O seu rosto se aproxima aos poucos do meu e eu estremeço dos pés à cabeça. As minhas mãos ficam cobertas pelo moletom, e eu as aperto com força. Quando nossas respirações estão entrelaçadas e quase que em sintonia, o meu celular vibra e apita no meu bolso. Arfo e dou um passo para trás.
É uma mensagem de Lukas que diz um simples "Elie", eu espero alguma outra mensagem sua, mas não a recebo.
— É o seu namorado? — olha fixamente para os meus olhos, parecendo sentir um misto de mágoa e raiva.
— Não, nós estudamos juntos e íamos sair juntos, mas ele cancelou tudo com uma desculpa esfarrapada.
Sloan está pronto para se pronunciar quando é interrompido outra vez, isso o faz expirar de forma forte e lenta. Desta vez é uma ligação que me traz receio ao atender.
— Lukas?
— Elie, você... — tosse — é a culpada disso tudo. A culpa é sua.
— De quê? Não entendi. — há um silêncio assustador — Lukas? — então ouço um grito e barulho de coisas caindo no chão e se quebrando, e a chamada tem um fim.
Mantenho o celular no meu ouvido por longos segundos até que a imagem de Sloan me desperte. Quando eu o olho, seus olhos estão como no dia que me encontrou no estacionamento do supermercado. O susto faz com que eu solte o celular e dê um passo para trás, então ele se vira e curva as suas costas.
Depois que arfa e se ergue, Sloan se vira para mim com a expressão séria; ele se abaixa e pega o meu celular caído no chão, antes de entregá-lo para mim e desviar o olhar para longe.
Os olhos, agora "normais", sem o preto assustador de segundos atrás, nem se dirigem a mim.
— O que foi isso?
Eu me convenci de que o que eu vi era apenas um reflexo, mas agora é óbvio que não foi isso o que fiz.
— Vamos, vou te levar para casa. — me puxa pela mão até a moto e sobe na mesma antes de me obrigar a subir.
— O que está acontecendo? Como você fez aquilo, Sloan? — o meu coração está desesperado, mas o que sinto não é só susto ou surpresa, é como se seus olhos fossem familiares demais para mim, como se eu já tivesse os visto anos atrás.
Sloan não me responde outra vez, apenas arranca com a moto e sai, sem esperar que eu arrume o capacete na minha cabeça.
Ele vai mais rápido do que nas outras duas vezes, a ponto de atrairmos olhares reprovadores das pessoas que passam pelas ruas. Estou assustada e não entendo o motivo dessa sua reação. Aperto-o com força, com um medo absurdo de cair.
— Sloan! — ele finge não me ouvir e o xingo mentalmente.
Em poucos minutos nós chegamos em casa, ele espera que eu desça sem nem desligar a moto, e quando o faço, não me espera tirar o capacete para falar.
— Não saia de casa outra vez, pelo menos hoje. — franzo o cenho.
— Quê? Olha, você está começando a me parecer louco até demais.
Está a ponto de dar a partida, mas algo que me sufoca por dentro faz com que eu grite para que não vá ainda.
— Eu estou com seu capacete e sua blusa. — digo.
— Eu vou voltar. — a sua resposta faz com que eu sinta certa paz e euforia ao mesmo tempo.
— Você vai responder as minhas perguntas? — ele balança a cabeça, não sei o que quer dizer mas nem tenho tempo de perguntar porque ele parte sem dizer adeus.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...