Perquiridor dum sonho

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Não me reconheço às vezes, é fato.
Na verdade acho que mau me conheço ou bem melhor dizendo nem se quer me conheço.
Tudo isso o que vejo não me pertence, não me cabe, não lhe sirvo.
É um amontoado de pele sobre embaraços, sobre marasmos que me faz tão inquieta com tamanha dispepsia.
Tudo o que projetam e enxergam em mim simplesmente não vejo, não acho, não sinto.
Questiono muitas vezes à sanidade se tudo isso não passa de uma grande alucinação de uma mente exausta e cansada.
Às vezes são tantos delírios emaranhados sob cochilos que em alguns momentos não sei mais o que é real e o que é onírico.
São tantas noites embriagadas pela solidão que acabo caída bêbada, dopada em qualquer canto frio...
Sou acordada por uma menininha de olhos pequeninos, profundos e reluzentes, de chiquinhas tortas amarradas com pompons coloridos, que me cutuca bem a cara com seus dedos pequeninos, me sorrindo e me levando para o nosso mundo fictício guardado no fundo empoeirado de minhas lembranças.
Tudo o que acho que conheço não sei se pertenço.
O amor que não mereço.
Os sonhos que endureço.
As vozes, os vazios, os devaneios.
O passeio ao divã, as férias no inferno.
O paraíso efêmero de céus azuis, a felicidade pequena.
Se aqui ou ali, um dia enlouqueço.
Ou talvez de vez esqueço o que eu era
E maravilhosamente num reencontro
me conheço.

As Luas de JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora