Capítulo vinte e dois

16.5K 1.5K 228
                                    

  A Amélia se apressou e chegou aqui o mais rápido que pôde, mesmo não estando lá em suas melhores condições, e Nico finalmente contou sobre tudo o que acontece com ele. Ela me ajudou a alimentá-lo — com comida normal —, a limpá-lo e vesti-lo, e no final ele já estava mais calmo. O casal está andando feliz pelo jardim, trocando beijos e confissões, já que a morena não entende tudo muito bem.

  Eu estou sentado nos degraus que ficam em frente à porta de entrada para a minha casa, os observando e assegurando que Nicolas não surte outra vez, é uma tortura ter que vê-los tão felizes enquanto tenho que ficar longe dela. Eles podiam pelo menos fingir que não está tudo, finalmente, no caminho certo para os dois.

  — Vai ficar sentado aí? — Jess interrompe os meus pensamentos quando se senta ao meu lado.

  — Hum?

  — Você está sendo uma lanterna. — franzo o cenho, sem entender — Lanterna, sabe? — faz gestos com as mãos enrugadas.

  — Você quer dizer vela? — rio fraco.

  — Sim, isso mesmo. — ela acena com uma mão como se fosse a mesma coisa.

  — Ah... Eu estou aqui porque ele pode se descontrolar de novo e... — começo a dizer, vendo os dois rirem perto de uma pequena árvore enquanto Amélia zomba de Nico e ele finge mordê-la. É uma cena tão melosa e estúpida que eu não consigo acreditar que aquele é mesmo o meu amigo, e eu nunca odiei tanto o que a mulher ao meu lado fez com o jardim (o deixou o mais romântico possível).

  — Ele não vai se descontrolar, meu filho. Vá fazer algo que jovens normais da sua idade fazem.

  — Eu sou normal? — ergo uma sobrancelha e é a vez dela rir.

  — Então faça algo que jovens estranhos da sua idade.

  — Ameaçar pessoas? Ver a minha namorada escondido? Controlar amigos com tendências canibais? Procurar uma bruxa estranha que ferrou com a minha vida séculos atrás? — resmungo.

  — Bom, faça a menos estranha.

  — Eu quero vê-la, Jessie, mas não sei se depois vou conseguir ficar longe.

  — Você conseguiu por o quê? Dezoito anos? Você consegue agora também, mas, se não der certo, é só dizer que a culpa é da maldição. — se aproxima e beija a minha bochecha, eu me afasto um pouco, incomodado, mas ela não se abala por já estar acostumada.

  Eu rodeio os ombros de Jessica com um braço e ela me aperta da mesma forma antes de se levantar e voltar para dentro da casa. Essa senhora é o mais próximo que tenho de mãe, já que eu mal tenho lembranças da mulher que me deu a luz, já que ela se afastou de mim antes da hora, por motivos que eu mal conheço.

  O meu pai semeia raiva de mim desde que, no meio da sua gravidez, a minha mãe fugiu porque ele queria me matar por um motivo óbvio — tentar impedir a maldição. Ele me culpa pela sua morte e eu espero que o ódio passe, por mais que saiba que é algo quase impossível de acontecer.

  Meu olhar acaba caindo na rua que fica do outro lado do portão, e eu me lembro de ontem, quando o carro de Elie estava ali e ela estava ansiosa. Quando ouço, de repente, risadas, eu me assusto e olho para o casal outra vez, acabo me lembrando de anos atrás, quando eu me sentei ao seu lado num banco e me senti melhor do que em muito tempo apenas por estar ao lado dela.


"Quase quatro anos atrás

  Eu e Nico estamos sentados em um banco de cimento enquanto uma quantidade boa de pessoas passa por nós. O banco é grande o suficiente para que caiba nós dois e uma garota desconhecida, que olha de lado para o meu amigo esperando ser notada.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora