Capítulo sete

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Quando chego em casa, suada e ofegante, corro para o banheiro e tomo o banho mais rápido do mundo. Não ouço nenhum barulho vindo do quarto da minha mãe, e isso mostra que ela realmente resolveu sair. Não faço a mínima ideia dos lugares que ela frequenta quando não está trabalhando.

Não tenho tempo de esperar Amélia, quando saio de casa ela acaba de parar em frente ao meio-fio. Entro no Jeep azul da sua mãe e a primeira coisa na qual reparo são os seus olhos vermelhos, depois no coque desajeitado e nos óculos escuros presos no decote da sua blusa.

Nós chegamos no cemitério e há diversas pessoas espalhadas, todas de preto e chorando. Andamos até uma garota de pele morena e cabelo tingido de ruivo, alta e que deve ter por volta de vinte anos.

— Vay... — elas se abraçam e eu recebo um sorriso forçado.

Ele continua aqui. — diz, com o nariz da cor do seu cabelo.

— Não perca tempo pensando nele, se despeça da sua irmã e esqueça tudo isso. — a ruiva assente e volta a chorar abraçada a outras pessoas.

— Tem um homem causando um alvoroço aqui. — Amélia sussurra no meu ouvido.

— Por quê?

— Ele veio vestido de branco. — franzo o cenho.

— Não sabia que as pessoas levavam isso tão a sério.

— Também acho que não tem nada demais. Mas ao mesmo tempo é algo desrespeitoso, porque atrapalha aqueles que se importam com isso.

— Vamos começar o enterro? — um homem de terno diz, um pastor. Os choros se intensificam.

Todos se juntam ao redor do caixão, assim como Amélia, que abraça Vay e tenta confortá-la. É estranho não só porque não sei de onde a conhecemos, mas também porque me sinto algum tipo de penetra.

— Oi. — alguém sussurra atrás de mim.

Eu consigo ver a garota no caixão, ela veste um vestido azul escuro e tem a pele morena como a da irmã, está um pouco inchada, mas continua tão magra que posso ver alguns de seus ossos — continua sendo linda. Não sei a causa da sua morte, mas os arranhões embaçados por maquiagem me fazem entender que se tratou de um assassinato. É mais estranho ainda pensar em como alguém pode ser capaz de tirar a vida de outra pessoa.

— Oi. — arfo. Me viro para ver quem me cumprimentou e dou de cara com uma blusa gola V branca, calça jeans clara e sapatos escuros. Se não estivesse num lugar como esses, gritaria.

Ele abaixa os óculos e me olha. Tremo dos pés à cabeça.

— O que você está fazendo aqui? — controlo a vontade de chorar. Me sinto perseguida e em perigo.

— Oi, Elie. Vim no enterro de uma amiga, e você?

— A sua roupa... Você viu o que está causando à família dela?

— Eu vi, mas sou a única pessoa aqui que está pensando nela de verdade. — não entendo.

Todos ficam em silêncio e ele coloca os óculos de volta.

— Ore, mas ore de verdade e por ela. Ninguém está fazendo isso aqui além dele. — aponta para o pastor.

Quando todos voltam a chorar, eu termino a minha oração e ergo a caeça.

— É estranho vir no enterro de alguém que nem sabe o nome.

— Você a conhecia mesmo? — me refiro à garota morta.

— A Vanessa? — estou com vergonha de ser vista com o homem de branco, mas ninguém nos nota mais — Sim, mas tenho o costume de vir nos enterros aqui, às vezes.

— O quê? Por quê? — ele é mais louco do que eu imaginava.

— Já reparou que sou a única pessoa aqui que não está se lamentando? Qual a verdadeira diferença entre o branco e preto aqui?

Olho ao redor.

— Eu quero que ela finalmente tenha paz, Elie, os outros só estão pensando no quanto sofrem por ela ter morrido.

— Ainda acho você meio louco. — ele ri fraco.

— Daqui a pouco vai ter outro enterro, bem ali. — aponta — Te levo em casa para trocar de roupa, se quiser me acompanhar.

Está me convidando para um encontro? — depois que falo, sinto certo remorso por achar a piada pesada, limpo a garganta e ignoro o seu sorriso — Você praticamente me sequestrou, quase me abandonou numa floresta, machucou o meu braço e me faz ter pesadelos, por que eu devo ir em um enterro com você?

— Não se esqueça que eu salvei a sua vida. Além disso, eu percebi que você só acompanhou a sua amiga, por que não me acompanharia?

— Porque não somos amigos.

— Por um lado, você está certa.

— Você foi no enterro dele? — falo mais baixo ainda, me referindo a um dos homens daquela noite, que descobri não ter resistido aos ferimentos.

— Fui.

— De branco?

— Abri uma exceção, ele não merece a paz. — sorrio pequeno, me esquecendo da dúvida que tive agora pouco, achando que ninguém merece morrer.

— Não vão dizer que eu sou louca se sair com você?

— Provavelmente. — arqueia uma sobrancelha.

— Tudo bem. — gaguejo — Aviso a Amélia por mensagem. — ele pega a minha mão, mas não me impede de puxá-la de volta.


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o wattpad insiste em não aceitar a formatação certa dos meus capítulos, eu acabei desistindo. mas dá pra vcs entenderem tudo? quem cala consente, ein.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora