Quando chego em casa, suada e ofegante, corro para o banheiro e tomo o banho mais rápido do mundo. Não ouço nenhum barulho vindo do quarto da minha mãe, e isso mostra que ela realmente resolveu sair. Não faço a mínima ideia dos lugares que ela frequenta quando não está trabalhando.
Não tenho tempo de esperar Amélia, quando saio de casa ela acaba de parar em frente ao meio-fio. Entro no Jeep azul da sua mãe e a primeira coisa na qual reparo são os seus olhos vermelhos, depois no coque desajeitado e nos óculos escuros presos no decote da sua blusa.
Nós chegamos no cemitério e há diversas pessoas espalhadas, todas de preto e chorando. Andamos até uma garota de pele morena e cabelo tingido de ruivo, alta e que deve ter por volta de vinte anos.
— Vay... — elas se abraçam e eu recebo um sorriso forçado.
— Ele continua aqui. — diz, com o nariz da cor do seu cabelo.
— Não perca tempo pensando nele, se despeça da sua irmã e esqueça tudo isso. — a ruiva assente e volta a chorar abraçada a outras pessoas.
— Tem um homem causando um alvoroço aqui. — Amélia sussurra no meu ouvido.
— Por quê?
— Ele veio vestido de branco. — franzo o cenho.
— Não sabia que as pessoas levavam isso tão a sério.
— Também acho que não tem nada demais. Mas ao mesmo tempo é algo desrespeitoso, porque atrapalha aqueles que se importam com isso.
— Vamos começar o enterro? — um homem de terno diz, um pastor. Os choros se intensificam.
Todos se juntam ao redor do caixão, assim como Amélia, que abraça Vay e tenta confortá-la. É estranho não só porque não sei de onde a conhecemos, mas também porque me sinto algum tipo de penetra.
— Oi. — alguém sussurra atrás de mim.
Eu consigo ver a garota no caixão, ela veste um vestido azul escuro e tem a pele morena como a da irmã, está um pouco inchada, mas continua tão magra que posso ver alguns de seus ossos — continua sendo linda. Não sei a causa da sua morte, mas os arranhões embaçados por maquiagem me fazem entender que se tratou de um assassinato. É mais estranho ainda pensar em como alguém pode ser capaz de tirar a vida de outra pessoa.
— Oi. — arfo. Me viro para ver quem me cumprimentou e dou de cara com uma blusa gola V branca, calça jeans clara e sapatos escuros. Se não estivesse num lugar como esses, gritaria.
Ele abaixa os óculos e me olha. Tremo dos pés à cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — controlo a vontade de chorar. Me sinto perseguida e em perigo.
— Oi, Elie. Vim no enterro de uma amiga, e você?
— A sua roupa... Você viu o que está causando à família dela?
— Eu vi, mas sou a única pessoa aqui que está pensando nela de verdade. — não entendo.
Todos ficam em silêncio e ele coloca os óculos de volta.
— Ore, mas ore de verdade e por ela. Ninguém está fazendo isso aqui além dele. — aponta para o pastor.
Quando todos voltam a chorar, eu termino a minha oração e ergo a caeça.
— É estranho vir no enterro de alguém que nem sabe o nome.
— Você a conhecia mesmo? — me refiro à garota morta.
— A Vanessa? — estou com vergonha de ser vista com o homem de branco, mas ninguém nos nota mais — Sim, mas tenho o costume de vir nos enterros aqui, às vezes.
— O quê? Por quê? — ele é mais louco do que eu imaginava.
— Já reparou que sou a única pessoa aqui que não está se lamentando? Qual a verdadeira diferença entre o branco e preto aqui?
Olho ao redor.
— Eu quero que ela finalmente tenha paz, Elie, os outros só estão pensando no quanto sofrem por ela ter morrido.
— Ainda acho você meio louco. — ele ri fraco.
— Daqui a pouco vai ter outro enterro, bem ali. — aponta — Te levo em casa para trocar de roupa, se quiser me acompanhar.
— Está me convidando para um encontro? — depois que falo, sinto certo remorso por achar a piada pesada, limpo a garganta e ignoro o seu sorriso — Você praticamente me sequestrou, quase me abandonou numa floresta, machucou o meu braço e me faz ter pesadelos, por que eu devo ir em um enterro com você?
— Não se esqueça que eu salvei a sua vida. Além disso, eu percebi que você só acompanhou a sua amiga, por que não me acompanharia?
— Porque não somos amigos.
— Por um lado, você está certa.
— Você foi no enterro dele? — falo mais baixo ainda, me referindo a um dos homens daquela noite, que descobri não ter resistido aos ferimentos.
— Fui.
— De branco?
— Abri uma exceção, ele não merece a paz. — sorrio pequeno, me esquecendo da dúvida que tive agora pouco, achando que ninguém merece morrer.
— Não vão dizer que eu sou louca se sair com você?
— Provavelmente. — arqueia uma sobrancelha.
— Tudo bem. — gaguejo — Aviso a Amélia por mensagem. — ele pega a minha mão, mas não me impede de puxá-la de volta.
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o wattpad insiste em não aceitar a formatação certa dos meus capítulos, eu acabei desistindo. mas dá pra vcs entenderem tudo? quem cala consente, ein.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...