Capítulo vinte e três

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Narrado por Elie
    12 de julho


  Eu olho para as árvores ao meu redor e semicerro os olhos enquanto procuro por qualquer movimentação que possa ser Sloan, mas não vejo nada. Tenho certeza que ele está aqui, mesmo sem saber porquê. Suspiro e me estico no banco, deitando. Fecho os meus olhos e me lembro dos dele.

  Depois de minutos com os olhos fechados pensando em tudo e ao mesmo tempo nada, eu ouço um barulho alto vindo do outro lado da mata, entre as árvores grandes e grossas. Me sento automaticamente.

  — Sloan? — é impossível impedir o meu coração de acelerar.

  Me levanto rapidamente e procuro alguém por perto, sentindo um fio de esperança e uma tonelada de medo. Um grito feminino e agudo ecoa até mim.

  — Quem está aí? — infelizmente, é óbvio que não é quem eu quero ver, mas me preocupo porque pode ser alguém que está perdido e se machucou. De repente, um ser pequeno e bonito pula para fora das árvores. Arregalo os olhos e me pergunto se ela ouviu quando eu conversava sozinha e tinha certeza que a presença por entre as árvores era de Sloan, e não dela. A mulher de pele negra e cabelos cacheados e volumosos, sorri amarelo ao dizer oi.

  — Oi. — respondo, confusa.

  — Eu sou... Sou a Luce. — gagueja. Seus olhos escuros estão arregalados e enquanto ela se aproxima sutilmente, e eu reparo na sua barriga volumosa.

  — Eu me chamo Elie. Você está bem? Eu ouvi um grito.

  — Sim, é que eu me assustei quando vi um esquilo. — sorrio, aliviada, mas quando me lembro que ela pode ter ouvido todo o meu drama, esse sorriso vacila.

  — Desde quando você estava aí?

  — Ah, já faz um tempinho... — Luce coça a nuca e eu sinto o meu rosto perder a cor. Será que a presença que senti era a sua em todo momento e eu acabei falando sozinha mesmo?

  Murcho como um balão.

  — Sim, eu ouvi tudo o que você disse. Me desculpa, eu não sabia como agir.

  — Ah... — arfo.

  — Desculpa, sério. Eu acabei chegando aqui sem querer, estou sozinha e a pé, então vi o seu carro e decidi pedir ajuda.

  — Você estava caminhando por aí sozinha? Como veio parar numa via deserta? — ela se encolhe e eu percebo que é uma longa história.

  — É uma história complicada... Eu posso me sentar? — aponta para o banco atrás de mim, eu assinto e a ajudo a se sentar. O corpo de Luce é pequeno demais para a sua barriga enorme.

  — Quantos meses? — pergunto ao me sentar do seu lado.

  — Quase oito. — força um sorriso, tentando fingir felicidade. Eu franzo o cenho ao ver a sua reação e ela repara — Bom, resumindo, é uma gravidez de risco. O meu namorado me abandonou, a minha família acha que eu sou louca, literalmente, a ponto de eu ter que fugir de um "hospital" e acabar ficando perdida por não ter como sustentar o meu filho. Ah, e agora eu estou me abrindo com uma estranha que conheci no meio de uma mata. — seus olhos estão fixados em alguma das árvores ao nosso redor. Algo me diz que ela não conversa com alguém há muito tempo.

  — Eu sinto muito. — digo depois de um tempo e ela parece despertar de seus pensamentos e se lembrar de mim. Luce sorri e tira os tênis com os próprios pés, ficando descalça. Ela veste uma blusa de moletom cinza e grossa, e uma calça marrom do mesmo tecido.

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