A Amélia se apressou e chegou aqui o mais rápido que pôde, mesmo não estando lá em suas melhores condições, e Nico finalmente contou sobre tudo o que acontece com ele. Ela me ajudou a alimentá-lo — com comida normal —, a limpá-lo e vesti-lo, e no final ele já estava mais calmo. O casal está andando feliz pelo jardim, trocando beijos e confissões, já que a morena não entende tudo muito bem.
Eu estou sentado nos degraus que ficam em frente à porta de entrada para a minha casa, os observando e assegurando que Nicolas não surte outra vez, é uma tortura ter que vê-los tão felizes enquanto tenho que ficar longe dela. Eles podiam pelo menos fingir que não está tudo, finalmente, no caminho certo para os dois.
— Vai ficar sentado aí? — Jess interrompe os meus pensamentos quando se senta ao meu lado.
— Hum?
— Você está sendo uma lanterna. — franzo o cenho, sem entender — Lanterna, sabe? — faz gestos com as mãos enrugadas.
— Você quer dizer vela? — rio fraco.
— Sim, isso mesmo. — ela acena com uma mão como se fosse a mesma coisa.
— Ah... Eu estou aqui porque ele pode se descontrolar de novo e... — começo a dizer, vendo os dois rirem perto de uma pequena árvore enquanto Amélia zomba de Nico e ele finge mordê-la. É uma cena tão melosa e estúpida que eu não consigo acreditar que aquele é mesmo o meu amigo, e eu nunca odiei tanto o que a mulher ao meu lado fez com o jardim (o deixou o mais romântico possível).
— Ele não vai se descontrolar, meu filho. Vá fazer algo que jovens normais da sua idade fazem.
— Eu sou normal? — ergo uma sobrancelha e é a vez dela rir.
— Então faça algo que jovens estranhos da sua idade.
— Ameaçar pessoas? Ver a minha namorada escondido? Controlar amigos com tendências canibais? Procurar uma bruxa estranha que ferrou com a minha vida séculos atrás? — resmungo.
— Bom, faça a menos estranha.
— Eu quero vê-la, Jessie, mas não sei se depois vou conseguir ficar longe.
— Você conseguiu por o quê? Dezoito anos? Você consegue agora também, mas, se não der certo, é só dizer que a culpa é da maldição. — se aproxima e beija a minha bochecha, eu me afasto um pouco, incomodado, mas ela não se abala por já estar acostumada.
Eu rodeio os ombros de Jessica com um braço e ela me aperta da mesma forma antes de se levantar e voltar para dentro da casa. Essa senhora é o mais próximo que tenho de mãe, já que eu mal tenho lembranças da mulher que me deu a luz, já que ela se afastou de mim antes da hora, por motivos que eu mal conheço.
O meu pai semeia raiva de mim desde que, no meio da sua gravidez, a minha mãe fugiu porque ele queria me matar por um motivo óbvio — tentar impedir a maldição. Ele me culpa pela sua morte e eu espero que o ódio passe, por mais que saiba que é algo quase impossível de acontecer.
Meu olhar acaba caindo na rua que fica do outro lado do portão, e eu me lembro de ontem, quando o carro de Elie estava ali e ela estava ansiosa. Quando ouço, de repente, risadas, eu me assusto e olho para o casal outra vez, acabo me lembrando de anos atrás, quando eu me sentei ao seu lado num banco e me senti melhor do que em muito tempo apenas por estar ao lado dela.
"Quase quatro anos atrás
Eu e Nico estamos sentados em um banco de cimento enquanto uma quantidade boa de pessoas passa por nós. O banco é grande o suficiente para que caiba nós dois e uma garota desconhecida, que olha de lado para o meu amigo esperando ser notada.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...