Capítulo nove

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O seu rosto se aproxima aos poucos do meu e eu estremeço dos pés à cabeça. As minhas mãos ficam cobertas pelo moletom, e eu as aperto com força. Quando nossas respirações estão entrelaçadas e quase que em sintonia, o meu celular vibra e apita no meu bolso. Arfo e dou um passo para trás.

É uma mensagem de Lukas que diz um simples "Elie", eu espero alguma outra mensagem sua, mas não a recebo.

— É o seu namorado? — olha fixamente para os meus olhos, parecendo sentir um misto de mágoa e raiva.

— Não, nós estudamos juntos e íamos sair juntos, mas ele cancelou tudo com uma desculpa esfarrapada.

Sloan está pronto para se pronunciar quando é interrompido outra vez, isso o faz expirar de forma forte e lenta. Desta vez é uma ligação que me traz receio ao atender.

— Lukas?

Elie, você... — tosse — é a culpada disso tudo. A culpa é sua.

— De quê? Não entendi. — há um silêncio assustador — Lukas? — então ouço um grito e barulho de coisas caindo no chão e se quebrando, e a chamada tem um fim.

Mantenho o celular no meu ouvido por longos segundos até que a imagem de Sloan me desperte. Quando eu o olho, seus olhos estão como no dia que me encontrou no estacionamento do supermercado. O susto faz com que eu solte o celular e dê um passo para trás, então ele se vira e curva as suas costas.

Depois que arfa e se ergue, Sloan se vira para mim com a expressão séria; ele se abaixa e pega o meu celular caído no chão, antes de entregá-lo para mim e desviar o olhar para longe.

Os olhos, agora "normais", sem o preto assustador de segundos atrás, nem se dirigem a mim.

— O que foi isso?

Eu me convenci de que o que eu vi era apenas um reflexo, mas agora é óbvio que não foi isso o que fiz.

— Vamos, vou te levar para casa. — me puxa pela mão até a moto e sobe na mesma antes de me obrigar a subir.

— O que está acontecendo? Como você fez aquilo, Sloan? — o meu coração está desesperado, mas o que sinto não é só susto ou surpresa, é como se seus olhos fossem familiares demais para mim, como se eu já tivesse os visto anos atrás.

Sloan não me responde outra vez, apenas arranca com a moto e sai, sem esperar que eu arrume o capacete na minha cabeça.

Ele vai mais rápido do que nas outras duas vezes, a ponto de atrairmos olhares reprovadores das pessoas que passam pelas ruas. Estou assustada e não entendo o motivo dessa sua reação. Aperto-o com força, com um medo absurdo de cair.

— Sloan! — ele finge não me ouvir e o xingo mentalmente.

Em poucos minutos nós chegamos em casa, ele espera que eu desça sem nem desligar a moto, e quando o faço, não me espera tirar o capacete para falar.

— Não saia de casa outra vez, pelo menos hoje. — franzo o cenho.

— Quê? Olha, você está começando a me parecer louco até demais.

Está a ponto de dar a partida, mas algo que me sufoca por dentro faz com que eu grite para que não vá ainda.

— Eu estou com seu capacete e sua blusa. — digo.

— Eu vou voltar. — a sua resposta faz com que eu sinta certa paz e euforia ao mesmo tempo.

— Você vai responder as minhas perguntas? — ele balança a cabeça, não sei o que quer dizer mas nem tenho tempo de perguntar porque ele parte sem dizer adeus.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora