosto engodo
Alguns corpos são invisíveis para os olhos destas cidades cegas e insensíveis
vão varrendo tudo para o canto, para as valas e lá vão jogando tudo o que não lhe é útil
descartam pessoas como se descartassem lixo,
as margens das avenidas são depósitos onde
abandonam a vida.

Neste mundo de gente que nunca aprende a ser gente, se a moeda de troca viesse a ser o amor
seriam todos indigentes
Invertem o real valor e com isso o real lucra com a vigência do sofrimento e da dor
a pobreza não é indolor, tão pouco incolor.
ela tem seu alvo pré-destinado.

As ruas carregam marcas do passado em cada prédio, condomínio, vielas, avenidas, asfalto
em cada muro de concreto, em cada sujeito, frase, objeto.

O corpo da sociedade é podre
pobres são aqueles que se consideram nobres, a burguesia exala aroma de enxofre
o cheiro da morte.

Essa chaga não há ouro nem prata que faça curar
nem projeto cidadania que possa reparar,
se o mal deste lugar é subalternar, oprimir e explorar.

Está cravado, encrosto e pavimentado no gene social
a naturalização e a banalização perante o corte colonial
e como acabar com a miséria
se quem controla as cidades ainda são os miseráveis.

As Luas de JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora