Capítulo cinco

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Me sento na cama e suspiro. A minha cabeça está explodindo, estou cansada psicologicamente e morrendo de sono, mas não consigo dormir. Já se passaram quinze dias desde que o desconhecido me deixou em casa e eu, felizmente, não o vi mais. Mas, infelizmente, ele me marcou tanto que não consigo dormir sem ter pesadelos com ele e aquela mata, e muito menos consigo entrar no meu carro sem sentir o seu cheiro ou me lembrar dos seus olhos estranhos.

Por sorte, eu rapidamente entrei de férias do colégio e tenho uma semana de folga do trabalho, acho que o meu chefe viu que eu não estava muito bem. Não consigo dormir mais de duas horas por dia, e o meu subconsciente também não deixa que isso aconteça, me lembrando o tempo todo que eu dormi nos braços de alguém muito louco.

Além isso, eu não consigo parar de pensar que ele está sempre por perto e sabe tudo sobre mim. Já pensei em procurar a polícia, mas o que eu diria? Que acho que tem um homem me vigiando? Eles me diriam que têm mais coisas para se importar. Só que eu realmente não consigo me sentir confortável, nem trancada no meu quarto com porta e janela fechados.

Me levanto e ando em direção ao banheiro no corredor. A casa está com todas as luzes acesas e estou sozinha. Minha mãe trabalhou até tarde e disse que ia se hospedar no hotel que fica do lado da empresa onde trabalha, porque estava tarde demais para vir.

Eu e Amélia não nos falamos há seis dias, desde que ela apareceu na minha casa me perguntando se estava tudo bem. Ela não reclamou de eu ter aparecido na sua casa e parecia tão abalada quanto eu, mas não me disse nada, apenas me perguntou diversas vezes se eu tinha certeza que estava tudo bem e então foi embora. Nas três vezes que tentamos marcar de fazer algo juntas, alguma de nós inventou alguma desculpa, e isso é muito, muito estranho. Quero perguntar a ela se também viu um homem louco que é mais forte do que o comum e tem olhos estranhos, mas não consigo, seria demais.

Abro a porta do banheiro e olho para o chuveiro do outro lado do box. Enquanto tiro a roupa, não tenho coragem de desviar o meu olhar para o espelho ao meu lado. Sei que a minha aparência está horrível, com olheiras escuras e profundas, palidez desnecessária, lábios ressecados e o rosto amassado por ficar o dia inteiro deitada na minha cama.

Ele apareceu só duas vezes para mim e agora tudo parece tão diferente e ao mesmo tempo normal, como se eu sempre tivesse o sentimento de estar sendo vigiada, mas nunca parei para dar atenção a ele.

Deixo que a água quente do chuveiro caia nas minhas costas e ombros por longos minutos antes de me ensaboar e tentar não molhar o cabelo ao mesmo tempo. É incrível como em quinze dias eu emagreci tanto, não sabia que alguém era capaz de emagrecer tão rápido.

Termino o banho e abaixo o meu rosto em frente ao lavatório, molhando-o com água gelada. O choque térmico faz com que eu arrepie dos pés à cabeça. Visto a primeira roupa que encontro, não me importando se vou parecer surtada tanto na aparência quanto graças ao que visto, é madrugada e sair nesse horário já indica que não estou no meu estado normal.

Quando passo pela sala da casa, encontro o seu moletom no sofá. Eu começo a andar em sua direção, mas paro no meio do caminho e me afasto o máximo possível até chegar na porta.

Por mais que a vontade de voltar e sentir o cheiro na sua blusa seja grande, simplesmente para saber se tudo o que senti foi real, quero convencer a mim mesma que o meu ex-herói não me afetou tanto.

Eu dirijo ao único lugar por perto que tenho certeza que está aberto agora, onde fui com Amélia algumas vezes aproveitar o karaokê. Talvez lá, vendo os bêbados cantando e as vozes horríveis da maioria das pessoas, eu não pense nele.

Estaciono em frente ao clube e desço do carro vendo o quanto está movimentado, provavelmente é alguma noite especial. Depois de esbarrar em alguns conhecidos, consigo chegar em uma mesa vazia. Um garçom vem até mim.

– Um copo de água, por favor. – ele franze o cenho.

– Água? – assinto.

– Se ainda for de graça. – forço um sorriso. Ele ri de mim e sai, assentindo, já o vi aqui outras vezes e acho que estudamos juntos no ano passado. Depois de segundos tentando fazer a minha cabeça funcionar, me lembro que ele é praticamente irmão de Iuri, um amigo meu. Quando ele volta, parece mais conformado com a água que pedi.

– Ainda é de graça. – agradeço com um aceno de cabeça – A Amélia não veio com você? – olha ao redor, então finalmente me recordo de verdade dele. É Caio, o melhor amigo de Ian que tinha uma queda por Amélia desde quando me lembro de ter a conhecido.

– Na verdade... – me interrompo quando ouço uma voz familiar por perto – Veio. – soa mais como uma pergunta. Ele rapidamente leva os seus olhos para a mesma direção que eu.

– Amélia! – a chamo. Ela se vira para nós e mal nota Caio, que fica sem jeito.

– Oi. – se senta ao meu lado e lança um sorriso para o garçom, que se empolga e nos deixa em paz parecendo bem mais feliz do que antes.

Espero que ele se distancie o suficiente para que eu pergunte a ela o que eu quis perguntar desde que ouvi a sua voz embaraçada.

– O que aconteceu? – ela também está péssima, e talvez até pior do que eu.

Amélia assente negativamente, como se nada tivesse acontecido, mas depois de um segundo parece não conseguir mais segurar, seus olhos se enchem de lágrimas e ela se levanta indo para fora. A sigo.

Essa não. Não vou aguentar vê-la como eu.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora